terça-feira, dezembro 31, 2013

Lisboa e Porto

Escrevo da invicta, mui industriosa e livre cidade do Porto. Lisboa fede. Alguns dirão que fede porque há luta. Ainda assim fede, a filha da puta.

Agora ide a correr dizer que enlouqueci.

***

quinta-feira, dezembro 26, 2013

A saída de Gaspar, a “irrevogável” demissão de Portas e os seus efeitos nos mercados financeiros.

Diz Fernando Madrinha, na sua coluna no Expresso, que a saída do Governo de Vítor Gaspar e a demissão “irrevogável” de Paulo Portas interromperam a “consistente tendência de queda” dos juros que permitem o acesso aos mercados financeiros. Ora isto não é, pura e simplesmente, verdade. A saída do Governo de Vítor Gaspar não interrompeu a “consistente tendência de queda”, coisíssima nenhuma, por uma razão muito simples: não se registava, à data, nenhuma “consistente tendência de queda”. Este facto é facilmente constatável no gráfico abaixo (fonte: Bloomberg), relativo aos juros a 10 anos.


Como pode se verificar, desde o dia 21 de Maio de 2013 que se registava uma consistente tendência de crescimento dos juros da dívida a 10 anos (no dia 21 de Maio, as taxas de juro foram as mais baixas do ano, cerca de 5,23%, e a partir daí inflectiram, começando a aumentar de forma sustentada; quando Gaspar sai, a 1 de Julho, a taxa de juro estava a 6,39%). E se é verdade que as taxas de juro diminuíram entre 25 de Junho e 1 de Julho, tal movimento não é suficientemente amplo para constituir uma tendência “sustentada”. Pelo contrário, o movimento que se processa entre 22 de Maio e 3 de Julho de 2013, sendo mais amplo, é o que caracteriza a tendência que então se verificava.

Em suma, quando Gaspar sai, a coisa já tinha dado para o torto.

Gosto de ler o que escreve Fernando Madrinha, mas discordo dele neste ponto. Atribui a Gaspar uma importância que ele não tem. São os mercados financeiros que determinam a saída de Gaspar. Não é Gaspar que determina a evolução sustentada dos mercados financeiros. Antes fosse.

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Natal 2013

Jan van Eyck, Madona em Igreja, 1425-1430

Um feliz Natal a todos os que por aqui passaram e passarão. E também aos que passam.

O nascimento de Jesus, esse grande revolucionário, não será aqui esquecido.

Não consta que tivesse deixado qualquer escrito (para quê?). Consta que o que escrevia fugazmente, por vezes uns rabiscos no chão enquanto reflectia, como naquele dia em que disse: “Quem nunca pecou, que atire a primeira pedra”, era logo apagado. Ainda hoje nos interrogamos sobre o que terá escrito ou desenhado no chão naquele dia.

Feliz Natal

sábado, dezembro 07, 2013

sexta-feira, dezembro 06, 2013

Será recordado!


Será recordado!

Ainda que os séculos nos varram a todos.

Um grande Homem morreu ontem.

***

domingo, dezembro 01, 2013

Do curtíssimo prazo

Ao gerirem os nossos destinos por curtíssimos horizontes temporais, os “governantes” abdicaram do sonho utópico, para eles sempre utópico, sem lugar neste mundo, de um dia as comunidades que “regem” se libertarem dos fardos quotidianos que as oprimem – essa era a busca pela verdadeira liberdade e civilização! Movem-se agora por curtos ciclos eleitorais e curtíssimos ciclos financeiros – as cotações nos mercados internacionais, os ratings, e, entre outras, as taxas de juro da dívida pública a 10 anos, mais precisamente, e agora em inglês técnico, “The Portuguese Government Bonds 10YR Note”, que pode ser vista aqui (e que no momento se encontram em tendência decrescente, em torno dos 6%, daí a temporária euforia de alguns), oscilando diariamente, ora para cima, ora para baixo, como uma espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças, e é só isto que lhes interessa, porque ironicamente, no longo prazo, estaremos todos mortos. Para cúmulo, é para eles agora o curtíssimo prazo que importa, e por isso não admira que alguns destes iluminados tenham querido difundir a ideia de que a história não importa e pouco influi na progressão das sociedades pós-modernas e nos nossos destinos. Assim, uma nação com mais de 800 anos de história é vendida a retalho no mercado internacional por meia pataca. Os traidores estão entre nós, sempre estiveram, que gente a defenestrar sempre houve.

Meus caros, eles já não nos representam. Qual democracia representativa, qual quê? Eles representam os credores internacionais e outros interesses que não os nossos. Nós só lhes interessamos na medida em que, estamos convocados para lhes pagar as dívidas e os juros usurários. O melhor, meus amigos, é votar com os pés, partir, e ir contribuir para outra freguesia (contribuir, na verdadeira acepção da palavra: como contribuinte!). E diga-se de passagem, muitos já o fizeram.

Tenho dito.

Epílogo

«Hoje, a classe política vive atascada nos problemas e nas soluções de curto prazo, segundo a temporalidade própria dos ciclos eleitorais, nos países centrais, ou dos golpes e contra-golpes, nos países periféricos. Por outro lado, uma parte significativa da população nos países centrais vive dominada pela temporalidade cada vez mais curta e obsolescente do consumo, enquanto uma grande maioria da população dos países periféricos vive dominada pelo prazo imediato e pela urgência da sobrevivência diária.»

Boaventura de Sousa Santos, Pela Mão de Alice, 9ª ed., Almedina, 2013, Pág. 277


Hoje existe ainda outra temporalidade que Boaventura de Sousa Santos não aborda, talvez porque no momento em que realizou a sua análise essa tendência ainda não se tinha materializado claramente aos seus olhos prescientes - é a temporalidade do curtíssimo prazo que agora determina as decisões dos governos: o tempo dos mercados financeiros, o tempo dos credores. 

Etiquetas