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quarta-feira, julho 29, 2020

O dinheiro de Bruxelas e o país dos espertalhões

Todos os espertalhões do país estão já a congeminar um plano para justificar o direito  ao dinheiro e à subvenção, ao fundo e ao maneio.

Clara Ferreira Alves, Revista E, Expresso,  24 de Julho de 2020

Não fosse este o país dos cobiçosos pilhadores-quando-podem. A ocasião faz o ladrão. Não sei porquê, vem-me sempre à memória a carraca de Albuquerque à saída de Malaca. Naufragou logo ali com o peso da pilhagem.

É o retrato de um povo. Se não de um povo, pelo menos de uma parte dele muito significativa.

quinta-feira, dezembro 27, 2012

A Arriba Fóssil da Costa da Caparica e a "costa de cinco estrelas"

           © AMCD


            © AMCD



«Entre a Trafaria e a Lagoa de Albufeira ocorre uma arriba que chega a estar cerca de 1 km afastada da linha de costa actual, expondo sedimentos depositados nos últimos 20 milhões de anos. A arriba estabelece o limite entre a planície litoral actual e uma plataforma litoral antiga, presentemente mais de 80 m acima do nível do mar. Apesar do conteúdo fossilífero dos sedimentos que a constituem, a arriba é denominada como “fóssil” por ter estado no passado em contacto directo com a erosão marinha que a formou. Esta arriba é a única em Portugal devido à sua extensão, boa exposição e grau de conservação, motivos que estiveram na base da criação da área protegida com o mesmo nome, em 1984.»

Paulo Pereira, Universidade do Minho

in José Brilha e Paulo Pereira (coord.), Património Geológico, Geossítios a Visitar em Portugal, Porto Editora, 2012, p.77.

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Junto à Arriba Fóssil da Costa da Caparica, esse monumento geológico, passeámos na praia, qual “costa de cinco estrelas transformada em desaguadouro de terceiro mundo” nas preconceituosas palavras da nossa mui estimada Clara Ferreira Alves*. E tudo porque no Verão a turba suburbana invade o areal, que não merece (sentirá ela), que isso de praias de cinco estrelas não é para qualquer um. Só para VIP como ela.

Quem a lê atentamente (e nós gostamos de a ler) não deixa de reparar nesses tiques quase imperceptíveis de sobranceria intelectual, tão comuns entre a suposta intelectualidade urbana, ante as populares massas turbulentas, terceiro-mundistas, dizem eles, dos subúrbios. Não repararam contudo, que já a urbe se mudou para suburbia e que a suburbia se mudou para a urbe, sendo hoje os suburbanos tão ou mais urbanos que os próprios urbanos. Na verdade, hoje, essa distinção entre o urbano e o suburbano esbate-se e perde sentido. A cidade estende-se cada vez mais e engole o subúrbio (ou será que é o subúrbio que engole a cidade?). Vivemos já na era da cidade-região e a Margem Sul, não é mais do que Lisboa a Sul do Tejo, estendendo-se até às faldas da Arrábida, e as pontes sobre o Tejo não são mais do que uma espécie de avenidas de Lisboa, sem margens. O Cristo-Rei está já no meio de Lisboa.

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(*) Clara Ferreira Alves (2005), "O Grunho Lusitano" in Clara Ferreira Alves, Estado de Guerra, Clube do Autor, 2012, p. 35.

quarta-feira, dezembro 19, 2012

Postos de lado

«As sociedades modernas excluem por definição os fracos, os estúpidos, os inúteis, os doentes, os indefesos. O grande princípio do thatcherismo era essa ideia que estipulava que dadas a igualdade de condições e oportunidade, todos pisaríamos forte pelo amanhã que canta do sucesso e do trabalho remunerado. O thatcherismo esqueceu-se dos que precisam de muletas para caminhar pela vida fora. A sociedade portuguesa dos últimos anos enriqueceu, e pôs de lado. Chamou-lhe o custo social do progresso, e pôs de lado

Clara Ferreira Alves, 06/01/96 (*)

Em 1996, quando governava Guterres, quando a classe média engrossava (apetece dizer, “quando havia classe média”) e a sociedade portuguesa enriquecia (sabemos agora que esse “enriquecimento” afinal correspondeu a “endividamento”, ou seja, à projecção dos custos da crescente acumulação material e do consumo para o futuro, e o futuro é agora) a taxa de desemprego era cerca de 7,2%, e já então se começava a sentir no país a brisa do thatcherismo (curiosamente, outra palavra para neoliberalismo). Os “fracos, os estúpidos, os inúteis, os doentes, os indefesos” foram postos de lado, dizia Clara Ferreira Alves, e já então as políticas começavam a questionar a continuidade do Estado-Providência, pelo menos nos moldes até aí praticados. Actualmente a taxa de desemprego mais que duplicou. Já não são só os desgraçados a ser postos de lado. Hoje é a classe média que caiu em desgraça e que está a ser posta de lado e do lado dos desgraçados. Em suma, uma desgraça, e como diz o povo, uma desgraça nunca vem só. Sopram fortes, os ventos do neoliberalismo. Será a reacção desesperada que antecede o último estertor que prenuncia o fim de um certo tipo de capitalismo? Ainda está viva a democracia que o debelará?

P.S. - Curiosamente, hoje, no contexto comunitário, é Portugal que está a ser posto de lado (e à venda). Portugal, a Grécia, a Irlanda, a Espanha, a Itália, Chipre, etc.



(*) Clara Ferreira Alves (1996), “O Desejo de Ano Novo” in A Pluma Caprichosa, 2ª ed., Publicações Dom Quixote, 2002, p. 107.

sábado, julho 14, 2012

Agora encontramo-nos no campo da crença.

Portugal  suspenso pela crença na benevolência dos credores.

Oremos.


Na revista do mesmo jornal, Clara Ferreira Alves na sua excelente "pluma caprichosa" aborda a questão de forma mais realista, racional e correcta: "Quando se pede dinheiro emprestado e se vive de dinheiro emprestado não se espera complacência nem benevolência dos credores."


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