sábado, agosto 02, 2014

Como é que a entidade reguladora não percebeu a existência do “buracão” no BES?

Perguntava hoje a pivot da SIC, Maria João Ruela, ao comentador Marques Mendes: como é que ninguém percebeu que a dívida do banco tenha chegado a este valor? E acrescentamos nós: como é que os auditores não deram por ela? Como é que as entidades reguladoras não viram? Como é que o líder do suposto principal partido da oposição confiou e não desconfiou? Não sabiam eles já de uma prática comum por parte das empresas de auditoria aos bancos auditados?

Ainda que se trate de um livro cheio de hinos laudatórios ao credo mercantil, tendo a verdade sido deixada para notas de rodapé, O Declínio do Ocidente, de Niall Ferguson, lá explica, na transição da página 84 para a 85, fazendo uso parcial de uma metáfora:

Espera-se da regulação que reduza o número e grandeza de incêndios florestais. E, no entanto, ela pode, como já vimos, ter exactamente o efeito contrário. Acontece assim porque o próprio processo político é, em si, também bastante complexo. As entidades reguladoras podem ficar reféns daqueles que deveriam regular, não menos pela expectativa de empregos bem pagos, no caso de o guarda-florestal decidir transformar-se num caçador furtivo. Há outras formas de se tornarem reféns. Por exemplo, quando dependem das organizações que tutelam para obter os próprios dados de que necessitam para o seu trabalho.
Niall Ferguson, O Declínio do Ocidente, Como as Instituições se Degradam e a Economia Morre, D. Quixote. 2014, pp. 84-85 (ênfase nossa).

Seremos todos anjinhos?

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