A comercialização da
estética, a sua redução a kitsh,
contam-se entre os traços marcantes das culturas capitalistas. Shakespeare e
Kant servem para vender sabonetes. Um tema de Haydn é convertido em refrão que
acompanha o lançamento de um novo modelo de peúgas. Os textos, a música em
causa, prestar-se-iam, em certo sentido, a uma tal prostituição? As ironias
aqui são profundas.
George Steiner, Gramáticas da Criação
Muito antes desta constatação de
Steiner, Fernando Pessoa tinha sido alertado por um amigo para o possível destino
que a sua obra – Mensagem – teria, caso
lhe desse o nome inicialmente pensado, “Portugal”. É que nem “Portugal”, nem a
sua maior Dinastia, escapavam já à prostituição publicitária da cultura
capitalista da época e ao kitsh (curiosamente,
tal como Steiner, também Pessoa relaciona esse uso publicitário, por ser mais
do que abusivo e empobrecedor, à prostituição).
Fernando Pessoa, AQUI
Em suma, a relação entre o
capitalismo e a cultura equipara-se à relação entre o proxeneta e a prostituta,
“em certo sentido”. A cultura só ao capitalismo interessa na medida em que ele pode
ganhar dinheiro com a sua comercialização. Fernando Pessoa não queria que a sua
“Mensagem” se prestasse a tal tratamento.
Não é por acaso que amamos Pessoa, nem apenas porque as palavras eram por ele bem tratadas e alinhadas...
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