terça-feira, julho 08, 2014

Portugal ruma ao desenvolvimento

Hoje fomos tomados pelo entusiasmo ao ouvir o Sr. Primeiro-ministro anunciar, baseando-se num estudo encomendado pelo seu governo à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que afinal as desigualdades na distribuição do rendimento assim como os índices de pobreza relativa, estavam a diminuir. Boas notícias! Se considerarmos ainda a notícia menos recente da diminuição na taxa de desemprego, tudo indicia então que o desenvolvimento chegou ao País. Caramba! Afinal o neoliberalismo é coisa boa e contribui para o desenvolvimento. E julgávamos nós que estávamos a empobrecer, a ficar socialmente cada vez mais desiguais e que a diminuição da taxa de desemprego se devia há recente hemorragia emigratória de desempregados, que superou a dos anos 60.

Fomos ver, e... pasmo!

O tal relatório da OCDE intitulado, Portugal, Consolidação da Reforma Estrutural para o Apoio ao Crescimento e Competitividade, Julho de 2014, refere logo no prefácio do Sr. Angel Gurría (3ª frase) que “Portugal conseguiu reduzir a desigualdade na distribuição do rendimento e conter o aumento da pobreza, apesar de passar por uma grave crise, com níveis recorde de desemprego.”

Depois de esfregarmos os olhos, fomos ver melhor à página 9 do dito relatório e lá diz:

De acordo com o coeficiente de Gini entre 2007 e 2012, Portugal sofreu, de forma efetiva, o segundo maior decréscimo ao nível da desigualdade na distribuição dos rendimentos da União Europeia, (Figura 6). Contudo, a melhoria na distribuição do rendimento concentrou-se no período de 2007 a 2009. Desde então, a desigualdade pouco variou, mantendo-se estagnada num nível elevado (o sexto mais elevado da OCDE). A taxa de pobreza relativa também desceu de forma acentuada neste período, uma conquista que o País conseguiu manter durante a crise apesar do difícil ambiente económico (Figura 7).” (os destaques e sublinhados são nossos)

Fomos ver os gráficos: referem-se no título, a alterações no coeficiente de Gini e da taxa de pobreza relativa, no período 2007-2011. Além disso saliente-se que segundo o relatório: “a melhoria na distribuição do rendimento concentrou-se no período de 2007 a 2009.

Que desilusão! O presente governo assumiu funções em meados de 2011. O período a que se refere o relatório, no que respeita à variação do coeficiente de Gini e à variação do índice de pobreza relativa, abrange, quanto muito, os primeiros 6 meses da sua actuação, contudo, a informação foi apresentada nos órgãos de comunicação social, de tal forma, que esses “êxitos” parecem ser da sua lavra. É no que dá um relatório feito de encomenda.

Nos discursos do primeiro-ministro e do Sr. Angel Gurría omitiu-se oportunamente o facto de a melhoria na distribuição do rendimento se ter concentrado no período de 2007 a 2009 e que o nível de desigualdade de rendimentos é ainda “o sexto mais elevado da OCDE”.

O cinismo desta gente é de bradar aos céus.

O referido relatório pode ser consultado AQUI.

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