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sábado, agosto 22, 2020

As recordações mais profundas não têm epitáfios


Quando nessa glacial noite de Inverno o Pequod enterrou as amuras vingativas nas frias e maliciosas vagas, fui descobrir Bulkington ao leme. Considerei com simpatia, admiração e temor o homem, que em pleno Inverno e apenas desembarcado de uma perigosa viagem de quatro anos, se alistava incansavelmente para outra tempestuosa aventura, como se a terra lhe queimasse os pés. As coisas mais maravilhosas são quase sempre aquelas de que não se faz menção: as recordações mais profundas não têm epitáfios.

Herman Melville, Moby Dick


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Referência

Herman Melville, Moby Dick (1º vol.), Relógio D’Água, p.139.

domingo, dezembro 12, 2010

Grandes aberturas: Moby Dick


Tratem-me por Ismael. Há alguns anos – não interessa quando – achando-me com pouco ou nenhum dinheiro na carteira, e sem qualquer interesse particular que me prendesse à terra firme, apeteceu-me voltar a navegar e tornar a ver o mundo das águas. É uma maneira que eu tenho de afugentar o tédio e normalizar a circulação. Sempre que sinto um sabor a fel na boca; sempre que a minha alma se transforma num Novembro brumoso e húmido; sempre que dou por mim a parar diante de agências funerárias e a marchar na esteira dos funerais que cruzam o meu caminho; e, principalmente, quando a neuroastenia se apodera de mim de tal modo que preciso de todo o meu bom senso para não começar a arrancar os chapéus a todos os transeuntes que encontro na rua – percebo que então chegou a altura de voltar para o mar, tão cedo quanto possível. É uma forma de fugir ao suicídio. Onde, com um gesto filosófico, Catão se lança sobre a espada, eu, tranquilamente, meto-me a bordo. E não há nisto nada de extraordinário. Embora inconscientemente, quase todos os homens sentem, numa altura ou noutra da vida, a mesma atracção pelo oceano.”

Herman Melville, Moby Dick, Relógio D’Água

A leitura do grande romance de Melville, começa com um embarque. O embarque de Ismael? Não! O nosso embarque com Ismael. É com ele que embarcamos para a grande viagem, rumo ao desconhecido. É com ele que fugimos à vida quotidiana, à depressão e ao cansaço mental e zarpamos num estranho navio. E de repente o desconhecido não é só o que o oceano oculta para lá do horizonte e abaixo da linha das suas águas, nos abismos profundos. É também o próprio navio onde embarcamos e a sua estranha tripulação. E assim, aos poucos, vamos penetrando não só no oceano, mas também no navio, e nos mistérios de uma tripulação comandada por um homem obstinado, disposto a navegar em todos os mares do mundo. E com ele perseguimos a baleia que lhe foge e lhe torna a aparecer, quando menos se adivinha, investindo numa ira sem fim.

sábado, fevereiro 18, 2006

A felicidade de uma alegria interior e sublime está reservada àquele que opõe a sua inexorável personalidade aos orgulhosos deuses e comodoros deste mundo.

Melville, Moby Dick, Relógio d’ Água Editores, Lda. , Pág. 74.

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