Quer nada: serás livre.
O mesmo amor que tenham
Por nós, quer-nos, oprime-nos.
Ricardo Reis, Odes, Fernando Pessoa (1930), Lisboa: Ática, 1946
Já cantava Horácio nas suas Odes:
A quanto mais se negar o homem,
mais dos deuses receberá.
Horácio, Odes, Livro III, XVI, Livros Cotovia, 2008
Porém, Ricardo Reis queria que os deuses dele não se lembrassem:
Quero dos deuses só que me não lembrem.
Serei livre — sem dita nem desdita,
Como o vento que é a vida
Do ar que não é nada
O ódio e o amor iguais nos buscam; ambos,
Cada um com seu modo nos oprimem.
A quem deuses concedem
Nada, tem liberdade
Ricardo Reis, Odes, Fernando Pessoa (1930), Lisboa: Ática, 1946
Em suma, só seria livre aquele sobre o qual não recairia o olhar dos deuses.
A liberdade acima de tudo, até do próprio amor que oprime, segundo Ricardo Reis.
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A liberdade e a igualdade, em certa medida, encontram-se em pólos opostos. Ou dito de outra forma: não cabem no mesmo saco. A Revolução Francesa, ao querer juntá-las, arranjou-nos um bom sarilho. Sistemas económicos e políticos que promovem a igualdade ou a liberdade individual estão longe de serem socialmente justos. É preciso pois encontrar um sistema que promova a justiça social, algures entre a liberdade e a igualdade.
Todos nós amamos a liberdade. Amamo-la tanto que daríamos a vida por ela. Colocamos a liberdade acima da nossa própria vida. “Antes morrer de pé que viver de joelhos” dizem as paredes revolucionárias. Contudo, há que questionar a liberdade, tal como a questionou Polanyi nos anos 40. Por uma razão muito simples: o neoliberalismo, fomentador da injustiça social, escuda-se na liberdade sempre que se vê acossado pelos que o contestam.