Paul Valéry, citado por Martin Gilbert, História do Século XX, 2ª ed., Dom Quixote, 2011, pág. 206
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Voltámos aos tempos interessantes, agora no século XXI. Talvez ainda mais interessantes, no sentido que Paul Valéry dá à palavra.
Paul Valéry, citado por Martin Gilbert, História do Século XX, 2ª ed., Dom Quixote, 2011, pág. 206
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Voltámos aos tempos interessantes, agora no século XXI. Talvez ainda mais interessantes, no sentido que Paul Valéry dá à palavra.
Roger Crowley narra-nos a impressionante
história da entrada dos portugueses no Índico no início do século XVI. Como Portugal
criou o primeiro império global? Lido o livro, a resposta à questão é
extremamente simples. Portugal criou o primeiro império global através do
terror. Um terror que aplicou com persistência e tenacidade. Onde quer que surgissem no mar, as enfunadas velas brancas com a vermelha cruz de Cristo pintada, a população dos
lugares costeiros debandava. Fomos terroristas, piratas e corsários e aplicámos
todo o hardpower para dominar a costa
do Malabar, da África Oriental, do Golfo Pérsico e mais além. Chegámos a penetrar
no ardente Mar Vermelho e ousámos trepar e atacar as muralhas de Adém. Fomos
longe demais. O espírito que nos movia no início do século XVI era ainda o da
cruzada medieval. O objectivo era matar o Islão no berço, passar o mouro à espada,
sem dó nem piedade ou esmagá-lo por todas formas possíveis e imaginárias. Queimámos,
esquartejámos, empalámos, enforcámos, retalhámos, massacrámos, pilhámos…![]() |
| Cleóbis e Bíton Museu Arqueológico de Delfos |
Ao gerirem os nossos destinos por
curtíssimos horizontes temporais, os “governantes” abdicaram do sonho utópico,
para eles sempre utópico, sem lugar neste mundo, de um dia as comunidades que “regem”
se libertarem dos fardos quotidianos que as oprimem – essa era a busca pela verdadeira
liberdade e civilização! Movem-se agora por curtos ciclos eleitorais e
curtíssimos ciclos financeiros – as cotações nos mercados internacionais, os ratings, e, entre outras, as taxas de
juro da dívida pública a 10 anos, mais precisamente, e agora em inglês técnico,
“The Portuguese Government Bonds 10YR Note”, que pode ser vista aqui (e que no momento se encontram em tendência decrescente, em torno dos 6%, daí a
temporária euforia de alguns), oscilando diariamente, ora para cima, ora para
baixo, como uma espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças, e é só isto que lhes
interessa, porque ironicamente, no longo prazo, estaremos todos mortos. Para
cúmulo, é para eles agora o curtíssimo prazo que importa, e por isso não admira
que alguns destes iluminados tenham querido difundir a ideia de que a história não
importa e pouco influi na progressão das sociedades pós-modernas e nos nossos
destinos. Assim, uma nação com mais de 800 anos de história é vendida a retalho
no mercado internacional por meia pataca. Os traidores estão entre nós, sempre
estiveram, que gente a defenestrar sempre houve.
No programa da Antena 2, Quinta Essência, de João Almeida, o
historiador João Gouveia Monteiro, com grande vivacidade e detalhe, conseguiu
fazer com que este ouvinte presenciasse, em directo, a Batalha de Gaugamela, que
opôs o exército de Alexandre Magno da Macedónia ao de Dário III da Pérsia, em
331 a. C.“Como cidadãos de uma sociedade livre, temos o dever de olhar o mundo criticamente.”
Toni Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, Edições 70, 2010, p. 219
Um pequeno livro. Um portento!
Obrigado Tony Judt.
Que descanse em paz.

«A dinâmica inelutável da competição e integração económica global tornou-se a ilusão da nossa era. Como Margaret Thatcher uma vez explicou: Não Há Alternativa.» (p. 182).
«Mas tal como as instituições intermédias da sociedade – partidos políticos, sindicatos e leis – dificultavam os poderes de reis e tiranos, também o próprio Estado democrático pode agora ser a principal ‘instituição intermédia’: situada entre os cidadãos impotentes e inseguros e companhias ou agências internacionais insensíveis e inimputáveis. E o Estado – ou pelo menos o Estado democrático – conserva uma legitimidade única aos olhos dos seus cidadãos. Só ele responde perante estes, e estes perante ele.» (p. 184)
Tony Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, Edições 70, 2010
Em democracia há sempre alternativa! E os governos têm duas: ou se colocam ao lado “dos cidadãos impotentes e inseguros” ou passam a servir as “companhias e agências internacionais insensíveis e inimputáveis”, ou por outras palavras, passam a servir os “mercados financeiros ” não democráticos. Se escolherem este segundo caminho, como parece que está a acontecer, então os cidadãos serão obrigados, mais tarde ou mais cedo, a encostar os governos à parede.


A Segunda Guerra Mundial não começou em 1941, nem em 1940, nem sequer a 3 de Setembro de 1939. Começou às 4:45 da madrugada de 1 de Setembro de 1939. Foi nesse preciso momento que o cruzador alemão Schleswig-Holstein, numa visita amigável, atacou no porto de Danzig (Gdansk) e abriu fogo à queima-roupa sobre o forte polaco de Westerplatte. Simultaneamente, ao nascer do dia, a Wehrmacht alemã atravessou a fronteira da Polónia em vinte locais diferentes – a oeste, a norte e a sul. Foi um acto de guerra não declarado: mas, sem dúvida, um acto de guerra.
Norman Davies (2006). A Europa em Guerra, 1939 – 1945. Edições 70.
A partir de então o mundo mudou, como nunca antes tinha mudado. Jamais voltaria a ser o mesmo. Fazem hoje 70 anos. Nos próximos seis anos suceder-se-ão cerimónias de lembrança, coincidindo com os principais acontecimentos dessa guerra de má memória. Felizmente neste país limitámo-nos a ouvir ao longe o troar dos canhões. Felizmente para nós, tratou-se de uma guerra longínqua, ainda que no nosso continente e no nosso oceano.

Contramanifestação da Direita a 31 de Maio de 1968.