terça-feira, julho 30, 2013

Foi o PS. É bom que se saiba, é bom que não se esqueça.

"Toda a oposição se prontificou a enviar os dois diplomas [as propostas de lei que alteram o período de trabalho dos funcionários públicos para 40 horas semanais sem qualquer acréscimo remuneratório, assim como o denominado "regime de mobilidade especial na administração pública"] para apreciação do Tribunal Constitucional, com especial realce para o PS que, na sua última passagem pelo Governo, desmantelou as carreiras na Administração Pública e substituiu o regime de nomeação definitiva pelo regime de contrato de trabalho em funções públicas. Foi o PS que criou as condições que possibilitaram a este Governo avançar sobre os funcionários públicos."
Filipe Tourais
(os destaques são nossos)

N’O Vento que Passa e n’O País do Burro

O PS lavrou o terreno, preparou-o para que o PSD e o CDS pudessem nele semear e colher. Os funcionários públicos estão agora prontos para serem ceifados e alimentar dessa forma as colheitas de desempregados que se acumulam de ano para ano.

E assim se dá prioridade à criação de emprego (dizem eles), desempregando. É fantástico.

sábado, julho 27, 2013

O caminho para a Islândia

A Islândia é um país curioso. Depois da falência dos bancos e do crescimento galopante do desemprego, da recessão e da dívida, levou menos de três anos a voltar à prosperidade, com um cocktail de medidas certas, esforço e bom senso.
A Islândia é um país curioso. Não há receio em levar a tribunal os políticos suspeitos de transgressões graves ou desastrosas.
(…)
Sondagens feitas no país mostram que os islandeses pretendiam sobretudo, que o julgamento servisse para duas coisas: como aviso aos políticos, para que não entendessem que só estavam sujeitos ao juízo das urnas, sempre impreciso nas sanções, e para que se expusesse a verdade sobre a falência de todos os grandes bancos nacionais, num curto espaço de tempo, sem alertas nem preparação.
(…)
Em suma, cada povo deve encontrar o seu caminho para a Islândia. Pode levar tempo. Mas é inevitável. Não se trata de pedir culpados à história, mas de evitar que o mal se repita. E de fazer justiça. A temporária, provisória, imperfeita, mas necessária justiça dos homens. “

Nuno Rogeiro (2013), A Corda do Enforcado, Análise Política das Críses (2017 -2013), D. Quixote, pp. 186, 187 e 188. (destaques nossos)


Palavras hoje lidas, do insuspeito “libertário já idoso, nacionalista, revolucionário, católico e republicano” Nuno Rogeiro. 

O povo não sabe onde é a Islândia


"Ao desprezar o factor BPN quando faz as suas escolhas, o que acontece pela segunda vez, o primeiro-ministro despreza também os contribuintes espoliados por essa fraude gigantesca até agora impune."

Fernando Madrinha, Expresso, 27 de Julho de 2013

Pois é assim que este contribuinte se sente: espoliado. Cada vez mais convencido de que é governado por um bando de cleptocratas, velhas famílias e oligarquias, que na falta das "especiarias da Índia, do ouro do Brasil, da riqueza das colónias, ou da generosidade europeia" (como refere outro cronista do mesmo jornal) vira-se para o último recurso que lhes resta: os parcos rendimentos da maioria dos contribuintes, seus conterrâneos.

Cada vez mais me convenço que só uma revolução à islandesa pode acabar com esta impunidade. Mas o povo não sabe onde é a Islândia.

Interlúdio barroco

       Antonio Canal, Vista de um jardim através de uma colunata barroca, (1760-1768)

sexta-feira, julho 26, 2013

É um papa pop

É disto que a minha gente gosta. Qual papa intelectual, qual carapuça. Um papa pop. É um papa pop.

Férias

Este é o país em que a contestação vai de férias, para regressar em Setembro, em força. Não é uma contestação genuína portanto.

Os decisores políticos há muito que se aperceberam disso (Sócrates era um perito), e vai daí, aproveitam a dormência e a lassidão dos governados para concretizar as medidas mais lesivas para estes e que seriam mais onerosas politicamente para quem as toma, caso fossem concretizadas noutro momento. Há que aproveitar, enquanto a turba está distraída ou vai a banhos, o rigor da canícula.

segunda-feira, julho 22, 2013

Cavaco, a imagem e o que se esconde por detrás dela

Há muito que o Presidente Cavaco Silva denota uma extrema preocupação com a imagem (efectivamente, estamos no século da imagem e uma imagem vale por mil palavras, mas as imagens também iludem, na medida em que, como escreveu Magritte ante a imagem de um cachimbo que ele mesmo pintou: “Ceci n'est pas une pipe. Pois não, a imagem de um cachimbo não é um cachimbo, ou por outras palavras, as imagens podem ser uma representação da realidade, mas não são a própria realidade). Pois bem, a preocupação com a imagem está omnipresente nas mensagens e nos discursos do Presidente, que parece sofrer da síndroma “o-que-irão-os-outros-pensar-de-nós-se-dermos-esta-imagem” quando deveria ser, “o-que-irá-ser-de-nós-se-persistirmos-neste-rumo”. A preocupação deveria incidir no “ser” e não no “parecer”, na realidade e não nas aparências.

Se atentarmos na sua comunicação ao país no dia 10 de Julho de 2013, lá está ela, a imagem, logo na segunda frase: “Os efeitos fizeram-se sentir de imediato no aumento das taxas de juro e na deterioração da imagem externa de Portugal”.

Já na comunicação do dia 21 de Julho, a preocupação com a imagem não aparece no discurso de forma explícita, mas sim de forma implícita, na frase: “Aos agentes económicos e aos parceiros sociais, aos investidores nacionais e estrangeiros, às instituições internacionais e aos nossos parceiros da União Europeia, daríamos a perspetiva, num horizonte temporal alargado, de que somos um País dotado de estabilidade política, que segue uma estratégia coerente de desenvolvimento sustentável.” Cá está: é preciso dar a perspectiva - ou seja, dar a imagem -, é preciso causar boa impressão, é preciso transmitir uma imagem credível de que “somos um País dotado de estabilidade política”, ainda que a realidade o desminta.

Outra frase do mesmo discurso que denota o mesmo tipo de preocupação é a seguinte: “Dispondo o Executivo do apoio de uma maioria parlamentar inequívoca, como recentemente se verificou, deve ficar claro, aos olhos dos Portugueses e dos nossos parceiros europeus, que Portugal é um país governável. Mais uma vez, a imagem, pois que outra coisa poderia apresentar-se clara aos olhos, que não uma imagem?

É preciso manter as aparências.

O problema é a realidade.

Neoliberalismo e democracia

But the great number [of the Athenian Assembly] cried out that it was monstrous if the people were to be prevented from doing whatever they wished... Then the Prytanes, stricken with fear, agreed to put the question-all of them except Socrates, the son of Sophroniscus; and he said that in no case would he act except in accordance with the law.
Xenophon
Tradução:
Mas a maioria [da Assembleia Ateniense] clamou que seria monstruoso se o povo fosse impedido de fazer tudo o que desejava…Então o Prítanes, acometido pelo medo, concordou em colocar a questão – todos eles excepto Sócrates, o filho de Sofronísco; e ele disse que em caso algum actuaria excepto se fosse de acordo com a lei.

Xenofonte, Helénicas
(tradução nossa)

É com a citação de Xenofonte (431 a.C. – 355 a.C.) em epígrafe, que o austríaco Friedrich von Hayek, um dos papas do neoliberalismo, começa por visar criticamente a democracia num dos subcapítulos da obra The Political Order of a Free People (1979). O subcapítulo intitula-se “A progressiva desilusão com a democracia”. O recurso a Xenofonte, um fervoroso discípulo de Sócrates, não é despiciendo. Hayek procura apoio e patrocínio num dos filósofos mais sábios da antiga Grécia, para proceder a uma crítica à democracia - nas palavras de Churchill, a pior forma de governo, à excepção de todos as outras. Com efeito, se a democracia directa não for regrada, então todas as questões e decisões antipopulares não passarão na Assembleia, encontrando a oposição da maioria. O problema é quando, nas actuais democracias representativas, a maioria decide legislar contra o povo que a elegeu, e que era suposto representar, dizemos nós. Não é de espantar que o neoliberal Hayek critique a democracia neste ponto, na medida em que esta forma de governo, como sabemos hoje, não é o melhor terreno para o exercício das políticas neoliberais. A comprová-lo está o facto de a aplicação pioneira deste tipo de políticas ter ocorrido sob os auspícios do regime tirânico do general Pinochet, no Chile.


A democracia é um escolho no caminho dos que querem impor a via neoliberal aos povos que dirigem. Não admira que queiram suspendê-la.

***

O primeiro parágrafo da obra supracitada de Hayek reza assim:

When the activities of modern government produce aggregate results that few people have either wanted or foreseen this is commonly regarded as an inevitable feature of democracy. It can hardly be claimed, however, that such developments usually correspond to the desires of any identifiable group of men. It appears that the particular process which we have chosen to ascertain what we call the will of the people brings about results which have little to do with anything deserving the name of the 'common will' of any substantial part of the population.
Friedrich von Hayek (1979) - The Political Order of a Free People

Tradução:

Quando as actividades do moderno governo produzem resultados agregados que poucas pessoas desejavam ou previram, isso é comummente considerado como uma característica inevitável da democracia. Dificilmente se pode afirmar, contudo, que tais desenvolvimentos usualmente correspondem aos desejos de um grupo identificável de homens. Parece que o processo particular que escolhemos para determinar o que podemos chamar a vontade do povo traz resultados que pouco têm a ver com qualquer coisa que mereça o nome de “vontade comum” de qualquer parte substancial da população.
Friedrich von Hayek (1979) - The Political Order of a Free People
(tradução e sublinhados nossos)

Ao contrário do que refere Hayek, julgamos que hoje existe um grupo identificável, não maioritário, que quer impor as suas políticas, desígnios, desejos e interesses aos demais, contra a vontade destes e para benefício daqueles. E com efeito é possível consegui-lo. Basta ter o poder para suspender a democracia.

domingo, julho 21, 2013

O assalto às democracias

A inadaptação das democracias à globalização neoliberal é cada vez mais evidente. Ao invés, as ditaduras pardas onde reinam os testas de ferro, as nomenklaturas e as famílias de oligarcas, encontram na globalização desregulada um solo fértil para o seu florescimento. O mundo aberto, livre de qualquer regulação tornou-se a sua coutada. As democracias baixaram as suas guardas. Assistimos impotentes às incursões de oligarcas russos, angolanos e chineses – para não falarmos dos monarcas árabes, entre outros – que chegam e tudo compram – terrenos, obras de arte, clubes de futebol, bancos, outras empresas privadas, empresas públicas e monopólios naturais entretanto colocados à venda por elites governativas coniventes, corruptas e corrompidas... É assim que os oligarcas lavam o dinheiro sujo proveniente do roubo que todos os dias realizam aos seus povos através da exploração monopolista dos recursos naturais dos países onde reinam. Eles parecem conhecer melhor do que ninguém as vulnerabilidades das democracias, que não desenvolveram sistemas imunitários capazes de as defenderem num contexto de globalização.

sábado, julho 20, 2013

Palavra de honra

“Apesar da crise” as pessoas vão a concentrações de 'motards'; “apesar da crise”, as pessoas vão a festivais de Verão e a concertos; “apesar da crise”, as pessoas vão de férias; “apesar da crise” as pessoas vão à feira; “apesar da crise”, as pessoas vão à praia; “apesar da crise”, as pessoas vão abanar o traseiro para os bailes de Verão; “apesar da crise”, as pessoas respiram; “apesar da crise”, as pessoas vivem. Caramba! Há vida apesar da crise!

Palavra de honra que farei zapping sempre que passe uma reportagem idiota no telejornal que tenha no preâmbulo do pivot, ou no meio, a expressão “apesar da crise”. Palavra de honra! Irra!

Finou-se a “salvação nacional”

A pobre durou pouco mais de uma semana. Mas não foi uma morte qualquer. Foi uma morte comunicada à sexta-feira, já após o fecho dos mercados, não fossem eles assustar-se. Anda muita coisa a acontecer  ser comunicada ao final das sextas-feiras à tarde… A bola está agora com o Presidente da República. Muito provavelmente retirará um coelho da cartola, antes da abertura dos mercados (ou será que retira ainda o  Passos Coelho? É o mais provável.). Aguardemos.

Perpétuo Oceano

quinta-feira, julho 18, 2013

Um avião perdido na serra algarvia


Um avião perdido na serra algarvia. Dei com ele no Google Earth, por acaso. Devia estar a preparar-se para aterrar em Faro. Ficam as coordenadas geográficas para quem o quiser encontrar, enquanto não actualizarem a imagem.

quarta-feira, julho 17, 2013

Nem o Estado é uma máquina de lavar, nem nós somos os glutões do Presto

O BPN passou pelo Estado como uma peça de roupa suja passa por uma máquina de lavar. A “máquina” lavou o BPN, mas a sujidade ficou entranhada na “máquina” e os contribuintes ficaram com a porcaria da despesa. Mas houve quem ficou a ganhar e muito, com toda a operação. E assim se tornou pública uma dívida que não o era. Os ditos partidos do “arco da governação” são os responsáveis por toda a operação. Uns pela nacionalização, outros pela privatização. No fim, ficou tudo em família: uma verdadeira cosa nostra.

Por estranho que pareça, as leis do mercado concorrencial não se aplicam aos bancos. Não podem falir (dizem eles), ao contrário de qualquer outra empresa ineficiente.

Os que pensam o mundo

No dia 24 de Abril deste ano, a revista Prospect publicou um ranking dos pensadores de 2013, de acordo com um inquérito realizado em mais de 100 países, tendo sido inquiridas mais de 10 000 pessoas.

Inspirado por tal inquérito, realizei o meu próprio ranking, sobre aqueles que considero os mais lúcidos pensadores vivos – em particular, os que pensam o mundo. Da lista excluí os políticos (embora ouça a voz de Fidel Castro com atenção, assim como a de Nelson Mandela), e os padres (onde incluiria Ratzinger). Ideologicamente não concordo com alguns, mas reconheço-lhes autoridade e idoneidade suficiente para que o seu pensamento seja considerado entre os mais lúcidos e a sua voz escutada.

Ranking:
 
1. David Harvey (Geógrafo)
2. Zygmunt Bauman (Sociólogo)
3. George Steiner (Crítico Literário, Filósofo)
4. Peter Sloterdijk (Filósofo)
5. Edward Soja (Geógrafo)
6. Giorgio Agamben (Filósofo)
7. Manuel Castells (Sociólogo)
8. Richard Dawkins (Biólogo)
9. Ignacio Ramonet (Sociólogo, Jornalista)
10. Ulrich Beck (Sociólogo)
11. Jared Diamond (Geógrafo)
12. David Landes (Historiador)
13. José Gil (Filósofo)
14. Francis Fukuyama (Cientista Político)
15. Boaventura de Sousa Santos (Sociólogo)
16. Mario Vargas Llosa (Escritor)
17. Adriano Moreira (Cientista Político)
18. Felipe Fernandez-Armesto (Historiador)
19. Eduardo Lourenço (Filósofo)
20. Paul Krugman (Economista)
21. Slavoj Zizek (Filósofo)
22. Georges Lipovetsky (Filósofo)
23. Niall Ferguson (Historiador)
24. Thomas Friedman (Jornalista)


terça-feira, julho 16, 2013

Perenes as sirenes

Perenes as sirenes
Que ousam soar.

Nas fábricas abandonadas
Em ruinosas debandadas,
Permanecem deslocadas,
As sirenes olvidadas.

Honrados desempregados
Aguardam humilhados.

Homens descartados,
Sós, desvalorizados.
Vendidos e comprados,
Em todos os mercados.

domingo, julho 14, 2013

.

       Mural de Kenny Scharf, Nova Iorque

sexta-feira, julho 12, 2013

X-47B

Steve Helber / Associated Press

Voa sozinho. Aterra sozinho. Meio caminho andado para matar sozinho.

Como reza um velho provérbio chinês: todas as grandes caminhadas começam com um pequeno passo.

O passo foi dado. (Post sriptum: talvez já tenha sido dado há muito tempo.)

(O X-47BJá tínhamos dado por ele.)

quinta-feira, julho 11, 2013

Portugal: um "exemplo de sucesso" a precisar de "salvação nacional"

Há aqui qualquer coisa que não bate certo, ou então bate. Na óptica dos credores Portugal é apresentado como um "exemplo de sucesso", pois então, desde que pague, e quanto mais elevados os juros, melhor. Na óptica do devedor, e enquanto povo escravo da impagável dívida, precisamos de uma "salvação nacional".

Idiotas são aqueles que, entre nós, se orgulham desmedidamente quando ouvem dizer lá fora que somos um caso de sucesso e o anunciam aos quatro ventos.

Ao contrário do que afirma José Gomes Ferreira

Neste momento o Estado não é o problema, é a solução. O problema é continuar a colocar o Estado de um lado e a economia do outro, como se o Estado não fizesse parte da economia. O dualismo entre Estado e  economia constitui um enviesamento na visão e no discurso de muitos comentadores e jornalistas como José Gomes Ferreira e outros devotos dos mercados. Em suma, partem de uma falácia.

quarta-feira, julho 10, 2013

A ditadura dos mercados

O Presidente na sua comunicação de hoje ao País, brandiu vários argumentos, um dos quais a necessidade de mobilizar em 2014, 14 mil milhões de euros para pagar aos credores por dívidas contraídas no passado. Precisamos de empréstimos para pagar dívidas, ou seja, precisamos de continuar a endividar-nos.

Não se suspendem portanto as transferências das "parcelas dos empréstimos que nos foram concedidos", suspende-se a possibilidade de eleições antecipadas a breve trecho.

Ainda que a realização de eleições não equivalha necessariamente a democracia (no Estado Novo, por exemplo, haviam eleições), podemos concluir que a democracia não está a ser respeitada nesta história pois os nossos credores não são favoráveis a que os eleitores se pronunciem. E os credores falam mais alto do que os eleitores aos ouvidos do Presidente.

O Presidente deseja a minimização dos antagonismos* inerentes à própria dinâmica democrática, para evitar a ira dos mercados, que, segundo afirma, colocaria os portugueses perante a iminência de mais “duros sacrifícios”. Para ele o ideal será trazer o maior partido da oposição para a esfera da governação, juntando-o em acordo de "salvação nacional" ao CDS e ao PSD. Para ele o ideal será limitar as vozes incómodas aos dois partidos minoritários da oposição.

Como é evidente, neste momento estamos sob uma nova forma de ditadura: a ditadura dos mercados.

Quem nos garante que uma semana antes das eleições, ou da saída da troika de Portugal, os juros da dívida portuguesa a dez anos não dispararão novamente para taxas superiores a 7,5% e a bolsa não se afundará? Suspenderemos então a realização das eleições?

Manda a situação que prevaleça o bom senso.

Mas não será uma insensatez prosseguir neste rumo? Onde queremos chegar?

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(*) Nota: antagonismo (luta entre inimigos); agonismo (luta entre adversários).

Impalas voadoras

      Aepyceros melampus, Parque  Kruger, África do Sul          Foto: Barcroft Media/Abaca

PS - Um destes impalas em fuga,  refugiou-se num automóvel. Ver AQUI.

terça-feira, julho 09, 2013

Dilemas

«Cícero (106 a.C. – 43 a.C.) viveu um dos períodos mais gloriosos e perigosos da história. Por todo o mundo romano, os homens tiveram de enfrentar o maior dos problemas políticos, nomeadamente, como viver simultaneamente em paz e liberdade. À maioria dos romanos parecia, durante o transcendental meio século que precedeu à queda da República e ao triunfo de Augusto, que se tinha de escolher entre esses dois bens políticos, ambos da maior importância.

Pode-se ter liberdade, mas para isso há que sacrificar a paz. Inevitavelmente surgiriam conflitos, assim parecia, entre homens que eram livres para perseguir os seus objectivos próprios e divergentes. Também se podia ter paz, mas havia que sacrificar a liberdade, doutra forma, como poderia sobreviver a paz se não se impusesse desde cima um poder supremo que seria o único verdadeiramente livre, enquanto todos os demais sofriam o jugo da tirania?»

Charles Van Doren, Breve Historia del Saber, Editorial Planeta, 2011*
Traduzido do espanhol por AMCD

***

O actual dilema português (um falso dilema) parece colocar-se entre a riqueza e a liberdade. Ou escolhemos a liberdade, abdicando de uma riqueza emprestada, porque não é a nossa, ou escolhemos a riqueza emprestada e abdicamos da nossa liberdade, porque teremos para todo o sempre de responder às exigências dos nossos credores e de lhes prestar contas. E querendo ter as duas, a riqueza e a liberdade, corremos o risco de perder as duas. O melhor será sempre libertar-nos desse lastro que é a riqueza emprestada.

***

PS - A Breve Historia del Saber de Charles Van Doren está a ser uma agradável leitura. Desconhecia, até escrever este post que existia uma edição em português. Descobri ainda um interessante post de Carlos Fiolhais  sobre o livro e o seu autor, no blogue De Rerum Natura. A leitura prossegue.

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*Edição em português: Charles Van Doren, Breve Historia do Saber, Caderno, 2008

segunda-feira, julho 08, 2013

A “globalização da indiferença”

O Papa Francisco refere-se à globalização da indiferença quando releva o que acontece em Lampedusa. Acerta na mouche. Já tínhamos reparado antes em Lampedusa. Não somos indiferentes e saudamos a iniciativa que irá por certo, mais uma vez, colocar a ilha no centro das atenções de muito mundo.

E continuamos a afirmar: Lampedusa é uma metáfora, entre outras, que desmente aqueles que tecem loas à globalização e ao maravilhoso mundo plano (1).
________________________

(1) Referimo-nos a Thomas Friedman, O Mundo é Plano, Actual Editora, 2006, cuja edição portuguesa é prefaciada pelo mui católico João César das Neves (que se associa também ao enaltecimento da globalização).

domingo, julho 07, 2013

Fazer da fraqueza força ou “ponham-se finos”

“Em certas situações de negociação, tal como demonstra Thomas Schelling, a fraqueza e a ameaça de que um parceiro irá entrar em colapso podem ser uma fonte de poder negocial. Um devedor na bancarrota que tenha uma dívida de mil dólares tem pouco poder, mas se dever mil milhões de dólares, ele poderá deter um poder negocial considerável – basta recordar o destino das instituições consideradas «demasiado grandes para cair» durante a crise financeira de 2008.”

Joseph Nye, Jr. O Futuro do Poder, Temas e Debates, 2012, Pág. 23.  

sábado, julho 06, 2013

Sobre o processo histórico e a História

"O que torna assustador o processo histórico é o facto de passar despercebido aos que o estão viver."

Clara Ferreira Alves, “O Ovo da Serpente”, Revista, Expresso, 06 de Julho de 2013




Há quem se aperceba que está a viver um momento histórico quando o vive, mas um momento não é um processo (Clara Ferreira Alves di-lo na sua crónica). Um processo histórico integra momentos históricos. Os egípcios da Praça Tahrir ou os astronautas da Apolo 11, por exemplo, sabem e sabiam que estavam a viver momentos históricos, ou, como se diz, estavam a “fazer história”. Mas os festivos egípcios da Praça Tahrir talvez não se apercebam do quão o seu país está próximo de uma guerra civil ou da subida do preço do petróleo nos mercados internacionais e das suas implicações, devido, em grande parte, às suas manifestações.

***

Depois de ler muitas obras de historiadores concluo que a história contada é sempre distorcida pela visão do historiador. Trata-se de um problema genético da História. Heródoto, o pai da História, escreveu as suas Histórias para glorificar os feitos dos gregos. Desde então não há historiador que não puxe a brasa à sua sardinha. 

sexta-feira, julho 05, 2013

Foi você que pediu um segundo resgate?

Eu não fui, mas dizem que já vem a caminho. Brilhante! Paga o Zé!

Entretanto fiquemos aqui quietinhos, à espera, pois só estamos autorizados a mexer os olhinhos, não vão os mercados assustar-se.

quinta-feira, julho 04, 2013

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Pedro Passos Coelho conta com a apreensão e o medo dos portugueses

Ontem em Berlim, numa conferência de imprensa, afirmou o seguinte:

Creio que os portugueses estarão muito mais apreensivos e assustados com a possibilidade de terem eleições sem saberem o que é que poderá resultar disso, não sabendo sequer se poderão continuar a dispor de apoio externo, como têm tido até hoje. Os portugueses estarão muito mais assustados com essa situação do que, com certeza, com a possibilidade de podermos fechar o nosso programa de assistência económica e financeira e de podermos enfrentar as dificuldades que temos, que ainda temos muitas."

Pedro Passos Coelho, Berlim, dia 3 de Julho de 2013

***

A inépcia política é gritante. Podia ter afirmado que contava com a razão, a sensatez, o bom senso dos portugueses que ele governa (ou desgoverna)…Mas não. Conta com a apreensão e o medo dos seus conterrâneos e disse-o duas vezes.

Estamos apreensivos e assustados com a democracia? Estamos com medo do plebiscito e do que poderá daí resultar? Estamos com medo das nossas próprias escolhas? Estamos com medo do futuro? Estamos com medo dos mercados? Pois o pior que nos pode acontecer é viver com medo. Isso e calhar-nos em sorte a reeleição de Passos Coelho em futuras eleições. Disso sim, grande parte do povo português provavelmente terá medo.

quarta-feira, julho 03, 2013

Os que mais lêem no mundo

         Daqui: Russia Beyond the Headlines

Nota: esqueceram-se de pintar a Suécia e a ilha da Tasmânia que integra a Austrália.

Mais sobre este assunto: aqui e aqui.

terça-feira, julho 02, 2013

Portas bate com a porta.

E amanhã, quem será?

O CDS sempre beneficiou, quando não coligado com o PSD, do descontentamento das franjas oscilantes do lado conservador desse partido em relação à sua própria liderança, conseguindo dessa forma melhores resultados eleitorais. Beneficiava com os descontentes da ala direita do PSD. Quando assume o Governo em coligação com o PSD, cuja liderança se encontra agora num momento de grande fraqueza e divisão, o CDS vê-se privado desse habitual benefício, pois está no mesmo barco.

Será que julga que poderá voltar à sua condição de beneficiário do descontentamento dos simpatizantes do PSD, distanciando-se neste momento desse partido? Talvez agora seja tarde demais.

Quando o Mediterrâneo fervilha

      Egipto, Cairo, Praça Tahrir, 30 de Junho de 2013

A situação está muito complicada no Egipto. As elevadas taxas de natalidade dos países do Norte de África, aliadas a elevadas taxas de desemprego jovem, funcionaram como uma autêntica bomba demográfica que rebentou. Somadas ao sectarismo religioso e à crescente percepção das assimetrias persistentes entre o mundo em desenvolvimento e o mundo desenvolvido, alimentada pela difusão das novas tecnologias de informação e comunicação, conduziram a uma frustração crescente que agita os países da margem sul e este do Mediterrâneo, com raras e notáveis excepções.

Já Portugal e os países da margem norte do Mediterrâneo empobrecem e revelam também elevadas e crescentes taxas de desemprego jovem, embora a sua fertilidade seja muito mais reduzida comparativamente à dos países do Norte de África.


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