sexta-feira, julho 31, 2020

Banhistas


Renoir, Pierre-Auguste, Large Bathers (Les Grandes Baigneuses), 1884-87

quarta-feira, julho 29, 2020

O dinheiro de Bruxelas e o país dos espertalhões

Todos os espertalhões do país estão já a congeminar um plano para justificar o direito  ao dinheiro e à subvenção, ao fundo e ao maneio.

Clara Ferreira Alves, Revista E, Expresso,  24 de Julho de 2020

Não fosse este o país dos cobiçosos pilhadores-quando-podem. A ocasião faz o ladrão. Não sei porquê, vem-me sempre à memória a carraca de Albuquerque à saída de Malaca. Naufragou logo ali com o peso da pilhagem.

É o retrato de um povo. Se não de um povo, pelo menos de uma parte dele muito significativa.

terça-feira, julho 28, 2020

Escritos na parede, em Almada


Frases enigmáticas, escritas provavelmente por algum anarquista, de fugida, numa noite muito escura. Frases que nos desafiam de propósito, e, portanto, frases que gostamos de desafiar.

Eis uma das frases:

O futuro é passado no presente

Este “passado” é importante pois pode referir-se ao decorrer, e nesse caso a frase diz-nos que o futuro decorre no presente. Ou pode referir-se tão só ao que já ocorreu, ao tempo antes do presente. E aqui surge um paradoxo: como é que o futuro se pode considerar tempo antes do presente? A frase presta-se a diferentes interpretações e conduz-nos ao paradoxo.

Na verdade, o presente é o futuro do passado. Esta ideia está expressa no excelente livro de Ivan Krastev (2020), O Futuro por Contar, Objectiva, na página 18. Diz ele:

A diferença entre o passado e o presente é que nunca podemos conhecer o futuro do presente, mas já vivemos o futuro do passado.

Eis outra frase que lemos nas paredes, provavelmente escritas pela mesma pessoa, pois a letra era a mesma:

O dinheiro que salva também mata

Por que não o contrário? Ou seja: o dinheiro que mata também salva.

O “também” é de extrema importância na frase, assim como a palavra que surge no fim. Na frase inscrita na parede, o dinheiro é um malvado, pois no fim acaba por matar. Na frase que proponho o dinheiro no fim também salva. Acaba por ser uma visão mais positiva de um meio que é o dinheiro. O dinheiro não tem culpa. O uso que dele se faz é que pode ser questionável. Atirar no dinheiro é atirar ao lado.

Mas ainda assim, as referidas frases inscritas na parede são frases-pontapé. Frases que nos fazem pensar, nos interpelam e desafiam.

Mas como dizia Nanni Moretti: le parole sono importanti!

segunda-feira, julho 27, 2020

A bela Ferronière





















Leonardo da Vinci, La belle Ferronière, c. 1490

domingo, julho 26, 2020

Racistas ilustres*


Hoje derrubaram e vandalizaram a estátua do Cristóvão Colombo no Funchal, porque era racista, acusam-no. Sim à luz do contexto actual, Cristóvão Colombo era racista. Não o era, ou esse facto não relevava, no contexto histórico em que viveu. A história, se a analisarmos à luz do actual contexto moral, está cheia de racistas ilustres: Cristóvão Colombo, o padre António Vieira, Ghandi, Churchill, são os nomes que nos ocorrem, acusados de racismo, mas outros haverá. É bom não esquecer as atrocidades do passado, o esclavagismo e o imperialismo, os genocídios, é bom não esquecer a história, para que os mesmos erros não tornem a ser cometidos, mas também é bom não esquecer os contextos. Derrubar estátuas é um acto de zelotismo primário que não deve ser tolerado em democracia. Não se pode tolerar que uma minoria contorne a democracia para impor a sua vontade e a sua ideologia aos demais. Somos pelo livre jogo democrático. Se as estátuas desagradam então que se proponha um referendo para apurar se os cidadãos são favoráveis ou não à sua remoção do pedestal, na sua cidade.  Elas poderão ser removidas, mas se assim for que o sejam democraticamente. A democracia tem de falar mais alto, e no caso, a democracia directa.

ΩΩΩ

Será que os zelotas que desfiguraram a estátua de Atena e destruíram os templos da Era Clássica tinham razão? Será que os talibans que destruíram os budas de Bamiyan tinham razão? Será que os fundamentalistas do Estado Islâmico que destruíram Palmira tinham razão? Não nos parece.

Abaixo o fascismo iconoclasta!
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*Entenda-se que este título é uma provocação. Um oxímoro. Não há nada de ilustre no racismo. Mas há racismo e racistas. Mas muitas vezes confunde-se racismo com racistas e generaliza-se abusivamente a todo um povo a ignomínia do racismo, quando se diz que um povo é racista por nele haver racistas. A existência de racistas num povo não significa que todos o sejam, ou que a maior parte o seja.

Inclinações e prosternações: uma forma de jihad

Islâmicos prosternados junto a Hagya Sophia

















A exacerbação final [do militantismo sagrado islâmico] encontra a sua expressão mais concreta na prece obrigatória (salāt), praticada cinco vezes ao dia, cada uma compreendendo dezassete inclinações e duas prosternações – por isso, cada muçulmano praticante efectua diariamente oitenta e cinco inclinações e dez prosternações diante de Alá, ou seja, 29 090 inclinações e 3540 prosternações por ano lunar, com as recitações que as acompanham. (…) A palavra árabe masdjid, «mesquita» designa, por conseguinte, o «local de prosternação». Seria dar provas de leviandade de espírito subestimar o efeito formador do ritual praticado muitas vezes. O próprio profeta diz: Ad-dînu um’amala, a religião é o comportamento. Por esse motivo, os eruditos do islão chegam ao ponto de afirmar, com certa razão, que a prece ritual é uma forma de jihad.

Peter Sloterdijk (2009), A Loucura de Deus, Relógio D’Água, pág. 66.
(destaque a negrito nosso)

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A religião é o ópio do povo. Os ditadores gostam de ministrá-lo em doses maciças.

sábado, julho 25, 2020

A reabertura das escolas em tempos de pandemia: três casos




Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/ (consultado a 25 de Julho)


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A reabertura das escolas em tempos de pandemia é a grande questão política que se coloca neste momento e assim será em crescendo até Setembro. A importância das escolas no funcionamento das sociedades é fulcral. Se houvesse alguma dúvida em relação ao seu papel, esta pandemia contribuiu para apagá-la. De facto, é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. De acordo com a revista TIME “60% das escolas em 186 países e territórios encerraram devido aos confinamentos, levando a que 1,5 mil milhões de estudantes tivessem de ficar em casa”. Fala-se apenas de estudantes, mas o número avoluma-se quando se pensa em toda a comunidade educativa.

É compreensível a ansiedade de alguns governantes com a reabertura das escolas no Outono. Querem re-normalizar o funcionamento das sociedades e da economia o mais depressa possível. Mas, qualquer precipitação pode ter consequências trágicas, levando ao aumento da difusão dos contágios e, consequentemente, ao aumento exponencial do número de óbitos.

O artigo da TIME ilustra três exemplos de reabertura das escolas, um com relativo sucesso, o dinamarquês, um intermédio, o sul coreano e um que correu mal, o israelita. Olhando para os gráficos da evolução do número de casos por dia são patentes as diferenças entre os três países após a reabertura das escolas, facto que reflecte as diferentes condições com que reabriram.


Em Israel, inicialmente foi seguido o modelo da “bolha protectora”, mas ao fim de duas semanas após a reabertura das escolas a 3 de Maio, as limitações que se colocavam ao tamanho das turmas foram levantadas. O resultado foi o agravamento das situações de contágio entre alunos, professores e comunidade educativa, forçando o governo a fechar as escolas a 3 de Junho.

Seria bom que isto não acontecesse em Portugal, quando as escolas reabrirem em Setembro.

quinta-feira, julho 23, 2020

Medo e crueldade












Em nenhuma parte da Europa o Alemão me aparecera tão nu, tão descoberto, como na Polónia. No decorrer da minha longa experiência de guerra, tinha-me convencido de que o Alemão não tem medo do homem forte, do homem armado que o enfrenta com coragem e que lhe faz frente. O Alemão tem medo dos desarmados, dos débeis, dos doentes. O tema do «medo», da crueldade alemã como efeito do medo, tornara-se o tema fundamental de toda a minha experiência. Para quem olhar bem, com inteligência moderna e cristã, este «medo» inspira piedade e horror, e nunca me tinha suscitado tanta piedade e tanto horror como na Polónia, onde me aparecia em toda a sua complexidade o elemento mórbido, feminino, da sua natureza. O que move o Alemão para a crueldade, para os actos mais fria, mais metódica, mais cientificamente cruéis é o medo. O medo dos oprimidos, dos desarmados, dos débeis, dos doentes, o medo dos velhos, das mulheres, das crianças, o medo dos judeus.

Curzio  Malaparte (1944), Kaputt, Publicações Europa-América, 1979, pág. 88.


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O desconhecimento e o desconhecido escondem-se sempre por trás do medo. O medo do outro, esse desconhecido, pode conduzir, em situação extrema, à agressão, quando pressentimos no outro uma potencial ameaça, um risco, um perigo. Colocamo-nos em guarda ante o desconhecido. O outro é um abismo.

Os Alemães pouco participaram das grandes navegações e dos encontros entre povos e civilizações, iniciadas no século XV. Só quanto os europeus partilharam a África, no final do século XIX, lhes coube a Togolândia, o Camarões, a África Oriental (actual Tanzânia) e o Sudoeste Africano (actual Namíbia). Neste último território ensaiaram o extermínio de povos autóctones e o funcionamento de campos de concentração*, “solução” que viriam mais tarde a adoptar largamente na Europa, durante a IIª Guerra Mundial, para fins de extermínio, não só de judeus, mas principalmente de judeus.
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(*) Sobre as atrocidades dos Alemães no Sudoeste Africano, ver Niall Ferguson, Civilização: o Ocidente e os Outros, Civilização Editora, 2012, pp. 205-213.

quarta-feira, julho 22, 2020

O brasileiro

O brasileiro é um feriado.
Nelson Rodrigues (1912-1980)*

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*citado por: 

Oscar Mascarenhas, O Grande Livro dos Pensamentos & das Citações, Marcador, 2015.

segunda-feira, julho 20, 2020

Não, não é Horácio, é Macaulay


XXVII

Then out spake brave Horatius,
The Captain of the Gate:
"To every man upon this earth
Death cometh soon or late.
And how can man die better
Than facing fearful odds,
For the ashes of his fathers,
And the temples of his gods

 Thomas Babington Macaulay, Lays of Ancient Rome (1842)

Uma tradução:

Então falou o bravo Horácio,
O Capitão do Portão:
“A todo o homem acima desta terra
A morte virá mais cedo ou mais tarde.
E que melhor morte pode um homem desejar
Do que enfrentando riscos tremendos,
Em nome das cinzas dos seus antepassados
E dos templos dos seus deuses

Thomas Macaulay, Cantos de Roma Antiga (1842)

domingo, julho 19, 2020

Deserta como o fim do mundo

















Alentejo. Imediações de Santa Margarida do Sado.

Ouvia-se um sibilar distante. Um som que se confundia com o ligeiro sopro do vento nas copas das árvores, mas, apurando mais o ouvido, percebia-se que eram veículos circulando ao longe a alta velocidade. Os automóveis sibilavam na auto-estrada. Naquela estrada porém, nem um só passou enquanto estivemos parados para abastecer o estômago.  36º C à sombra e uma estrada deserta.

Deserta como o fim do mundo.

quarta-feira, julho 15, 2020

Era uma vez na Europa


Boaventura de Sousa Santos (2020), A Cruel Pedagogia do Vírus, Edições Almedina.

óóóóó

Uma pandemia desta dimensão provoca justificadamente comoção mundial. Apesar de se justificar a dramatização, é bom ter sempre presente as sombras que a visibilidade vai criando. Por exemplo, os Médicos Sem Fronteiras estão a alertar para a extrema vulnerabilidade ao vírus por parte dos muitos milhares de refugiados e imigrantes detidos nos campos de internamento na Grécia. Num desses campos (campo de Moria), há uma torneira de água para 1300 pessoas e falta sabão. Os internados não podem viver senão colados uns aos outros. Famílias de cinco ou seis pessoas dormem num espaço com menos de três metros quadrados. Isto também é Europa – a Europa invisível.

Boaventura de Sousa Santos (2020), A Cruel Pedagogia do Vírus

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Antes de mais diga-se que o livrinho de Boaventura de Sousa Santos é excelente, porque convida à reflexão. Mas não concordamos com tudo.

O facto de cairmos de paraquedas em solo europeu não nos torna automaticamente europeus. Estar na Europa não implica necessariamente ser da Europa ou ser europeu. Para contrariarmos Boaventura de Sousa Santos, quando refere que “Isto também é Europa – a Europa invisível.” diremos que não é Europa, é antes na Europa. Na fronteira sul da Europa, no caso. A constatação deste facto deverá aliviar as nossas consciências? Talvez não. A Europa encontra-se perante um desafio e Boaventura de Sousa Santos desafia-nos.

Digamos que entre os recém-chegados à nossa casa há os que fogem do pesadelo da guerra (os refugiados) e há os que perseguem com ambição um sonho europeu (os imigrantes económicos, muitos deles ilegais). E para tornar as coisas ainda mais complexas há ainda os que fogem dum pesadelo bélico e acalentam, ao mesmo tempo, o sonho europeu. Ora defende-se aqui que devem ser acolhidos todos os que fogem ao pesadelo da guerra, independentemente de acalentarem ou não o sonho europeu. Defende-se aqui, também, que a dívida moral dos europeus para com os outros povos do mundo, pelas malfeitorias que os europeus realizaram no passado, entre as quais se contam a exploração colonial e a escravatura, não é eterna, ao contrário do que muitos parecem defender, para justificarem a defesa de políticas migratórias de porta escancarada.

Não, não é Europa, é na Europa. E sim, é invisível, mas na Europa invisível, porque ninguém para lá vira o rosto*.
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(*) Temos vergonha em dizer que de lá toda a gente desvia o rosto porque nos vem à memória o gesto que os civis alemães esboçavam quando eram obrigados, pelas tropas aliadas no final da IIª Guerra Mundial, a caminhar entre as pilhas de cadáveres dos campos de concentração: desviavam o rosto.

terça-feira, julho 14, 2020

Entretanto, no Mar da China Meridional

Os porta-aviões USS Nimitz e USS Ronald Reagan e a respectiva escolta, num raro exercício no Mar da China Meridional 

Entretanto, no Mar da China Meridional, jogam-se jogos de guerra. A hiperpotência em declínio mostra os dentes à potência em ascensão. Uma manifestação de força para conter veleidades chinesas. Os E.U.A. não estão dispostos a tolerar a expansão chinesa no Mar da China Meridional, que em parte se baseia na construção de ilhas artificiais para depois reivindicar direitos soberanos sobre o mar envolvente. Há muito que a ilha da Formosa (Taiwan), localizada imediatamente a nordeste daquele mar, está na mira da China, e todos sabemos o que trava os chineses. Não ousarão esboçar um gesto de invasão enquanto se sentirem menos poderosos do que os E.U.A. também naquelas águas. Os E.U.A., entretanto, não se inibem de anunciar que consideram ilegal a maior parte das reivindicações marítimas chinesas.

A China é paciente.

segunda-feira, julho 13, 2020

O mundo de amanhã. Pobre América.


Carlos Gaspar (2020), O Mundo de Amanhã, Geopolítica Contemporânea, Fundação Francisco Manuel dos Santos.
óóóó

O livrinho de Carlos Gaspar, O Mundo de Amanhã, Geopolítica Contemporânea interessa aos que se preocupam com os rumos do mundo.

Nele se percebe que o futuro geopolítico já é o presente. Estados Unidos da América, hiperpotência em declínio, Rússia estagnada, a lutar por manter o estatuto de superpotência, e China em ascensão económica, militar, científica e tecnológica, são os actores de primeira grandeza nesse palco geopolítico do mundo, com a União Europeia (conjuntamente com o Reino Unido), em segundo plano.

Da conclusão do autor concluímos que o mundo de amanhã é incerto, balizado no entanto por algumas certezas que se prendem com os protagonistas geopolíticos, o jogo entre eles, e os possíveis papéis que irão desempenhar no teatro do mundo.

Nos primeiros parágrafos da conclusão concluímos que o futuro do mundo oscila entre uma utopia e uma distopia: “No mundo de amanhã, é possível que as pessoas vivam bem para lá dos cem anos…” e, no parágrafo seguinte, “No mundo de amanhã, é igualmente possível que o isolamento e o tédio condenem os mais velhos a uma escolha impossível entre a melancolia e o suicídio…” (Gaspar, 2020, págs. 97-98). É assim que começa, na conclusão, por traçar dois cenários possíveis e extremos, mas vai muito para além das questões demográficas e gerontológicas.

Talvez o rumo se encontre entre a utopia e a distopia, num equilíbrio instável. E, neste caso, é sempre bom saber de que lado se encontra o abismo.

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Muito se sublinhou, mas cá vai uma frase sublinhada e uma reflexão:

O “sonho chinês” realiza-se com as novas Rotas da Seda.

Carlos Gaspar (2020), op. cit., pág. 46

Ah, as grandezas do mundo e os sonhos de grandeza! Muitos querem ser grandes, projectando no futuro os gloriosos momentos do passado. Sonham os chineses então com futuras rotas da seda. Os russos sonham com paradas militares imperiais. Os portugueses, com projecções no mar, o mar, o mar. Sonhos de impérios pretéritos.

Os americanos ainda são grandes e não sonham. Têm pesadelos. Pesadelos chineses. Sentem a sua grandeza ameaçada. Sentem que perdem o pé. Só assim se explicam as proclamações de America first!, e, Make America great again! Nem que seja atropelando os demais, açambarcando meios e remédios, como se tem visto com o remdesivir. Pobre América.

domingo, julho 12, 2020

Azenhas do Mar em tempo de SARS-CoV-2























Envolta na bruma, depois do almoço domingueiro, em pleno Verão. Uma frescura. Cerca de 21ºC quando Lisboa arde com 32º C. Um refúgio contra o calor abrasador do Estio, a poucos quilómetros da capital.

É claro que no novo normal é impossível evitar o medo do vírus quando se sai à rua. Ele avista-se por vezes no olhar daqueles com quem nos cruzamos, o que é muito desagradável. No caminho, com cerca de dois metros de largura, que se avista no canto inferior direito da fotografia de baixo,  uma família  - pai, mãe e dois filhos - que vinha subindo, pouco antes de cruzar-se connosco, colocou as máscaras e apartou-se bem, não fossemos ter peçonha. O olhar receoso da filha adolescente por detrás da máscara cruzou-se com o meu. Reparei depois nesse olhar já aliviado mais adiante, ao retirar a máscara com todo o cuidado.

Diabo de novo normal.

Mas também se ouviram risos nas esplanadas, de gente jovem, ociosa e feliz.

segunda-feira, julho 06, 2020

For a Few Dollars More, de Ennio Morricone


Quero aqui também homenagear o maestro Ennio Morricone (1928-2020), cuja música me tem acompanhado desde tenra idade. Por vezes dava comigo a trauteá-la sem me lembrar bem da proveniência. Onde é que tinha ouvido aquilo? Música magnífica. Partiu hoje.

Curiosamente, faz quase um ano em que publiquei aqui uma música sua.

Magnífico.

Até sempre Ennio Morricone.

A Geografia não está em lugar nenhum, a Geografia está em todo o lado


óóóóó

Origens, Como a Terra nos Criou, de Lewis Dartnell, é o melhor livro de Geografia que li nos últimos anos, embora seja mais do que um livro de Geografia. 

As prateleiras das livrarias reservadas aos livros de Geografia são, curiosamente, difíceis de localizar pois é reduzido número de livros que as compõem: alguns atlas e meia dúzia de livros técnicos. Por vezes nem existem. Este facto poderia levar-nos a pensar que se trata de uma disciplina moribunda, se compararmos o espaço dedicado à História, à Economia, à Política, à Filosofia ou à Sociologia. Mas assim não é. É um caso paradoxal: a Geografia não está em lugar nenhum porque a Geografia está em todo o lado. Encontramo-la na estante de Arquitectura, por exemplo nos magníficos escritos de Álvaro Domingues, do qual destaco A Volta em Portugal (2017), encontramo-la na estante da Política, nos livros de Tim Marshall, por exemplo, com o famoso Prisioneiros da Geografia (2017), encontramo-la no magnífico Colapso (2008) de Jared Diamond, na estante de História, e até o relato da Primeira Viagem em Redor do Mundo (2020), de António Pigafetta, justamente também na estante de História, embora não deixe de ser um relato de grande interesse geográfico. E agora, noutra estante qualquer, perto de si, que não a de Geografia, encontramos o Origens, Como a Terra nos Criou (2019), de Lewis Dartnell.

Estes livros são, acima de tudo, livros de Geografia. Deviam ser incontornáveis (para não dizer “obrigatórios”) para quem ensina e para quem quer aprender Geografia, ou para quem quer ter uma perspectiva geográfica do mundo, pois tratam da relação entre o Homem e a Terra ou, dito de outra forma, tratam do espaço geográfico, esse espaço que resulta das interacções que se estabelecem entre o meio e o ser humano que o habita e ao qual se adapta e transforma.

Cinco estrelas para o Origens, Como a Terra nos Criou, de Lewis Dartnell!

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