Eric Hobsbawn
A Era dos Extremos, Editorial Presença, 3ª ed., 2002, p. 155.
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Cantavam enquanto marchavam para a guerra, os soldados da Primeira Guerra. Alegremente marchando para o matadouro. Isto no início, quando ignoravam a lama e a metralha, o gás e o arame farpado.
Para a Segunda Guerra marcharam em silêncio, temerosos e soturnos, com a memória da Primeira nos encéfalos.
Para a Terceira Guerra, como marcharão? Com lágrimas? Alguém marchará? Ou antes da bota cardada bater no chão, o chão marchará e os corpos arderão como tochas? Não, para a Terceira Guerra ninguém marchará. Só os loucos.
E no entanto, hoje é dia de marchas e de memória em Moscovo. Comemoram, mas não parecem estar a fazer um correcto uso da memória. Se não, não marchariam como marcham, carreando os monstros nucleares da Terceira Guerra pela trela. Não. Nem agiriam como agem. Nem gritariam como gritam: hurrá! hurrá! hurráaaaaaaaaaaaaaa!
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