“O
actual modo de funcionamento da economia mundial (e hoje existe efectivamente
uma economia mundial)
juntamente com as elites extraterritoriais que a fazem funcionar favorecem
organismos estatais que não podem
de facto impor as condições de gestão da economia e, menos ainda, a impor
restrições ao modo como aqueles que dirigem a economia entendem fazê-lo: a
economia é hoje decididamente transnacional. Virtualmente em todos os Estados,
pequenos ou grandes, a maior parte dos meios económicos mais importantes para a
vida quotidiana da população são «estrangeiros» - ou, dado que foram removidas
todas as barreiras aos movimentos do capital, podem tornar-se estrangeiros de
um dia para o outro, caso os governantes locais suponham ingenuamente poder
intervir.”
Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada, Ensaio sobre a Moral Pós-Moderna, relógio
D’Água. 2007. Pág. 253-254.
***
Bauman escrevia em 1995, há 17 anos portanto,
sobre a impotência dos Estados, ou dos “organismos estatais”, na determinação
dos rumos da economia, que passou definitivamente a funcionar num quadro que
transcende as nações (transnacional). O “modo de funcionamento da economia” a
que se refere Bauman em 1995, não podia ser mais actual. Vivemos já a hora em
que “a maior parte dos meios económicos mais importantes para a vida quotidiana
da população” se tornam estrangeiros, e, poderíamos acrescentar, chineses. Comunistas
capitalistas chineses! Os grandes vencedores da Era neoliberal. Trata-se de uma
grande ironia. Eles não comem tudo; eles compram tudo! Esta semana foi a vez da
Thames Water, a “maior empresa de
água e saneamento do Reino Unido” (Público,
21 de Janeiro de 2012, pág. 15) que “abastece 8,8 milhões de consumidores com
água e presta serviços de esgotos a cerca de 14 milhões de britânicos, em
Londres e regiões próximas”, ter sido comprada em 8,7% pelo fundo de
investimento China Investment Corporation.
Já antes a Three Gorges tinha comprado
21,3% da EDP. Água, energia, saneamento básico… – “os meios económicos” mais
importantes para a vida quotidiana da população”.
A China posiciona-se estrategicamente no campo
geopolítico e geoeconómico da globalização. E não sejamos ingénuos: não o faz
por altruísmo ou para “ajudar” o pobre Ocidente que até há pouco era rico e
colonizador e que agora implora por mais dinheiro. Fá-lo porque procura ganhar
uma posição hegemónica na economia e na política mundial. No futuro poderá
impor os seus interesses ao mundo: o que fará o Ocidente (ou o mundo) quando a
China ameaçar utilizar o embargo financeiro (essa nova arma), caso os seus
interesses sejam contrariados, por exemplo, na questão de Taiwan, essa ilha que
se segue, após Macau e Hong Kong?
