Após visionar uma reportagem na RTP 1 sobre o estado de degradação a que a Escola Secundária da Anadia chegou (e esta escola não é a única escola pública nesta situação degradada - há muitas Anadias por aí), uma
palavra ecoou na minha cabeça: “delinquentes!” (isso mesmo, a proferida por Soares). Tem razão Soares: somos governados por um bando de delinquentes e
presididos pelo chefe da quadrilha. Soares esquece porém que o caminho para a
chegada desta gente à governação do país foi preparado por aquela “terceira via” "socialista" e socrática, comprometida com o neoliberalismo, pioneira na
organização das escolas por agrupamentos, o que virá a facilitar o posterior passo
no sentido da privatização das escolas; a mesma via que precarizou o vínculo dos funcionários
públicos ao Estado, tornando-os, a maioria, em “contratados de trabalho por tempo indeterminado”, rebaixando
o estatuto social dos professores, a meros “ocupadores” de alunos – passavam a tratar
da famosa ocupação plena dos tempos livres, quando o seu papel não é,
meramente, ocupar alunos, mas sim ensinar saberes relevantes, divulgar cultura, ciência, arte e
desporto; congelou-lhes as carreiras; deixou de lhes pagar pela correção de exames, ao contrário do que se faz nos outros países; transferiu custos para muitos professores ao fazer com que tivessem de circular entre várias escolas de um mesmo agrupamento. Em curtas palavras, o ministério educativo de Sócrates tentou
arrastar os professores para a lama. Tentou, debalde, rebaixá-los socialmente.
Não conseguiu porque eles lutaram, e bem, e a maioria dos portugueses os tem em
grande consideração.
Mas no ministério educativo de
Sócrates nem tudo foi mau: distribuiu computadores pelos alunos e professores
- os famosos Magalhães, entre outros -, inclusive a alguns que nunca tinham
utilizado um, e equipou escolas. Diminuiu o número máximo de alunos por turma e
abriu a escola aos adultos – os famosos Cursos de Educação e Formação e os cursos
de Educação e Formação de Adultos, enquadrados pelo programa Novas Oportunidades. Introduziu o ensino
do Inglês no Primeiro Ciclo, alargou a rede pública de educação Pré-escolar. Além disso, investiu nalgumas escolas
reparando-as, modernizando-as, dotando-as de novos equipamentos, …Pelo menos era
essa a intenção, até chegarem os delinquentes.
Os delinquentes chegaram e
pararam tudo – não havia dinheiro, diziam – e ao invés de investirem na Escola Pública, desinvestiram. Agravaram as condições de trabalho nas escolas públicas, aumentaram o número de tempos lectivos nos horários dos
docentes, aumentaram o número máximo de alunos por turma (quando o Governo
anterior, o tinha diminuído). E, contrariando as orientações do memorando da troika (porque aqui lhes convinha), aumentaram a transferência de dinheiros públicos para os colégios privados –
para isto já havia dinheiro.
São delinquentes, pois claro,
porque a sua intenção evidente é a de favorecer negócios privados, que envolvem empresas
de amigos, conhecidos, influentes e grupos de interesse dos colégios privados. Para estes
delinquentes é preciso que a Escola Pública e a Universidade Pública se degradem, para que a Privada se torne mais apelativa, apetecível e lucrativa. Para estes
delinquentes, o ensino e a educação escolar são ainda um rico filão à espera de
ser explorado. Há que prepará-lo para a rapina.
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