«Olivier Roy tem defendido de forma brilhante e persuasiva, que os
jihadistas contemporâneos não podem ser compreendidos principalmente em termos
culturais ou religiosos. A religiosidade muçulmana genuína tem sempre estado
implantada numa cultura local ou nacional, onde a doutrina religiosa
universalista é modificada pela aposição dos costumes, hábitos, santos e afins
locais, e apoiada pelas autoridades políticas regionais. Não é este tipo de
religiosidade que constitui a raiz do terrorismo dos nossos dias. O islamismo e
os seus rebentos jihadistas são o produto daquilo que Rot chama Islão
«desterritorializado», no qual os muçulmanos individuais se vêem isolados das
tradições locais autênticas, muitas vezes como minorias em terras
não-muçulmanas. Isto explica o porquê de tantos jihadistas não serem oriundos
do Médio Oriente, mas sim criados (como Mohamed Atta um dos conspiradores do 11
de Setembro) na Europa Ocidental. O jihadismo é, por conseguinte, não uma
tentativa de restaurar uma forma originária de islamismo genuíno, mas uma tentativa
de criar uma nova doutrina universalista, que possa ser fonte de identidade
dentro do contexto do mundo moderno, globalizado e multicultural.»
Francis Fukuyama, Depois dos Neoconservadores - A América numa
Encruzilhada, Gradiva, 2006, pág. 67-68.
***