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domingo, maio 15, 2022

O fogo ateado na Europa Oriental

Atearam um grande fogo na Europa Oriental, pensando que não se queimariam, longe que estavam, do outro lado do oceano (EUA), ou fora da Europa continental (Reino Unido). Os que estavam mais próximos ficariam com incumbência de o apagar, com prejuízo seu e ganho deles. E ateado o fogo, foram lançando mais lenha e mais gasolina. A Europa Ocidental e continental, iria provavelmente sentir algum calor. Talvez se queimasse, quem sabe? A Europa Oriental, arderia. E que conveniente seria para eles uma guerra na Europa e uma Europa a arder.

Findo o mercado do Afeganistão onde permaneceram 20 anos a usar quantidades massivas de armas e equipamento militar, a indústria do armamento tinha de arranjar outro mercado para escoar a sua imensa produção. Além disso, havia ainda que vender excedentes de gás natural. 

Globalização, como é sabido, é acima de tudo interdependência entre países e espaços económicos. Como não poderiam estar os países do centro e leste europeus numa relação de interdependência com a Rússia? Construíram gasodutos e oleodutos, pois então. Interdependência que, se continuasse a aprofundar-se, poderia ser um risco para outros espaços económicos rivais (e os EUA comportam-se como um espaço rival da U.E. no campo económico). Agora vendem quantidades massivas de armas a uma Europa que se rearma e, na verdade, que tem de se rearmar e faz bem em rearmar-se já. Uma Alemanha que se rearma, (compra F-35 aos EUA, e já pensa em encomendar o Domo de Ferro aos israelitas) e que porá a sua indústria e engenharia a produzir e a inventar mais armas. Rapidamente terá armas nucleares, se quiser. Rapidamente se converterá numa grande potência militar. Rezam as Crónicas da Segunda Guerra Mundial* que a Alemanha ao entrar na guerra tinha 57 submarinos, durante a guerra pôs ao serviço 1 111 e no final ainda lhe sobravam 785.

A Europa tem de rearmar-se porque nunca se sabe que tipo de putin se sentará no Kremlin, ou que tipo de trump ou de biden se sentará na Casa Branca. Porque se hoje é Putin, amanhã a ameaça, poderá vir de outro lado. Ou até, de vários lados.

E, além disso, continuamos todos muito "interdependentes" da mui democrática China, respeitadora zelosa dos Direitos Humanos. E que dizer da nossa interdependência com a mui democrática Turquia, um paraíso dos Direitos Humanos, que ocupa o Norte de um país da U.E. e pertence à NATO. Quando Portugal integrou a NATO, no início, estava longe de ser uma democracia. Não nos venham falar agora de um conflito pela liberdade e pela democracia. A Ucrânia tem de lutar pela sua autodeterminação e liberdade contra o opressor russo. Agora tem. Mas este conflito podia ter sido evitado, se tivesse havido mais astúcia, inteligência e vontade. Ainda recordamos uma entrevista de Zelensky, antes do início da invasão russa. Como ziguezagueou o líder ucraniano.

Dizem os brasileiros que as onças se cutucam com varas longas. Neste caso não houve esse cuidado com a onça russa.

Este conflito foi atiçado. Podia não ter sido. As cidades podiam estar de pé e os que morreram podiam estar vivos. A Ucrânia podia ter jogado com o tempo, mas foi colocada ante uma emergência. É uma tragédia, porque, por definição “uma tragédia é um desastre que podia ter sido evitado”**.

A U.E. não pode andar ao sabor dos interesses das grandes potências ou tornar-se um joguete dos Estados Unidos da América. A U.E. não pode ser uma extensão do Império Americano, que nos domina com o seu soft power, nem de nenhum outro. Macron já percebeu isso e os alemães também. E De Gaulle tinha uma certa razão. A França foi passada para trás pelos americanos e ingleses na venda de submarinos à Austrália antes desta guerra ter começado, tal o desespero da indústria de armamento americana, e o chanceler alemão foi humilhado por Biden, quando este, a seu lado, numa conferência de imprensa, respondeu por ele, que fecharia o gasoduto Nord Stream 2 alemão, como se fosse ele o Imperador e o chanceler um procônsul. O chanceler permaneceu sempre calado, mesmo quando antes lhe colocaram a questão.

É disto que a Europa tem de livrar-se: dos ditames dos Putins e dos Bidens (e dos Trumps) deste mundo. Chegou a hora da Europa, e ela sozinha, seguir e determinar o seu próprio rumo.

Aos americanos estaremos sempre gratos pelo sangue que derramaram no passado, nos solos da Europa Ocidental, para a libertarem do imperialismo e do fascismo. Mas os tempos agora são outros, os americanos são outros e a Europa é outra.

_________________________________

(*) AAVV, Grande Crónica da Segunda Guerra Mundial, Vol. 3. Selecções do Readers's Digest, 1978, pág. 458.


(**) Eliot Ackerman, James Stavridis, 2034, 2.ª ed., Penguin Random House, 2022, pág. 251.

segunda-feira, maio 09, 2022

O trauma da Primeira Guerra, da Segunda e da Terceira

Ninguém foi para a Segunda Guerra Mundial a cantar, nem mesmo os alemães.

Eric Hobsbawn

A Era dos Extremos, Editorial Presença, 3ª ed., 2002, p. 155.

****

Cantavam enquanto marchavam para a guerra, os soldados da Primeira Guerra. Alegremente marchando para o matadouro. Isto no início, quando ignoravam a lama e a metralha, o gás e o arame farpado.

Para a Segunda Guerra marcharam em silêncio, temerosos e soturnos, com a memória da Primeira nos encéfalos.

Para a Terceira Guerra, como marcharão? Com lágrimas? Alguém marchará? Ou antes da bota cardada bater no chão, o chão marchará e os corpos arderão como tochas? Não, para a Terceira Guerra ninguém marchará. Só os loucos.

E no entanto, hoje é dia de marchas e de memória em Moscovo. Comemoram, mas não parecem estar a fazer um correcto uso da memória. 
Se não, não marchariam como marcham, carreando os monstros nucleares da Terceira Guerra pela trela. Não. Nem agiriam como agem. Nem gritariam como gritam: hurrá! hurrá! hurráaaaaaaaaaaaaaa!


sábado, março 26, 2022

O metro por casa


Para quando o Sol?

Para quando a paz?

Para quando a luz?

Para quando a corrida sob o céu limpo?

Para quando o brilho dos teus olhos alegres?

Para quando as brincadeiras no parque?

Para quando os teus braços e abraços?

Para quando, para quando, para quando,

os leves sonhos das noites tranquilas?   

quarta-feira, julho 27, 2016

Animais culturais

Somos animais culturais e é a riqueza da nossa cultura que nos permite aceitar o nosso inegável potencial para a violência e acreditar, ainda assim, que a sua expressão é uma aberração cultural.  


John Keegan, Uma História da Guerra, Tinta da China, 2009, pág. 22

terça-feira, dezembro 29, 2015

As cidades são os cidadãos

Escrevo da invicta cidade do Porto acerca da defunta cidade de Ramadi, no Iraque.

Os ecrãs de televisão mostram-nos soldados vitoriosos a festejar a conquista da outrora cidade. Restam agora apenas os escombros. Nenhum cidadão ficou para acolher de braços abertos os libertadores. Nem mulheres, crianças ou flores. As cidades são os cidadãos.

Ali existiu uma cidade.

sábado, setembro 20, 2014

A Revolução Industrial e a guerra contra a Terra

Desde a revolução industrial nascida das minas de ferro britânicas, a metalização da sociedade adquiriu ainda uma nova dimensão. Simultaneamente, a exploração do interior da terra dá um salto. Nascem então minas gigantescas que descem até às profundidades mais negras das entranhas da terra. Os mineiros tornam-se o exército-fantasma da civilização industrial – exploradores explorados; os operários da siderurgia tornam-se a tropa de elite do ataque capitalista contra a crosta «avara» da terra. Finalmente, a economia moderna capitaliza todas as riquezas naturais do subsolo e, por milhões de penetrações, de perfurações e de extracções, faz avançar a guerra mineralógica contra a crosta da terra para queimar as riquezas extraídas ou para as transformar em utensílios e em sistemas de armamento. Quotidianamente, as civilizações industriais condenam à morte milhões e milhões de seres vivos e milhões de toneladas de substâncias. Nelas se consuma a relação mantida com a terra pelos senhores saqueadores das civilizações ocidentais.

Peter Sloterdijk, Crítica da Razão Cínica, Relógio D’Água, 2011, p. 444.

 ***

A difusão planetária da industrialização generalizou a guerra contra a Terra. Já não é apenas uma questão entre as civilizações ocidentais e a Terra. Os saqueadores estão por todo o lado e o saque realiza-se já em todos os espaços civilizacionais, incluindo os das civilizações não ocidentais, emuladoras do Ocidente. Com a Revolução Industrial, o saque, que já antes se iniciara, agudizou-se, tornou-se virulento e pandémico. 

sexta-feira, setembro 05, 2014

E aí, onde aparece, começa a noite escura

No «projéctil capaz de pensar», chegámos ao ponto extremo da moderna dissimulação do sujeito, pois o que se chama sujeito na época moderna é na verdade esse eu da autoconservação que se está a retirar passo a passo da vida até ao auge paranóico.
(…)
A próxima grande guerra já só verá como combatentes pessoas esquizofrénicas e máquinas. Homunculi, representantes do Estado, gerentes-lémures desdobrados das forças destrutivas, premirão, quando «for preciso», os botões decisivos, e robots heróicos assim como máquinas infernais «capazes de pensar» saltarão uns sobre os outros – o experimentum mundum estará terminado: o ser humano era um falhanço. O Iluminismo só pode extrair a seguinte conclusão: não se pode iluminar, esclarecer [al. aufklären] o ser humano, pois este era já em si a falsa premissa do Iluminismo. O ser humano não basta. Encerra em si o princípio obscurecente da dissimulação, e aí onde aparece o seu eu não pode luzir o que foi prometido por todos os Iluminismos: a luz da Razão.

Peter Sloterdijk, Crítica da Razão Cínica, Relógio D’Água, 2011, pp. 446-447.

***

Estamos perante outra versão do dito heideggeriano segundo o qual só um deus poderá salvar-nos. Para Sloterdijk, nem a Ciência nem a Razão podem salvar-nos. Para ele o Homem é uma experiência falhada: “o ser humano era um falhanço”. O ser humano é a “falsa premissa do Iluminismo”. “O ser humano não basta”, diz ele, nem se basta a si mesmo, para se salvar: só um deus, caso exista, o poderá salvar.

Até lá a loucura prossegue, enredada no mais profundo desespero.

A coisa-para-ti.

Aquilo que destinámos ao inimigo – a sua aniquilação numa grande superfície por consumpção, contaminação, atomização -, temos de começar por o fazer sofrer à própria arma. No fundo, mais não é do que a nossa mensagem para o nosso adversário, transmite as nossas intenções a seu respeito. Por esta razão, as armas são os representantes do inimigo no nosso próprio arsenal. Quem forja uma arma dá a perceber ao seu inimigo que será tão impiedoso a seu respeito como a respeito da moca, do bloco de ferro, do obus e da ogiva. A arma é já o adversário maltratado; ela é a coisa-para-ti. Quem se arma está sempre já em guerra. De facto, esta opera continuamente segundo alternâncias de quente e de frio e chamamos abusivamente paz à fase fria. Na óptica do ciclo polémico, a paz significa tempo do armamento, quer dizer, transferência das hostilidades para os metais; a guerra é, por conseguinte, a utilização e consumo dos produtos de armamento; a actualização das armas contra o adversário. 

Peter Sloterdijk, Crítica da Razão Cínica, Relógio D’Água, 2011, p. 445.
(escrito em 1983, destaques nossos)

*** 

A paz é mais do que um estado em que se ganha fôlego e músculo para a guerra seguinte. A paz é já a fase fria da guerra incessante. De acordo com esta acepção vivemos sempre num estado de guerra. Guerra contra a Natureza, guerra contra os outros, guerra contra nós próprios.

terça-feira, agosto 12, 2014

Memórias e danças

O Meridiano de Sangue, de Cormac McCarthy, é uma obra-prima do género western. E a tradução, de Paulo Faria, se não enriquece a obra, está à altura dela. (*)

Ficam duas citações do juiz Holden e as respectivas reflexões sobre as mesmas.

Sonho ou realidade?

As memórias dos homens são incertas e o que aconteceu no passado pouco difere do passado que não aconteceu.

Cormac McCarthy, Meridiano de Sangue, Biblioteca Sábado, 2008, pág. 273

***

Por vezes as recordações misturam-se com os sonhos e, em certas circunstâncias, quando recordamos o passado, ficamos na dúvida se aquilo que sentimos como tendo sido um acontecimento vivido não se trata afinal de um sonho tido sobre esse mesmo acontecimento.

Dança ritual da guerra

Uma coisa te digo. À medida que a guerra vai sendo aviltada e a sua nobreza posta em causa, os homens honrados que reconhecem a santidade do sangue vêem-se excluídos da dança, que é um direito dos guerreiros, e deste modo a dança converte-se numa falsa dança e os dançarinos em falsos dançarinos. E todavia, haverá sempre um dançarino que fará jus a esse título, e consegues adivinhar quem será?

Cormac McCarthy, Meridiano de Sangue, Biblioteca Sábado, 2008, pág. 273

***

É caso para dizer, que quem dança por último dança melhor.

Desconfiamos que as danças primevas começaram por ser danças rituais. A dança é uma forma de expressão universal e desenvolveu-se em todas as civilizações e culturas do planeta, civilizações e culturas que evoluíram até certo momento, em total desconhecimento da existência das demais. A universalidade da dança não parece por isso ter resultado de uma difusão por contágio, mas o seu aparecimento parece relacionado com um determinado estádio da evolução humana. Não se conhecem sociedades não humanas que dancem, muito menos ritualmente, embora alguns pássaros pareçam dançar em rituais de acasalamento.

Ainda hoje se dança nos casamentos, na nossa sociedade. Em certas culturas, a passagem à idade adulta é marcada por danças rituais e celebratórias. E existem ainda as belicosas danças da vitória. Danças guerreiras.

E até os demónios mais belicosos dançam uma estranha dança, como Hitler, em 1940, ao saber da queda de Paris. Mas por último não foi ele quem dançou.

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(*) - George Steiner diz que certas traduções chegam até a ser enriquecedoras. É o caso, a nosso ver.

sexta-feira, julho 12, 2013

X-47B

Steve Helber / Associated Press

Voa sozinho. Aterra sozinho. Meio caminho andado para matar sozinho.

Como reza um velho provérbio chinês: todas as grandes caminhadas começam com um pequeno passo.

O passo foi dado. (Post sriptum: talvez já tenha sido dado há muito tempo.)

(O X-47BJá tínhamos dado por ele.)

sexta-feira, janeiro 27, 2012

A guerra para além do homem

O Drone X-47B consegue voar sozinho e aterrar, apenas com o auxílio dos computadores de bordo. Representa um novo paradigma na “arte” da guerra: a morte e a destruição passarão a ser semeadas, já não por homens armados, mas por máquinas que operam de forma semi-independente.

Com as novas armas temos hoje a garantia de que a guerra prosseguirá para além da extinção humana. Já ninguém as comanda, nem sequer de forma remota. Questionava-se em tempos um académico acerca da legitimidade das guerras comandadas, já não por militares, mas por civis que, levantando-se pela manhã, se dirigiam ao local de trabalho: um posto de controlo remoto, algures nos EUA, onde se comandavam drones que sobrevoavam terras distantes, fotografando, metralhando e bombardeando se fosse necessário. Ao fim do dia esses funcionários ou empregados regressavam ao aconchego do lar com o sentimento de missão cumprida, enquanto no distante Paquistão alguém chorava os seus mortos.

Pois bem, com as novas armas a questão começa a perder acutilância. No futuro a guerra poderá escapar não só à alçada dos militares mas também à dos civis. Será coisa de máquinas. Não foi Kasparov vencido pelo Deep Blue? É o admirável mundo novo. O pesadelo do Exterminador entre nós. E ainda que o homem seja varrido da face do planeta, podemos estar descansados: as máquinas ficarão por cá, assegurando a guerra perpétua.

terça-feira, julho 06, 2010

Ainda sobre bárbaros, fronteiras e impérios

A diferença entre o espaço controlado e o espaço incontrolado é a diferença entra a civilidade e a barbárie.»

(…)

«Em primeiro lugar, ao longo da história da modernidade, a fronteira entre a civilidade e a barbárie nunca coincidiu com as fronteiras do Estado-nação e, menos ainda, com a circunferência partilhada da “parte civilizada do mundo” no seu conjunto. Hiroshima varreu os bárbaros “lá fora”, mas Auschwitz e o Gulag, os bárbaros “cá dentro”. (…) Em nenhum momento da história moderna foi permitido aos bárbaros ficarem em paz “ficando à porta”: eram objecto de desprezo, espiados e desenraizados de uma maneira razoavelmente caprichosa que não deixava de evocar o carácter caprichoso que lhes era, a eles, atribuído por definição.»

(…)

«Bem vistas as coisas, e talvez originariamente, houve sempre um selvagem aprisionado no íntimo de cada ser humano civilizado

(…)

«Em segundo lugar, também não é rigorosamente verdade que “a fronteira entre civilidade e violência já não pode ser encontrada no limite do espaço territorial soberano”. As guerras ortodoxas e passadas de moda “entre nós e eles” são travadas e continuarão a ser travadas durante algum tempo mais sob as bandeiras da santa cruzada da civilização contra a barbárie, da paz contra a violência.»

Zygmunt Bauman (1995). A Vida Fragmentada, Ensaios sobre a Moral Pós-Moderna. Relógio de Água, 2007. Páginas 150-153.

terça-feira, março 09, 2010

O Eixo do Mal

Multiplicam-se as crianças mutantes de Fallujah. Ver, aqui, aqui e aqui.

Pedem agora às iraquianas de Fallujah para que não tenham filhos. Nada se aprendeu com as bombas atómicas nem com as de napalm. As guerras limpas afinal são sujas. Sujas de morrer. Na verdade, não há guerras limpas. Nunca as guerras foram limpas. Os danos colaterais são os principais danos. Não há vítimas colaterais. Há vítimas. E ainda não nasceram todos os que irão sofrer com a batalha de Fallujah (2004).

Um crime contra a humanidade! Onde se esconde o réu? Por que não o julgam?

Quem é o responsável por tão hediondo crime? Que regime político e económico fomentou tal crueldade?

Afinal, onde passa o Eixo do Mal?

terça-feira, dezembro 01, 2009

Lições do Império

São as guerras longínquas que garantem a paz que nos é próxima. Caso contrário, os bárbaros acamparão às portas da cidade. Esta é uma das lições do Império.

Talibãs

Quando uma bomba cai e os dizima, as suas armas são-lhes retiradas, as televisões são chamadas e por todo o mundo soa nos telejornais a atrocidade, o morticínio dos civis assassinados, por lapso, por mais um piloto equivocado.

Estes talibãs não passam de civis armados.

A Guerra dos Drones

Nos campos poeirentos do Afeganistão ensaiam-se novas armas. É o paraíso da indústria de armamento. Pouco antes da Segunda Guerra Mundial, também os Nazis tiveram nos céus de Espanha um campo de ensaio para os seus bombardeiros, antecipando os campos de batalha da guerra que secretamente preparavam. No Afeganistão, a NATO testa agora toda sua parafernália tecnológica. Os seus drones varrem o céu silenciosos. Penetram furtivos no campo do inimigo e projectam o seu fogo mortal. Alguém os controla remotamente a milhares de quilómetros de distância. Findo o dia retornará a sua casa, para junto da família, após ter sido rendido por mais um camarada. Estes drones são os futuros arrasadores de centrais nucleares. Os iranianos que se cuidem. Novas armas, novas guerras. Como sempre.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Guerrilheiros ou Terroristas?

Guerrilheiros ou terroristas? Resistentes? Combatentes?

Atenção às palavras. Elas marcam as posições no espectro mediático. Denunciam as pendências. Revelam tendências. As guerras nunca são neutras. Há sempre outra guerra por detrás das guerras. A guerra de palavras e das palavras.

É por esta guerra que existem outras guerras.

Insolentes os que fazem a guerra

«Creso, quem dentre os homens te convenceu a invadir o meu país e a fazer de ti um inimigo meu, em vez de um amigo?» E ele respondeu: «Ó rei, eu fiz isto para tua fortuna e meu infortúnio. O culpado disto foi o deus dos Helenos, que me induziu a entrar em guerra. Pois ninguém é tão insolente que a prefira à paz. Nesta os filhos enterram os pais, mas naquela são os pais que enterram os filhos. Mas talvez fosse grato a um deus que as coisas assim acontecessem».
(resposta de Ciro a Creso)
Heródoto, Histórias, livro 1º
Insolentes os que fazem a guerra, induzidos pelos deuses e pelas irracionais paixões dos homens. Acabam por tornar-se vítimas das suas acções, porém, não sem antes vitimizarem os inocentes.

domingo, julho 16, 2006

Matar Moscas com um Martelo

Neste preciso momento, os israelitas estão a tentar "matar moscas com um martelo" e os resultados estão à vista.

As "moscas" escapam e o resto fica destruído. Os russos fizeram uma coisa parecida na Tchechénia, mas a uma escala maior. É o resultado da desproporção de meios entre as partes. Trata-se de um acto de desespero e de fraqueza (ao contrário do que parece). E é também a prova de que os ataques cirúrgicos e as bombas inteligentes são coisa que não existe.

O pior de tudo isto são as vítimas inocentes.

domingo, fevereiro 12, 2006

A paz e a ausência de conflitos

Toda a vida é a luta, o esforço por ser ela mesma.

Ortega y Gasset, A Rebelião das Massas


A paz não é meramente a ausência de conflitos, é algo mais. A verdadeira paz não é passiva é activa. A paz envolve um esforço constante das sociedades para mantê-la. A paz, por vezes, não se consegue sem o confronto. Pax romana. Quando os Romanos negligenciaram a sua paz, a paz acabou para os Romanos. Os Romanos acabaram. Às vezes é preciso lutar para conquistar a paz. Esta é a dura realidade. A paz está longe de ser coisa para pacifistas.

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