quinta-feira, dezembro 28, 2023

O Verde e o Negro

     Serra do Cume, 27 de Dezembro de 2023                                              © AMCD


“A Serra do Cume e a Serra da Ribeirinha constituem os bordos actualmente visíveis da caldeira de colapso do Vulcão dos Cinco Picos, o mais antigo da ilha Terceira. 


Daqui observa-se todo o interior da Caldeira dos Cinco Picos (a maior caldeira dos Açores com um diâmetro médio de 7 km), uma extensa caldeira dominada pelo verde das pastagens e o negro dos muros de pedra vulcânica, onde pontuam cerca de 15 cones de escórias de idade recente.” (Geoparque Açores)

sábado, dezembro 23, 2023

Feliz Natal

 Não o natal do pai natal capitalista, o natal da coca-cola, do consumo desenfreado, o natal americano, das melodias melosas e pegajosas. Natal com letra pequena.


Também não o natal da Igreja, bafienta e criminosa, corrupta e corrompida.


Sim, o Natal de Cristo, o condenado pela falível justiça do Homem, sempre longe da Justiça. Ele, que era mais do que um simples homem, não  aprovaria, por certo, o que fizeram em seu nome, os que mataram em seu nome, os que puniram em seu nome, os que violaram em seu nome.


Feliz Natal, é o que desejamos a quem passar por aqui.


Feliz Natal!

domingo, novembro 26, 2023

Os Direitos da Natureza

 



«Perante este cenário [de degradação dos ecossistemas terrestres motivada pela intervenção humana e pelos fenómenos climáticos extremos], a escolha que a Humanidade terá de fazer está entre continuar o crescimento desequilibrado dos últimos 50 anos, baseado em consumo e produção insustentáveis, ou transitar para uma vivência responsável com a Natureza com actividades, comportamentos e atitudes de solidariedade: antecipação e prevenção, a par duma eficaz e eficiente implementação de medidas e acções de regeneração e recuperação das áreas e ecossistemas degradados. O recente reconhecimento do direito humano a um ambiente limpo, saudável e sustentável, sendo relevante no contexto actual, coloca igualmente em evidência os direitos da Natureza

 

Maria José Roxo, Desertificação em Portugal, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2023, pág. 18-19 (realce nosso)

 

***

 

Não tínhamos ainda ouvido falar dos direitos da Natureza. Ainda que o ser humano não se devesse excluir da Natureza, pois também ele é um animal (embora, no caso, se fale de uma segunda natureza), a ideia parece-nos espantosa. Afinal, se há uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, porque não uma Declaração Universal dos Direitos da Natureza, de forma a protegê-la das actividades humanas intrusivas e disruptivas dos ecossistemas? Há aqui um conceito que vale a pena explorar.

 

A voz do Homem é também a voz da Natureza, uma natureza falante e reflexiva. Uma Natureza que se questiona a si mesma, assim como a sua própria origem e existência. O Homem tem toda a legitimidade para criar essa Declaração Universal dos Direitos da Natureza. Aliás, tem esse dever.

_________________________________

A Fundação Francisco Manuel dos Santos está de parabéns, pois dá-nos a conhecer os pensamentos dos melhores académicos portugueses de diferentes áreas, como é o caso da Professora Maria José Roxo relativamente à Geografia.


segunda-feira, outubro 23, 2023

A moral dos superiores

«A memória do Holocausto torna mais pesada a mão dos ocupantes israelitas dos territórios árabes: mantém-se viva a recordação da rentabilidade das deportações de massa, as rusgas, a tomada de reféns e os campos de concentração. À medida que a história avança, a injustiça tende a ver-se compensada por uma outra injustiça acompanhada pela inversão dos papéis. Só os vencedores, enquanto a sua vitória permanece incontestada, consideram (ou deformam) essa compensação como triunfo da justiça.  A superioridade moral é vezes de mais a moral dos superiores.»

Zygmunt Bauman (1995)

Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada, Ensaios sobre a Moral Pós-Moderna, Relógio d’Água, 2007, p.188.

***

Não se deve responder à barbárie com a barbárie. A lei de talião, no caso do conflito israelo-palestiniano, não se deve aplicar, caso contrário também se tornará bárbaro quem a aplica. O mais forte tem o dever moral de ponderar a resposta à agressão, quando essa resposta implicar a perda de vidas humanas inocentes (crianças, principalmente), ainda que tenha o direito de se defender contra a agressão, e ainda o direito e o dever de tudo fazer para libertar os reféns, com vida e saúde, se possível. Esta é a nossa posição, nesta fase do conflito israelo-palestiniano, que não se iniciou no dia 7 de Outubro, ainda que nesse dia os terroristas (sim, terroristas e não “combatentes”) tenham agredido barbaramente os israelitas. Se um dos inimigos não parar a espiral de violência, então a barbárie não terá fim.

Tempestade Bernard

 


domingo, outubro 08, 2023

Bandeira vermelha

     Bandeira vermelha, Fonte da Telha, 17 de Setembro de 2023                               © AMCD


     Terminus, Fonte da Telha, 17 de Setembro de 2023                                              © AMCD


sexta-feira, outubro 06, 2023

Praia de Altura, Algarve, 6 de Outubro de 2023

 

      Praia de Altura, Algarve, 6 de Outubro de 2023                                                    © AMCD

Não, não é o apocalipse. É a 6ª extinção, pá!

 



O “Apocalipse” é um conceito religioso, uma profecia de São João, um livro da Bíblia. Já a “extinção”, as cinco extinções que precederam a actual, estão cientificamente comprovadas (ao contrário dos apocalipses, sempre desmentidos, porque são baseados numa crença irracional). Infelizmente a situação actual não é um desses apocalipses que poderão vir a ser desmentidos. Seria bom se assim fosse. A situação actual exige planeamento, preparação e acção.

O camarada ali em cima, se pensa que os activistas agem com base numa crença religiosa e obscura, engana-se redondamente. O mundo já se encontra em colapso e ele ainda não reparou (sugiro-lhe a leitura do livro de Jared Diamond, Colapso, Gradiva, 2008).

 

É caso para dizer: “Fia-te na Virgem e não corras, pá!”

 

E não, o capitalismo não vai salvar-nos, como atestam, por exemplo, as extensas áreas dedicadas à lucrativa cultura do abacate, altamente consumidora de água, nos áridos concelhos do Algarve. Um dia destes, ainda vamos ter de decidir se a escassa água disponível nas albufeiras e nos mantos freáticos, vai para os campos de abacateiros e para os campos de golfe ou para a população das aldeias e lugarejos que povoam a serra seca. Impunham-se outras culturas, adaptadas à secura e poupadoras de água, mas a cobiça fala mais alto (nem multas ou ordens do tribunal demovem estes "grandes" agricultores).

 

Entretanto, continua no discurso dos políticos o mantra do “crescimento económico” a todo o custo, custe o que custar, com o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, a adiar as medidas conducentes à redução da emissão de gases com efeito de estufa por mais 5 anos, lá para 2035, para não comprometer o “crescimento económico” do seu país. O capitalismo é belo.

 

Deixo aqui algumas notícias destes dias que correm (não, não é um apocalipse).




***


***




A calma da paz

 Ora, a calma da paz incita ao esquecimento, ao passo que o ruído e o furor dos conflitos jamais abandonam a memória.

Michel Serres*

(*) Michel Serres, Antes é que era bom! Guerra & Paz, 2018, p. 15 



segunda-feira, outubro 02, 2023

sexta-feira, setembro 01, 2023

Lusco-fusco

 




Fonte da Telha, 30 de Agosto de 2023                                                        © AMCD

Enquanto a lua azul não vem, jogo de sombras.



quinta-feira, agosto 31, 2023

Corrida

 


       Fonte da Telha, 30 de Agosto de 2023                                                   © AMCD

quarta-feira, agosto 30, 2023

Rica Ericeira

 

       Ericeira, 2017                                                                                                              © AMCD

Um dos lugares mais frescos de Portugal para escapar à canícula, descoberto agora pelos ricos.

domingo, agosto 13, 2023

Abismos

 

O mundo não está bem. Raramente, nas últimas décadas, esteve tão perto de abismos diversos.

António Barreto, aqui e no Público de hoje

 

Quem luta com monstros deve velar para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.

                                                             Nietzsche

 

Abismos diversos. Temos o abismo nuclear, o abismo climático, o abismo demográfico, o abismo económico e financeiro (as crises geradoras de desemprego e miséria), o abismo sanitário (virológico e bacteriológico, pandémico), o abismo político (a ascensão dos regimes autoritários) e mais algum abismo que nos escapa ou, pior, que desconhecemos, como o peru do Dia da Acção de Graças que nem suspeita o que lhe vai acontecer, tão bem tratadinho que é. 

 

Caminhamos numa senda perigosa e estreita, rodeada de abismos. Não sabemos como estaremos quando sairmos daqui, ou se iremos sequer sair daqui.

 

E o que acontece quando nos pomos a mirar os abismos mais profundos, ali, até onde a vista alcança e se perde no negrume? Ouvimos soar do fundo uma ameaça aterradora. Um rugido gutural, nunca ouvido. O fim.

 

O melhor é atalhar caminho e estugar o passo, sem olhar para trás.

sexta-feira, agosto 11, 2023

Ainda a Igreja kitsch

 Há momentos em que o Kitsch se pode tornar uma coisa nauseabunda e é difícil imaginar que a própria hierarquia da Igreja não reconheça e não se sinta incomodada por ela.

António Guerreiro

"Deus ex Media", Ipsilon, Público, 11 de Agosto de 2023


***


O que é a Igreja afinal, senão a primeira multinacional do mundo, com as suas sucursais implantadas desde cedo em todos os continentes, à excepção da Antárctida.  Os seus serviços religiosos têm de ser promovidos de modo a serem empacotados e vendidos em todo o lado. Vive por isso bem com o kitsch.


Paulatinamente, e só dessa forma, a Igreja, com a sua inércia temporal, vai-se ajustando lentamente à rápida mudança social imposta pelas agendas progressistas. Também ela muda, sob pena de, se não o fizer, não conseguir vender os seus serviços, independentemente da vontade de Cristo (que expulsou os vendilhões, uma espécie de mercadores, do templo). Se a Igreja é a esposa de Cristo, então é uma esposa emancipada e empoderada que não precisa da anuência do marido para ir mais além. Nada que não soubéssemos há muito. 

domingo, agosto 06, 2023

Tudo muda

Todos os dias nasce um sol novo. (Heraclito) 

Ninguém pode regressar ao lugar onde já esteve. A cada microssegundo deixamos de ser quem éramos. A cada microssegundo somos já outro e assim é com todos os lugares.  Assim é com o Sol. Ninguém volta ao que já deixou. Esta é a mensagem da cantiga do pastor. 

 

Pastor

«Ai que ninguém volta
Ao que já deixou
Ninguém larga a grande roda
Ninguém sabe onde é que andou

Ai que ninguém lembra
Nem o que sonhou
Aquele menino canta
A cantiga do pastor»

 ***

Etiquetas