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domingo, novembro 10, 2013

A comercialização da estética e a prostituição publicitária

A comercialização da estética, a sua redução a kitsh, contam-se entre os traços marcantes das culturas capitalistas. Shakespeare e Kant servem para vender sabonetes. Um tema de Haydn é convertido em refrão que acompanha o lançamento de um novo modelo de peúgas. Os textos, a música em causa, prestar-se-iam, em certo sentido, a uma tal prostituição? As ironias aqui são profundas.

George Steiner, Gramáticas da Criação


Muito antes desta constatação de Steiner, Fernando Pessoa tinha sido alertado por um amigo para o possível destino que a sua obra – Mensagem – teria, caso lhe desse o nome inicialmente pensado, “Portugal”. É que nem “Portugal”, nem a sua maior Dinastia, escapavam já à prostituição publicitária da cultura capitalista da época e ao kitsh (curiosamente, tal como Steiner, também Pessoa relaciona esse uso publicitário, por ser mais do que abusivo e empobrecedor, à prostituição).





Fernando Pessoa, AQUI

Em suma, a relação entre o capitalismo e a cultura equipara-se à relação entre o proxeneta e a prostituta, “em certo sentido”. A cultura só ao capitalismo interessa na medida em que ele pode ganhar dinheiro com a sua comercialização. Fernando Pessoa não queria que a sua “Mensagem” se prestasse a tal tratamento.

sábado, maio 04, 2013

A servidão ou a partida

1/05/2013 - Manifestação contra o capitalismo, em Seattle, acaba em motim.


Vós que cegamente votastes nestes,
Sabeis agora o que o neoliberalismo é?
Sabeis agora que o Estado pode ser um instrumento da luta de classes?
Que uma vez conquistado para as classes dominantes, estas o usam para transferir a riqueza da base para o topo?
E uma vez conquistado pelas classes exploradas, estas o usam para transferir a riqueza do topo para a base?
Para subtrair riquezas outrora subtraídas.

De que vos queixais agora?
É a vez deles! Fostes vós que os colocastes lá.
Destes-lhes o pleno: um presidente, uma maioria parlamentar, um governo.
Que esperáveis?

Bem podeis aguardar que caiam por si. Não cairão!
Resta-vos a rua ou o desespero,
a servidão ou a partida.

quinta-feira, maio 02, 2013

A Era do Mercado ou da Exploração



«O verdadeiro problema não é que o dinheiro possa levar as mulheres “de honra” e homens “de palavra” a fraquejar, como se diz. O escândalo começa, sim, quando, para funcionar, o dinheiro enquanto capital pressupõe sistematicamente a fraqueza de homens e mulheres que têm de se colocar no mercado. Eis o fundamento funcional-imoralista da economia industrial de mercado. Esta inclui sempre no seu cálculo o estado de necessidade dos mais fracos. Funda a circulação contínua do lucro na existência de grandes grupos que não têm praticamente outra opção senão “comer ou morrer”. A ordem económica capitalista assenta na possibilidade de espremer os que vivem constantemente em situações de excepção actuais ou virtuais, isto é, de espremer os seres humanos que terão fome amanhã se não trabalharem hoje, e que amanhã não terão trabalho, se não aquiescerem hoje ao que impudentemente se exige deles.»

Peter Sloterdijk (1983), Crítica da Razão Cínica, Relógio D’Água, 2011, p. 401

quarta-feira, maio 01, 2013

O trabalho no "maravilhoso mundo plano"

(Kevin Frayer/Associated Press)

Tem sido um ano duro para os trabalhadores e trabalhadoras, em particular nos países do Sul, onde o trabalho pode chegar a assumir características de escravatura e está, por isso, longe de ter qualquer função dignificadora. O trabalho só dignifica se não escravizar, nem explorar. Quando o salário é de 38 euros mensais, é de exploração e escravatura que falamos. Era esse o salário das operárias bengalis que morreram sob os escombros do prédio onde eram exploradas. Soubemo-lo hoje.

Enfim, é este o “maravilhoso mundo plano” de que nos falam os deslumbrados da globalização e do capitalismo.

sábado, fevereiro 18, 2012

O cínico do Sloterdijk


O filósofo Peter Sloterdijk, cinicamente, dispara sobre todo o tipo de militantismo. O militante é um colérico, um ressentido, um activista revolucionário, ansioso por reconhecimento e acção, que se agita e se organiza em partidos e movimentos[1] – reporta-se também aos actuais “movimentos sociais no capitalismo global”. O Partido é, para Sloterdijk, um banco de cólera e de ira que pretende capitalizar ainda mais esses (res)sentimentos, de forma a fazê-los explodir no momento considerado mais oportuno, a mando de um líder, de um comité coordenador ou de um comité revolucionário. O histórico Partido Comunista é visado pelo filósofo, mas não só o Partido Comunista: refere-se principalmente aos “partidos políticos ou movimentos situados na ala esquerda do espectro político” (Sloterdijk 2010: 161), se bem que aluda, noutro lado, ainda aos militantes nacionais-socialistas. No entanto, depois deste tratamento cínico, particularmente em relação a toda a esquerda que ainda mexe - a ala política que representa os desfavorecidos, os explorados, os expropriados, os sem-terra e os injustiçados deste mundo – o filósofo sai-se com este belo naco de prosa relativa ao capitalismo, digna de realce (Sloterdijk 2010: 162):

A verdadeira missão do capital consiste em assegurar constantemente o prosseguimento alargado do seu próprio movimento. Tem por vocação derrubar todas as situações em que as barreiras à exploração, como os usos e costumes e a legislação complicam a sua marcha vitoriosa. Assim sendo, não há nenhum capitalismo sem a propagação triunfal desse desrespeito a que os críticos da época dão desde o século XIX o nome pseudofilosófico de «niilismo». Na verdade, o culto do nada mais não é do que o efeito secundário inevitável do monoteísmo monetário, para o qual todos os outros valores só são ídolos e simulacros.

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