terça-feira, agosto 04, 2009

As férias de Cavaco

O nosso Presidente foi de férias. Foi de férias, alto lá! Leva trabalho que daria para encher um jipe. No seu pedagógico anúncio à nação (como parece pretender que sejam todos os seus professorais anúncios) parece sentir relutância ou pudor em afirmar que não vai fazer a ponta de um corno. Não. Leva trabalho e que trabalho! Pois eu gostaria de ter um presidente que afirmasse sem vergonha que vai aproveitar as suas férias para descansar, para reflectir sobre o mundo, para pôr a sua leitura em dia (caso goste de ler algo mais do que técnicos cartapácios legais) ou para recitar poesia. Será que está imbuído da ética protestante e do espírito do capitalismo? É verdade que visitou a Áustria recentemente, berço de neoliberais, terra de Schumpeters e Hayeks. É também verdade que o trabalho dignifica (quando não escraviza). Mas nas férias? Mais vale reconhecer que não vai de férias. É que nós portugueses quando nos preparamos alegremente para ir de férias, lá vêm os anúncios da imprensa lembrar-nos de que somos o povo (ou um dos povos) que menos trabalha na Europa, que temos mais feriados do que os outros, que a nossa produtividade é baixa, etc. Em suma, somos todos uns mandriões que, se calhar, nem merecíamos ir de férias. Querem que trabalhemos como um alemão, um austríaco ou um japonês? Pois que trabalhem eles, que nós somos latinos. Nisto estou com Agostinho da Silva: ainda que o trabalho liberte (como diziam os outros maldosamente– arbeit macht frei), prefiro libertar-me do trabalho.

Boas férias Sr. Presidente.

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