sábado, novembro 29, 2008

Em democracia

Em democracia, politicamente, não existem revoluções, mas podem haver rebeliões.

Em democracia não se reforma contra o povo, reforma-se com o povo e para o povo. Caso contrário, o governante aproxima-se do tirano.

Nestas democracias de maioria absoluta, o tempo parece iludir os governantes, que no decurso do seu mandato vão manifestando, aqui e ali, comportamentos tirânicos. As nossas secretarias de Estado e direcções gerais e regionais acumulam tiranetes prontos a "trucidar" quem ouse questionar as suas decisões ou a dos seus superiores, a quem prestam uma fidelidade canina.

Compreendo aqueles que ironicamente dão a entender que, se se quer governar contra o povo, então que se suspenda a democracia.

Dizia Aristóteles há cerca de 2400 anos que “o governante trabalha em prol dos outros” (Ética a Nicómaco, Livro V, cap. VI). Esta ética parece ter sido esquecida por muitos com cargos de governação.

sexta-feira, novembro 21, 2008

Tudo é possível (dentro de determinados limites)

E se te disser, Horácio, que tudo é possível dentro de determinados limites?
E que a vida é um instante de eternidade? Ou, se quiseres, um eterno instante.

Não se fará luz no teu espírito?

Não perceberás que em vão sondaste os limites da vida? E que toda essa parafernália científica que inventaste jamais nos poderá servir para esse fim?
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A propósito das palavras de Agostinho da Silva:

…e aqui temos numerosas horas de conversa ou os dias se comprimem num momento, que o tempo nem sempre dura, e ao que não dura mesmo chamamos nós instante de eternidade…

Agostinho da Silva, Ir à Índia sem Abandonar Portugal, Considerações, Outros textos, Assírio & Alvim, Lisboa, 1994, pág. 106

sexta-feira, novembro 07, 2008

Sempre, Agostinho

E ainda lhe chamam místico.

Pois, diz ele, e a nosso ver bem, que uma Nação só se realiza com “governos que mais fossem de coordenar que de mandar” e com “escolas que preparassem para o mundo a desenvolver inclusive o interno”.

Por isso dizemos: basta! Basta de “governos de mandar”. Queremos governos que coordenem; governos que não se demitam. Basta de prepotências e de desmandos (em Portugal isso está a acontecer na Educação). Queremos coordenação. O governo na Educação mais não tem feito do que impor, impor e impor. Basta! Que coordene!

Mas voltando ainda ao pensamento de Agostinho, dele ressoa uma ideia: a de união e de reconciliação. Dessa forma se cumprirá um novo Portugal, unido o velho com o do porvir. Só unidas as Nações e os povos empreendem com êxito. Não foi assim na Atenas de Péricles: velhos e novos, ricos e pobres, agricultores e marinheiros, todos unidos? Não é a união de um povo que ressalta nos Painéis de São Vicente?

Enquanto as querelas e as divisões subsistirem, as nações definharão: a desunião predominará sobre qualquer tentativa de reconciliação.

Mas deixamos-vos com as palavras de Agostinho. Sempre, Agostinho [os sublinhados são nossos].

«Só realizada uma Nação de frutos de terra e de frutos de mar, de pequena indústria transformadora livre de cadências, de escolas que preparassem para o mundo a desenvolver inclusive o interno, cooperadores excelentes, de concelhos que a si próprios se governassem, sem mutiladoras dependências do poder central, de propriedade comunitária, mesmo no fabril e no comércio - comunitária de liberdade partilhada e não de sofrida opressão, e de governos que mais fossem de coordenar que de mandar, e assim mesmo pela região passando -, só então Portugal se deveria lançar a nova revoada, sendo seu primeiro voto o de poder aliar esforços com o vizinho que durante séculos temera e que devia ser agora um esplendor de nações livres, também livres de novo seus antigos cidadãos de Maomé e Moisés, por tantos anos afastados ou odiados ou temidos.

De todos precisaria como irmãos para então, com segurança e promoção alheia e própria, ir de novo àquela Europa em que por pouco acabar, de Mercado, a que tanto o queriam prender e passando a Paraíso, e a reconhecendo como península da Ásia sobre um mar de porvir, ocidente em futuro de nascente, sem fronteiras de leste e oeste que artificiosamente a dividissem.
»

Agostinho da Silva, Ir à Índia sem Abandonar Portugal, Considerações, Outros textos, Assírio & Alvim, Lisboa, 1994, pág. 137

quarta-feira, novembro 05, 2008

Ridículo

É ridículo o argumento dos neoliberais que agora apontam o dedo acusador às entidades reguladoras por não terem estado atentas às falhas do mercado e aos que nele irresponsavelmente actuaram. É tão ridículo como o argumento que culpa as distracções dos polícias pelas acções dos ladrões. É que o problema, na realidade, não são os polícias, são os ladrões. O problema não são as entidades reguladoras, mas a política que sempre defendeu a mínima intervenção do Estado.

O mercado falhou porque, ao contrário do que sempre defenderam os neoliberais, tem de ser fortemente regulado pelo Estado. Curiosamente, vêm agora culpar o Estado e as entidades reguladoras pelas falhas do mercado e pelas irresponsabilidades dos directores executivos e quadros dirigentes. O mesmo Estado que, segundo os neoliberais, deveria intervir o mínimo nos mercados, financeiros ou não, e na economia.

Poupem-nos!

sábado, novembro 01, 2008

São Jerónimo

São Jerónimo (1521) – Albrecht Dürer

O dedo afaga o crânio, liso e frio como a morte. Um pensamento vago parece perpassar-lhe a mente esgotada de tanto pensar. Até a ordem das palavras é um mistério…

A Vida, o Espírito: para onde vão após o último sopro? Para o Paraíso, é certo. Mas isso é uma questão de Fé. A Razão contudo, teima em questionar, ainda que a resposta cabal seja pronunciada mil vezes.

A presença de Cristo, Aquele que venceu a Morte, é um eterno desafio.

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