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domingo, fevereiro 17, 2019

A essência da Escola

A escola foi inventada no tempo dos antigos Gregos como uma relação entre mestre e discípulos, tendo como horizonte o conhecimento, e, apesar de essa relação ter sofrido muitas mudanças, a escola continua a ser na sua essência, essa relação.

Carlos Fiolhais, David Marçal, A Ciência e os Seus Inimigos, Gradiva, 2017, pág. 225.

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É isto a Escola. O resto é política, ideologia e “Ciência” da Educação. Sempre houve muita gente a querer meter o bedelho na Educação por motivos ideológicos e políticos, em particular a gente dos partidos políticos. Querem pôr a mão no futuro, para tentar moldá-lo a seu contento. Querem, de forma sub-reptícia, colocar a juventude nos seus próprios carris ideológicos. E a verdade é que a ideologia tem conseguido imiscuir-se nos programas escolares. Os professores, por sua vez, vão paulatinamente sendo convertidos em meros aplicadores de “conteúdos”, que se querem bem controladinhos, muito bem controladinhos… Hoje é a essência da escola que está a ser posta em causa.

A escola é demasiado importante para ser deixada a outros que não os professores.

Infelizmente os professores têm ido na cantiga daqueles que dizem que a escola é demasiado importante para ser deixada apenas aos professores.

quinta-feira, março 31, 2016

Eles querem lá saber de teorias

Na verdade, fazer é aprender.

Aristóteles, Ética a Nicómaco, Quetzal Editores, Lisboa, 2004, p. 43.

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Mas evitai dar-lhe uma cana de pesca sem ao menos dizer-lhe para que serve ou como funciona, sob pena de a mesma ser arremessada ao mar sem qualquer préstimo. Ouviste, ó construtivista. A teoria não pode ser dispensada, por muito que isso te custe e ainda que os adolescentes tapem os ouvidos às teorias.

Eles querem lá saber de teorias, dizes. Querem fazer. Querem errar. Querem aprender. Eles querem lá saber de teorias. Aprendem por tentativa e erro.

E assim se enche o rio de canas de pesca arremessadas e mal empregadas, digo eu. 

Eles querem lá saber de teorias, de rios e de canas de pesca.

domingo, junho 09, 2013

O papel do professor

A competência do professor consiste em conhecer o mundo e em ser capaz de transmitir esse conhecimento aos outros. Mas a sua autoridade funda-se no seu papel de responsável pelo mundo. Face à criança, é um pouco como se ele fosse um representante dos habitantes adultos do mundo que lhe apontaria as coisas dizendo: «Eis aqui o nosso mundo!»

Hannah Arendt (1968), “A Crise na Educação” in Quatro Textos Excêntricos, Relógio D’Água, 2000, p. 43.

quinta-feira, junho 16, 2011

O pensamento que urge introduzir hoje em todo o nosso ensino

Já Pascal formulara o imperativo de pensamento que urge introduzir hoje em todo o nosso ensino, a começar pelo jardim-escola: «Sendo todas as coisas causadas e causantes, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas, e sustentando-se todas elas por um laço natural e insensível que liga as mais afastadas e as mais diferentes, considero impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, bem como conhecer o todo sem conhecer as partes»”

Blaise Pascal citado por E. Morin, Os Problemas do Fim de Século, Editorial Notícias, 1991, pág. 201.

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No extremo, um especialista é aquele que sabe tudo sobre nada, e um generalista, é aquele que sabe um pouco sobre tudo.

É um erro apostar num ensino que enfatize a formação de especialistas que desconheçam o funcionamento do todo; da mesma forma é um erro apostar num ensino que enfatize a formação de generalistas que desconheçam o funcionamento das partes.

Difícil é encontrar o ponto de equilíbrio entre estas duas perspectivas, ou seja, formar especialistas generalistas e generalistas especialistas.

sexta-feira, maio 13, 2011

Curiosidade infantil

A curiosidade é sempre infantil. Não há outra.

Esse é o segredo que todo o professor ser deveria saber: para bem ensinar é preciso despertar a curiosidade infantil em quem quer que seja, ou, por outras palavras, acordar a criança que existe em cada um de nós.

terça-feira, março 08, 2011

A “deolindalização” de uma geração ou Da dificuldade dos recém-licenciados em arranjarem emprego

Há uns anos atrás, o então Ministro da Educação, David Justino, avisou que as portas do Ensino iriam fechar-se. Avisou que haviam demasiados professores e que era preciso reduzir o número de entradas nessa profissão. Posteriormente, Sócrates prossegue nessa via, tentando limitar ao máximo o acesso à profissão por novos candidatos, chegando a introduzir mecanismos de barragem à entrada da carreira de professor, como a prestação de provas escritas selectivas, e desincentivos, como a retirada da remuneração aos grupos de estágio profissionalizante nas escolas. Simultaneamente, promovia-se a política baseada no princípio de “por cada duas saídas da função pública, apenas uma entrada”. Os sinais estavam portanto aí para quem os quisesse ver.

O Ensino nas escolas básicas e secundárias deixou de funcionar como válvula de escape para as “fornadas” de licenciados que todos os anos saíam das universidades e politécnicos. Simultaneamente, o Tratado Bolonha reduziu o período de formação de licenciados de 4 anos para 3, ou seja, num curto período o número habitual de licenciados à saída das universidades aumentou consideravelmente, quando se reduziam as oportunidades de trabalho no sector Estado.

O resultado está à vista agora em 2011: a “deolindalização” de uma geração.

domingo, abril 19, 2009

A Crise na Educação, Sempre a Crise na Educação...

A educação parece estar eternamente em crise. O tema é recorrente. Talvez a eterna crise da educação, agora cada vez mais salientada se deva à aceleração da mudança social, que as instituições educativas não conseguem acompanhar. Crise é mudança, ou, pelo menos, decorre da mudança (por isso há crises de adolescência, de meia-idade, menopausas e andropausas, crises de transição para a velhice, etc.).
Falou-se esta semana, da crise do ensino da Matemática, da iliteracia, da crise da Escola. A este propósito as palavras de Bento de Jesus Caraça, proferidas em 1931, parecem ter sido ditas ontem.

«Mas não basta que a Escola seja gratuita; para que ela seja na realidade acessível a todos é preciso ainda que o Estado vá mais longe, procedendo à sustentação material daqueles que a frequentam, para que não se vejam obrigados, por falta de meios, a afastar-se dela empregando o seu tempo em ganhar o pão para si e quantas vezes para os seus.
Mas ainda mesmo que fosse assim, era preciso proceder a uma renovação constante, pois o professor, desde que seja funcionário público, sente uma tendência - a lei do menor esforço - para a cristalização dos métodos de ensino. É necessária essa renovação nas pessoas e nos métodos; a classe dos professores não deve nunca descansar sobre os resultados conseguidos na véspera.
Por enquanto, como a Escola não é entre nós nada do que deveria ser, é preciso fazer um grande esforço e uma grande campanha no sentido da radical modificação do actual estado de coisas. Enquanto a Escola não seguir no seu ensino a orientação exposta, não será um instrumento de liberdade e progresso mas sim um elemento impeditivo da felicidade, liberdade e justiça sociais.»

Bento de Jesus Caraça (1931); "As universidades populares e a cultura" in A Cultura Integral do Indivíduo, Conferências e Outros Escritos. Gradiva, 2008, pág. 30.

sábado, janeiro 05, 2008

Sobre o uso de máquinas calculadoras no ensino de crianças

A memória é como um músculo. Se não for exercitada mirra, perde qualidades. A memória é a base de outros processos de raciocínio mais complexos. No entanto, alguns educadores e decisores parecem não ter compreendido e continuam a desvalorizá-la. Como a memorização foi levada longe demais por um ensino tradicional, que hoje se considera caduco, mesmo por aqueles que se alcandoraram em elevadas posições na nossa sociedade, educados pelo mesmo sistema de ensino que hoje abominam, as novas correntes de pensamento pedagógico, os novos pedagogos, resolveram erradicá-la das aprendizagens. Memorizar para eles, é anti-pegagógico.
As consequências podem ver-se à vista desarmada: produziu-se uma sociedade sem memória. As memórias estão nos filmes e nos documentários de um passado recente, mas não na cabeça dos homens, que não os vêem, e muito menos os discutem. Arruma-se a memória nos suportes virtuais da memória. Assim, o fantasma do totalitarismo abeira-se da democracia, quase sem ser notado.

Os nossos alunos vão agora poder utilizar a calculadora, nos primeiros anos de escolaridade, desprezando-se dessa forma a exercitação da memória, e por essa via, de todos os outros processos de raciocínio mais complexos.

Deviam memorizar a tabuada. Deviam memorizar poemas. Deviam memorizar regras gramaticais. Deviam memorizar cronologias, importantes referências no tempo histórico, como são os mapas que nos guiam no espaço geográfico. Deviam memorizar conceitos fundamentais para a construção do edifício do conhecimento.

Mas pelo contrário, fomenta-se uma educação e um ensino de triste memória. Assim vai o ensino nestes tempos demóticos.

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