segunda-feira, maio 31, 2010

El Arco de Elvira (Granada)



Gacela del Mercado Matutino


Por el arco de Elvira
quiero verte pasar,
para saber tu nombre
y ponerme a llorar.


¿Qué luna gris de las nueve
te desangró la mejilla?
¿Quién recoge tu semilla
de llamarada en la nieve?
¿Qué alfiler de cactus breve
asesina tu cristal?...


Por el arco de Elvira
voy a verte pasar,
para beber tus ojos
y ponerme a llorar.


¿Qué voz para mi castigo
levantas por el mercado!
¿Qué clavel enajenado
en los montones de trigo!
¡Qué lejos estoy contigo,
qué cerca cuando te vas!

Por el arco de Elvira
voy a verte pasar
para sentir tus muslos
y ponerme a llorar.


Garcia Lorca‎

in Martin Sorrel, The selected poems of Federico García Lorca‎, Oxford United Press, 2007

domingo, maio 30, 2010

A habitual fuga para trás

Quando falham os argumentos políticos contra as críticas dos comunistas, lá vem a habitual “fuga para trás”. Sobem aos palanques e esganiçam: “Como é possível ainda haver quem perfilhe as mesmas ideias do partido de Estaline, esse assassino de povos, criador de gulags?”. Pois.

Seguindo esse raciocínio poderíamos argumentar: como é possível haver quem perfilhe a mesma ideologia daqueles que fritaram inocentes com bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki, ou que esfolaram outros inocentes com napalm no Vietname? (E não falemos das crianças mutantes de Falujah).

Como é possível?

Não consta que existam gulags no Brasil, um país com 200 milhões de habitantes, onde governa o PT. Não consta que existam campos de concentração em Cuba, excepto na base norte-americana de Guantanamo. Não consta que nos concelhos dos arredores de Lisboa, onde comunistas governam as edilidades desde o 25 de Abril de 1974, e sempre reeleitos, se comam criancinhas ao pequeno-almoço.

Enfim, é a habitual fuga para trás dos políticos medíocres, quando lhes faltam os argumentos. Procuram os olhos aos quais devem lançar a areia e lançam-na.

sábado, maio 29, 2010

terça-feira, maio 25, 2010

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Miguel Ângelo, Detalhe do tecto da Capela Sistina (1508-12)

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Miguel Ângelo, Detalhe do tecto da Capela Sistina (1508-12)

domingo, maio 23, 2010

Observemos perplexos a vida que criámos

Quais alquimistas?! Qual ouro?! Criámos vida! A Vida procura a vida e se não a encontra, tenta criá-la.

No início do século XXI o Homem transformou-se. Fez-se a si mesmo Homem-deus. Criador de mundos. Destruidor de mundos.

E agora o que fazer com a vida criada? Libertar-se-á a vida criada do seu criador, qual obra de Dr. Frankenstein, aprendiz de feiticeiro, alquimista, Homem-deus? Será um monstro à solta no Universo, ou apenas vida? Teremos aberto outra caixa de Pandora? A Vida procura sempre a vida. E se não a encontra?

A Vida liberta-se e procura manter-se contra a Morte (e não me falem em pulsões de morte). Na verdade este universo, quiçá o único, é pleno de histórias, encontros e recontros de vidas. Colisões de mundos!

Criámos vida! E agora?

Observemos perplexos a vida que criámos.

A Vitória é do Inter

©Getty Images

quinta-feira, maio 20, 2010

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Stormy Weather

James Alcock/AFP

Ainda El-rei D. João Segundo

Não nos demove a tempestade, neste Mar de Crise.

Ainda que soprem os ventos e os relâmpagos rasguem o céu.
Ainda que chovam rajadas e caia uma noite de breu.

Ainda aqui vamos atados ao leme. Ainda gritando:

«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quere o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
D' El-rei D. João Segundo!»

Ainda El-rei D. João Segundo.

quarta-feira, maio 19, 2010

Um revolucionário que anda para «trás»

O reaccionário é aquele que julga que existe uma sabedoria antiga, um modelo tradicional de ordem social e moral, ao qual devemos regressar a todo o custo; como tal, opõe-se a todas as chamadas conquistas do progresso, desde as ideias liberais democráticas até à tecnologia e à ciência moderna. O reaccionário não é um conservador, é quando muito um revolucionário que anda para «trás».

Umberto Eco, A Passo de Caranguejo, Difel, 2007, pág. 155

Esquerda Arcaica vs Esquerda Pós-moderna

Talvez o pecado original da esquerda contemporânea seja o facto de não saber aceitar completamente a ideia de que o verdadeiro eleitorado de um partido que pretende ser reformista já não é formado pelas massas populares, mas antes pelas classes emergentes e pelos trabalhadores do sector terciário (que não são poucos, pelo que é preciso que os partidos deixem de se dirigir à mítica classe operária e passem a concentrar-se neles).

Umberto Eco, A Passo de Caranguejo, Difel, 2007, pág. 137

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Axel Heimken-AP

terça-feira, maio 18, 2010

Paradoxo dos paradoxos

De colonizadores passámos a colonizados, no início do século XXI.

Agora somos colonizados economicamente pelos poderosos da Europa que ditam como deveremos gerir a nossa casa, sempre prosseguindo uma agenda neoliberal.

Temos 800 anos de história e somos nós quem deve governar a nossa casa.

Se a manutenção do euro no nosso país implicar mais dependência económica, mais desemprego e mais pobreza, então mais vale sair da Zona Euro e reerguer novamente o escudo.

Colonialismo económico, não obrigado!

domingo, maio 16, 2010

EUA vs. BP

(AP Photo/Gerald Herbert)

A hiperpotência contra a multinacional. Uma batalha entre dois colossos e a BP vai ter de pagar o prejuízo. Se em vez de Obama, fosse Bush (este menos sensível às questões ambientais), se em vez do Golfo do México fosse o Mar de Timor, se em vez dos EUA fosse Timor-Leste, ou outro qualquer país pobre, a BP provavelmente não pagaria e apontaria o dedo a outras empresas que sub-contratou, como já o tentou fazer, para irritação de Obama.

Os meios disponíveis para o combate contra a maré negra e o esforço que a BP está a realizar para conter a porcaria que está a provocar, provavelmente, seriam muito menores se o derrame fosse junto à costa de um país pobre e menos poderoso que a multinacional.

Mesmo assim, a catástrofe prossegue em câmara lenta, Obama irrita-se e a BP entra em pânico.

sábado, maio 15, 2010

A escola lúdica

Chegámos ao ponto em que as pessoas se esquecem de que a escola não deve ensinar aos estudantes apenas aquilo que eles querem, mas também, e muitas vezes acima de tudo, aquilo que não querem aprender, ou que não sabem que querem (caso contrário, todas as escolas deixariam de ensinar Matemática e Latim para passarem a ensinar jogos de computador – e pela mesma lógica os bombeiros passariam a deixar os gatos fugir e correr pelas auto-estradas, porque esse é o desejo natural dos animais).

Umberto Eco, A Passo de Caranguejo, Difel, 2007, pág. 108

sexta-feira, maio 14, 2010

Espelho Íntimo

A nova obra de Torquato da Luz

quinta-feira, maio 13, 2010

Os conquistadores vencidos e os vencedores conquistados


Não acredito que a guerra produza cultura, ainda que por vezes as astúcias da razão (como teria dito Hegel) produzam resultados bizarros: os Romanos declararam guerra à Grécia com o objectivo de a latinizarem, e foi a Grécia vencida que conquistou culturalmente o orgulhoso vencedor.

Umberto Eco, A Passo de Caranguejo, Difel, 2007, pág. 215

terça-feira, maio 11, 2010

O neofeudalismo pós-industrial

Bruegel (1555) - Landscape with the Fall of Icarus

Na Idade Média, quando a sociedade era de produtores, vigorava um sistema social baseado na exploração da terra. Haviam aqueles que protegiam e exploravam os semi-servos que se refugiavam dentro das muralhas do castelo, sempre que o inimigo espreitava aquelas terras. O senhor feudal era o dono da terra e o senhor da guerra. Os semi-servos podiam cultivar a terra mediante o pagamento de um tributo, muitas vezes em géneros, uma grossa fatia da sua produção. Era um sistema fechado (num feudo) e estático, sem ascensão social: o filho do nobre, nobre seria e o do semi-servo tinha também o destino traçado. Eram poucos os homens livres – livres do pagamento do tributo e do jugo do senhor feudal.

Com a ascensão da burguesia e a difusão do capitalismo, o feudalismo morreu.

Hoje contudo ele surge, qual Fénix renascida, com novas roupagens. A sociedade já não é rural, é pós-industrial. Já não é uma sociedade de produtores, mas sim de consumidores. Se no passado o semi-servo pagava ao senhor feudal com parte da sua produção, hoje, como paga o consumidor aos novos senhores feudais?

O senhor feudal na Idade Média era o detentor da terra. O senhor feudal da Era Pós-moderna é o detentor do dinheiro.

No passado o semi-servo estava dependente da terra do senhor feudal. Hoje, o consumidor e o investidor estão dependentes do crédito que o banco, com usura, concede. O banqueiro é o novo senhor feudal e o juro é o tributo que lhe é pago, sempre que a prestação vence.

sábado, maio 08, 2010

A boa sociedade

«Numa boa sociedade um homem deve (1) ser útil, (2) estar o mais protegido possível contra o infortúnio não merecido, (3) ter oportunidade de livre iniciativa por todos os meios não prejudiciais aos outros.»

Bertrand Russel, O Impacto da Ciência na Sociedade, 1967

quinta-feira, maio 06, 2010

Quem manda na U.E.?

Jean-Claude Trichet tem mais poder que o Presidente da Comissão Europeia ou que o Presidente do Conselho Europeu.

Neste momento é o B.C.E. que governa a U.E. O B.C.E. condiciona e baliza a governação dos países da Zona Euro.

Trichet é o “Imperador”.

Não admira que franceses e alemães se tenham atropelado para colocar um dos seus à frente do B.C.E. deixando os outros cargos para portugueses e belgas. Miudezas.

Os americanos, irónicos, dizem muitas vezes que Obama não sabe a quem telefonar se quiser falar com quem manda na U.E. Telefone a Trichet! Os outros cargos são ornamentais. Os seus titulares, marionetas.

Curiosamente o capitalismo está a degenerar numa espécie de neofeudalismo bancário.

Prestemos então tributo aos bancos. Ámen.

Ανταρσία

Pantelis Saitas / EPA

quarta-feira, maio 05, 2010

Ημέρα της Οργής

John Kolesidis/REUTERS

A Amazónia em Paris

Benoit Tessier/Reuters


O chefe Raoni tenta em Paris sensibilizar alguns senhores do mundo para o apoio à sua causa, que é também a nossa. Lula vai mandar construir uma barragem enorme na Amazónia - o projecto Belo Monte - sem pedir licença a ninguém. O projecto terá efeitos devastadores nas terras indígenas e áreas protegidas, como se noticia aqui. Tudo em nome do sacrossanto crescimento económico.

E assim se vão convertendo os recursos naturais em capital e prossegue o saque do mundo à custa dos povos indefesos e sem voz nos areópagos internacionais.

terça-feira, maio 04, 2010

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