«Olivier Roy tem defendido de forma brilhante e persuasiva, que os
jihadistas contemporâneos não podem ser compreendidos principalmente em termos
culturais ou religiosos. A religiosidade muçulmana genuína tem sempre estado
implantada numa cultura local ou nacional, onde a doutrina religiosa
universalista é modificada pela aposição dos costumes, hábitos, santos e afins
locais, e apoiada pelas autoridades políticas regionais. Não é este tipo de
religiosidade que constitui a raiz do terrorismo dos nossos dias. O islamismo e
os seus rebentos jihadistas são o produto daquilo que Rot chama Islão
«desterritorializado», no qual os muçulmanos individuais se vêem isolados das
tradições locais autênticas, muitas vezes como minorias em terras
não-muçulmanas. Isto explica o porquê de tantos jihadistas não serem oriundos
do Médio Oriente, mas sim criados (como Mohamed Atta um dos conspiradores do 11
de Setembro) na Europa Ocidental. O jihadismo é, por conseguinte, não uma
tentativa de restaurar uma forma originária de islamismo genuíno, mas uma tentativa
de criar uma nova doutrina universalista, que possa ser fonte de identidade
dentro do contexto do mundo moderno, globalizado e multicultural.»
Francis Fukuyama, Depois dos Neoconservadores - A América numa
Encruzilhada, Gradiva, 2006, pág. 67-68.
Ontem o parlamento afegão foi,
literalmente, abanado nos seus alicerces. Seis talibans fizeram-se lá explodir matando
consigo uma mulher e uma criança que por ali passavam. Foram ainda feridas 28
pessoas. Ao que consta os perpetradores não eram jovens muçulmanos alienados, com
problemas de identidade.
O argumento de Olivier Roy sobre
o jihadismo, acima aventado por Francis Fukuyama, é muito discutível.
Parece confundir o cerne com a película superficial que o envolve. Os
muçulmanos são, em primeiro lugar, as principais vítimas do jihadismo islâmico
e a maioria das acções jihadistas não são perpetradas por “muçulmanos individuais que se vêem isolados das tradições locais autênticas" ainda que muitos destes alienados abracem a causa jihadista.
São muçulmanas as sociedades mais
flageladas pelo terrorismo perpetrado por muçulmanos nados e criados no seu
seio. A esses juntam-se outros, vindos de fora. Acresce a esse tipo de
terrorismo outro, mais organizado e letal - o dos Estados que dizem combater o
terrorismo.
Como devem ser ameaçadores os céus
de Gaza, do Iémen ou nas imediações do Hindu Kush.
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