Carlos Gaspar (2020), O Mundo
de Amanhã, Geopolítica Contemporânea, Fundação Francisco Manuel dos Santos.
óóóó
O livrinho de Carlos Gaspar, O
Mundo de Amanhã, Geopolítica Contemporânea interessa aos que se preocupam com os rumos
do mundo.
Nele se percebe que o futuro
geopolítico já é o presente. Estados Unidos da América, hiperpotência em declínio,
Rússia estagnada, a lutar por manter o estatuto de superpotência, e China em
ascensão económica, militar, científica e tecnológica, são os actores de
primeira grandeza nesse palco geopolítico do mundo, com a União Europeia
(conjuntamente com o Reino Unido), em segundo plano.
Da conclusão do autor concluímos
que o mundo de amanhã é incerto, balizado no entanto por algumas certezas que
se prendem com os protagonistas geopolíticos, o jogo entre eles, e os possíveis
papéis que irão desempenhar no teatro do mundo.
Nos primeiros parágrafos da
conclusão concluímos que o futuro do mundo oscila entre uma utopia e uma
distopia: “No mundo de amanhã, é possível que as pessoas vivam bem para lá dos
cem anos…” e, no parágrafo seguinte, “No mundo de amanhã, é igualmente possível
que o isolamento e o tédio condenem os mais velhos a uma escolha impossível
entre a melancolia e o suicídio…” (Gaspar, 2020, págs. 97-98). É assim que
começa, na conclusão, por traçar dois cenários possíveis e extremos, mas vai
muito para além das questões demográficas e gerontológicas.
Talvez o rumo se encontre entre a
utopia e a distopia, num equilíbrio instável. E, neste caso, é sempre bom saber de que lado se
encontra o abismo.
***
Muito se sublinhou, mas cá vai uma frase sublinhada e uma reflexão:
O “sonho chinês” realiza-se
com as novas Rotas da Seda.
Carlos Gaspar (2020),
op. cit., pág. 46
Ah, as grandezas do mundo e os
sonhos de grandeza! Muitos querem ser grandes, projectando no futuro os gloriosos
momentos do passado. Sonham os chineses então com futuras rotas da seda. Os
russos sonham com paradas militares imperiais. Os portugueses, com projecções
no mar, o mar, o mar. Sonhos de impérios pretéritos.
Os americanos ainda são grandes e não sonham. Têm pesadelos. Pesadelos chineses. Sentem a sua grandeza ameaçada. Sentem que perdem o pé. Só assim se explicam as proclamações de America first!, e, Make America great again! Nem que seja atropelando os demais, açambarcando meios e remédios, como se tem visto com o remdesivir. Pobre América.
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