Viva a Liberdade! Viva a Democracia!
Um bem-haja aos que nos libertaram, há 50 anos.
Hoje discursam amigos e inimigos da Liberdade. Ouço-os na assembleia. A Liberdade e a Democracia assim o permitem.
Ditadura nunca mais!
25 de Abril, sempre!
Mas o desenvolvimento e a democracia* ainda estão por cumprir.
O elevador social?
A maioria, levou-os do rés-do-chão ao 1º andar, enquanto os ricos do costume subiam do 10º ao 50º.
Qual elevador social?
Prossegue ainda a reprodução social.
O filho do pobre, pobre será e o filho do rico, rico será.
Pesa uma dívida enorme sobre a cabeça dos nossos filhos,
Criada pelos que nos desgovernaram.
Ditosa pátria.
Equipar as Forças Armadas. Pois.
Quem pensam que somos nós?
O país com uma das maiores dívidas do mundo
Mas o cobertor é demasiado pequeno: tapamos o peito, destapamos os pés.
Vamos equipar as Forças Armadas, pois.
Ou serão carreiras e salários o que mais importa?
O ordenado dos generais e dos marechais?
(Quantos generais e almirantes, meu Deus.)
Ou serão os canhões e os porta-aviões?
E o que vamos nós destapar, rica pátria?
A Educação, a Saúde, a Segurança Social?
Deixem-me rir.
E se começassem por pagá-la?
É o que me apraz dizer no dia de hoje.
Lamento.
Que cantem, pois.
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(*) "No seu sentido mais forte, democracia significa um poder que não tem representação, que é exercido diretamente. O sistema representativo, tal como funciona na Europa desde o século XIX, foi criado por medo da democracia. A ideia subjacente é a de que o poder das massas, ou da maioria, é perigoso. E o sistema representativo surge para impedir o que seria uma democracia efetiva. É qualquer coisa como um ‘assunto de família’: um pequeno número de eleitores que escolhem um ainda menor número de representantes. No século XIX, com a extensão do sufrágio, criou-se uma situação que é totalmente ilegítima: o casamento entre representação e democracia. Assim surge este sistema misto que não é democrático e que também não é verdadeiramente representativo. Criou-se algo que ia contra a democracia, a saber, uma classe de políticos profissionais, de gente que é especialista no poder. Ora, isto é contrário à democracia, assim como à própria lógica do sistema representativo que supõe uma proximidade entre o representante e o representado. Este sistema ilegítimo dá, por sua vez, um enorme poder aos governos."
Jacques Rancière, Expresso, Revista E, 22 de Abril de 2022, p.46.

"Dia de Luta pelo Futuro" ou "Dia de Luto pelo Futuro"? A decisão depende da nossa acção ou inacção. Acção é luta, inacção é luto (parar é morrer, costuma dizer o bom povo). Vamos carpir por aqui a morte do futuro ou vamos lutar por ele? Vamos permitir que decidam o nosso destino por nós, ou vamos tomar o nosso destino nas nossas mãos?
Vamos deixar morrer Abril?
***
Aquilo que se preparam para fazer ao bom povo português é um assalto de proporções dantescas. Essa ajuda, tão propalada, não é ajuda, coisa nenhuma.
Todo o dinheiro que farão entrar, sairá. Servirá para pagar a dívida aos bancos alemães e a outros bancos credores. Nem um cêntimo será gasto em solo pátrio. Por cá só a austeridade permanecerá e, através dela, o roubo, porque o dinheiro que farão entrar (e acto contínuo, sair), também terá de ser pago. E adivinhe quem vai pagar.
Se as dívidas devem ser pagas, que o sejam por quem as contraiu. Mas não vai ser assim. Os mais pobres, os da base, os trabalhadores, é que vão pagar, com o suor do seu trabalho. Mais do que a dívida, os juros a pagar por ela são criminosos e especulativos, por outras palavras, uma exploração e um assalto.
Os contribuintes portugueses, directamente endividados ou não, hipotecários ou não, pobres e da classe média, irão sentir na pele a austeridade. Na verdade, já estão a senti-la.
Os ricos, como sempre, manterão o fruto do seu roubo e do seu egoísmo nos paraísos fiscais distantes. Naqueles em que os grandes governantes do mundo e instituições mundiais, que deveriam regular os fluxos de capital no mundo, não ousam tocar. É assim que os ricos e os especuladores se furtam ao pagamento dos impostos que lhes são devidos, deixando a austeridade para os demais.
Em última análise seremos nós que iremos pagar. Já estamos a pagar. O bom povo português.
Pedro Passos Coelho a encher a boca com a “justiça social”. Aguiar Branco a citar Lenine e Rosa de Luxemburgo. Que sensíveis que eles são às desigualdades sociais, à pobreza e ao desemprego.
Por sua vez, os patrões dos camionistas convocam uma greve que os sindicatos respectivos não aprovam.
Está tudo louco ou tomam-nos por parvos?
