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sábado, julho 09, 2016

A farsa

Hegel says somewhere that all great historic facts and personages recur twice. He forgot to add: “Once as tragedy, and again as farce.”

Karl Marx (1852) , The Eighteenth Brumaire of Louis Napoleon, Dodo Press, 2009.

Na ausência de um líder desejado que os comande nestes tempos conturbados – os putativos debandaram – os britânicos, na sua demanda por um líder novo, voltam-se agora para as suas referências de líderes fortes em tempos difíceis. E o exemplo mais próximo que parecem ter é o de Margaret Thatcher, a “Dama de Ferro”, que ganhou guerras distantes e próximas, contra a Argentina e contra os sindicatos dos mineiros do carvão, respectivamente. E vai daí, o Partido Conservador apurou agora duas tories que parecem ser a encarnação da Dama de Ferro, pelo menos na sua postura, determinação e expressão. Theresa May mais do que Andrea Leadsom. Mas esta, aparentemente mais dócil, não deixa de ser uma mulher forte e determinada. A comprovar este zeitgeist sebastiânico, os jornais britânicos colocam na primeira página parangonas que associam as duas candidatas tory à Dama de Ferro.



Mas os britânicos podem estar a cair num erro histórico muito comum. Como salientou Marx, os factos e os grandes personagens da história ocorrem primeiro enquanto tragédia e depois enquanto farsa. Margaret Thatcher só houve uma e já morreu, tal como Dom Sebastião. O que vier a seguir de mais parecido não passará de uma cópia ou de uma imitação barata. Em suma: uma farsa.

domingo, maio 12, 2013

Consciência e existência


Não é a consciência dos homens que determina a sua existência, pelo contrário é a sua existência social que determina a sua consciência.

Karl Marx (1859)




Não! Não existem por aqui palas ideológicas para ler e interpretar a realidade. A realidade é demasiado travessa para se conformar às ideologias inventadas pelos homens. Mas que nisto e em muitas outras coisas Marx tinha razão, lá isso tinha.

Noutro lugar* lemos uma referência à sua famosa máxima de que “as pessoas fazem a sua própria história, mas não sob as condições que elas mesmas escolhem” (Marx, 1852, citado por Herod, 2011).

terça-feira, março 08, 2011

A crise pressentida há duas décadas atrás

David Harvey, um dos marxistas mais determinados e esclarecidos da nossa época, já em 1987 parecia adivinhar o que aí vinha:

There abundant cracks in the shaky edifice of modern capitalism, not a few of them generated by the stresses inherent in flexible accumulation. The world’s financial system – the central power in the present regime of accumulation – is in turmoil and weighed down with an excess of debt that puts such huge claims on future labour that is hard to see any way to work out of it except through massive defaults, rampant inflation, or repressive deflation.”

David Harvey (1987), ‘Flexible Accumulation through Urbanization: Reflections on “post-modernism” in the American City’, Antipode 24: 300-326.


Parece que Marx se enganou, mas não em tudo. Não se enganou, por exemplo, na questão das crises cíclicas do capitalismo e as suas consequências na economia das nações.

quinta-feira, abril 02, 2009

A Crise da Burguesia

«Nas crises declara-se uma epidemia social que teria parecido um contra-senso a todas as épocas anteriores – a epidemia da superprodução. A sociedade vê-se de repente retransportada a um estado de momentânea barbárie; parece-lhe que uma fome, uma guerra de destruição generalizada lhe cortaram todos os meios de subsistência; a indústria, o comércio parecem-lhe aniquilados. E porquê? Porque a sociedade possui civilização em excesso, meios de subsistência em excesso, indústria em excesso, comércio em excesso. (…)

E como supera a burguesia as suas crises? Por um lado, pela destruição forçada de uma massa de forças produtivas; por outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais profunda de mercados velhos. Como então? Preparando crises mais generalizadas e mais graves, e reduzindo os meios para prevenir as crises. »

Marx, Karl (1848); «Manifesto do Partido Comunista» in Braga da Cruz (org.) Teorias Sociológicas (Antologia de Textos), Fundação Calouste Gulbenkian, 4ª edição, pág.66.
Vivemos na era em que se assiste à capitalização de quase tudo. Já não existem novos mercados a conquistar. Essa válvula de escape da burguesia investidora desapareceu.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Epílogo – Resposta a Marx

O que Marx escreveu não se encontra escrito na pedra. Afinal, dividir as sociedades em classes de oprimidos e opressores, não deixa de ser uma forma maniqueísta e simplista de as considerar. A realidade é um pouco mais complexa e é sabido que muitas vezes os oprimidos de hoje, se tornam os opressores de amanhã, ainda que aconteça muitas vezes a um homem, manter a condição de oprimido ou de opressor durante a maior parte da sua vida, senão na sua totalidade. Em cada oprimido há um potencial opressor e vice-versa, e o homem é na verdade lobo do homem, como referia Thomas Hobbes. Talvez essa reviravolta, de oprimido em opressor, ocorra quando o oprimido se apercebe que a maior arma do opressor é a sua própria cabeça (a do oprimido). Por outro lado, que dizer daqueles a quem não cabe nem a condição de oprimido, nem a condição de opressor? Serão esses os homens verdadeiramente livres? Os que nem oprimem nem são oprimidos? Será tal condição sequer possível?

O opressor por sua vez torna-se vítima da sua opressão, muitas vezes sem tomar consciência disso, ou por outras palavras, o opressor é oprimido pela sua própria acção de oprimir. É como refere Steiner: “O carrasco tortura a sua vítima e condena-se desse modo a ser uma eterna vítima.”*

E há ainda outra questão (para dizer a verdade, há muitas questões), que é essa ideia de a religião ser o ópio do povo. Ainda que possamos considerar que assim seja, o mesmo não o poderemos referir relativamente à religiosidade. Pois se religiosidade e religião forem consideradas a mesma coisa, então o homem anda entorpecido na dormência do ópio, desde o momento em que se tornou homem. É que a religiosidade é uma dimensão do ser humano. Ela é apenas o terreno (solo) de onde brotam as religiões. Por isso encontramos religiões por todo o planeta, cada uma com o seu deus ou os seus deuses, paradoxalmente, únicos e omnipresentes. Mas o facto de o homem possuir a religiosidade como uma das suas dimensões, tal não significa que tenha de professar necessariamente uma religião. E se as religiões são formas de apropriação da dimensão religiosa de cada homem visando atingir relações de dominação ou prevalência de uns sobre outros (todas as religiões têm os seus sumo-sacerdotes, xamãs, curandeiros, mediadores entre o mundo de além e o mundo de aquém, supostamente detentores de informação privilegiada, e informação é poder, e daqui à dominação e à opressão são dois passos), a religiosidade inerente a cada homem não é disso que se trata. Sabendo isto, é um erro querer negar a religiosidade potencial e inerente a cada homem, para dessa forma se anularem os efeitos perversos das religiões – um dos quais, dividir os homens, antagonizando posições. O objectivo perene do ecumenismo é a prova das eternas divisões. Ora, nesta questão da religião ser o ópio do povo, confundiu-se a religião com a religiosidade. E assim muitos querem despir a sua religiosidade como quem despe um casaco, como se isso fosse possível, quando a religiosidade lhes está entranhada na sua própria humanidade. É que podemos não professar uma religião, mas não podemos negar a nossa religiosidade.

Marx contudo, foi um verdadeiro filósofo, um cientista social, que, tal como Tocqueville, realizou uma análise certeira à sociedade do seu tempo, e adoptou uma concepção materialista da história que, em grande parte o levou a conclusões acertadas e a projecções que vieram, com efeito a verificar-se, tais como, a globalização alimentada pelo capitalismo insaciável, as causas das crises cíclicas do capitalismo ou as relações sociais e económicas determinadas pelo capitalismo – o sistema vigorante.


(*) – in Ramin Jahanbegloo, Quatro entrevistas com George Steiner, Fenda, pág.63

terça-feira, outubro 09, 2007

Do medo de perder o emprego

A MELHOR ARMA DO OPRESSOR É A CABEÇA DO OPRIMIDO

Graffiti que pode ler-se nalgumas paredes suburbanas da Margem Sul. Autor desconhecido. (Talvez escrito na “clandestinidade” por um lunático esclarecido, ou, por algum esclarecido e por isso, lunático.)

Diz Karl Marx:

Até agora, toda a sociedade se baseou, como vimos, na oposição entre classes opressoras e classes oprimidas. Mas para poder oprimir uma classe é necessário assegurar-lhe determinadas condições em que ela possa, pelo menos, continuar a sua existência servil.

Karl Marx, «Kommunistiches Manifest», in Patrick Gardiner, Teorias da História. FCG. 4ª ed.

Quanto mais precário for o emprego, ou por outras palavras, quanto mais flexível for, mais estarão reunidas as condições de opressão e para a existência servil de uma classe. E assim, viva a flexisegurança!

Flexisegurança?!

Como se existisse segurança no emprego flexível. Querem convencer-nos que a Lua é cúbica.

Talvez por isso mesmo, o maior factor de liberdade seja não ter emprego, principalmente quando o emprego passa a ser um factor de escravatura. Por outras palavras, o melhor é não ser empregado do Príncipe, do Senhor, do Estado ou da Multinacional. Talvez só se seja livre, realmente livre, trabalhando para os outros, sem ser empregado de ninguém.

domingo, outubro 07, 2007

Sus! Marx outra vez?!

A Globalização Antecipada

As condições burguesas tornaram-se demasiado estreitas para conterem a riqueza por elas produzidas. – E como vence a burguesia estas crises? Por um lado, aniquilando pela violência [hoje, leia-se, pelo desemprego] as massas de forças produtivas; por outro, conquistando novos mercados e explorando a fundo os antigos.

Karl Marx (1818-1883), «Kommunistiches Manifest», in Patrick Gardiner, Teorias da História. FCG. 4ª ed. Pág. 164.

Eis a abertura dos mercados orientais, da China e da Índia e de outras chinas e índias, lá, onde a vida humana, assim como o trabalho, de tão numerosa que é se desvaloriza, como se uma lei económica caprichosamente se aplicasse também às vidas humanas, tal como ao trabalho. É nestes países, onde todos os dias os direitos humanos são pisados, que agora se instalam as empresas geradoras de riqueza no mundo – uma riqueza desigualmente distribuída, entenda-se.

É que já no século XIX, Marx havia notado:

Quanto menos habilidade e demonstração de força o trabalho manual exige, isto é, quanto mais a indústria moderna se desenvolve, mais o trabalho dos homens é substituído pelo das mulheres e das crianças.

Karl Marx, «Kommunistiches Manifest», in Patrick Gardiner, Teorias da História, FCG. 4ª ed. pág. 165

E David Landes, um historiador actual, crítico de Marx, também o nota:

A história dos primórdios da industrialização é invariavelmente uma crónica de trabalho árduo por baixo salário, para não falar de exploração. Uso esta última palavra, não no sentido marxista de pagar ao trabalho menos do que o seu produto (que outro modo haveria de o capital receber a sua recompensa?), mas no sentido significativo de obter mão-de-obra compulsória de pessoas que não podem dizer «não» - de mulheres e crianças, escravos e semiescravos (os involuntários servos da gleba).

David Landes, A Riqueza e a Pobreza das Nações, Gradiva, 6ª edição. Pág. 427.

É claro, que actualmente tal só ocorre nalguns lugares do mundo.

Numa versão mais actual desta evidência, os que realmente pagam a factura da globalização económica e financeira (leia-se, do desenvolvimento da "indústria" moderna), os mais fracos, já não são as mulheres nem as crianças das sociedades ocidentais, mas sim os ingénuos e oprimidos trabalhadores do outro mundo – esse a que convencionaram chamar de Terceiro, como se não tivéssemos nada com aquilo.

sexta-feira, outubro 05, 2007

A crise aí está

Há vários decénios que a História da indústria e do comércio não é mais do que a história da revolta das forças de produção modernas contra as condições modernas de produção, contra as relações de propriedade que formam as condições de existência da burguesia e do seu predomínio. Basta mencionar as crises do comércio, que por serem periodicamente cíclicas põem em jogo e cada vez mais ameaçadoramente a existência de toda a sociedade burguesa. Nas crises do comércio, uma grande parte, não só dos produtos existentes, mas também das forças de produção anteriormente criadas, é sistematicamente aniquilada. Nestas crises, irrompe uma epidemia social, que teria parecido absurda a todas as eras anteriores: a epidemia da superprodução.

Karl Marx, Manifesto Comunista, in Patrick Gardiner, Teorias da História

Ufanam-se os economista americanos Samuelson e Nordhaus, o primeiro, Prémio Nobel de Economia em 1970, com as “profecias erradas” de Marx, em particular as que previam a degradação das condições de vida dos trabalhadores. Dizem eles na sua bíblia da Economia, lida e estudada por estudantes universitários de todos os cantos do Mundo:

Estas foram as profecias que inspiraram gerações de radicais da velha e da nova esquerda. Com o passar das décadas, contudo tornou-se claro que a história não estava a seguir o guião de Marx. Os trabalhadores estavam a beneficiar de salários reais cada vez maiores e de menos horas de trabalho e a parcela do trabalho no rendimento nacional estava a crescer lentamente. (…) E quando Keynes escreveu a sua Teoria Geral em 1936 deu nova vida e renovou a fé no capitalismo misto. Samuelson e Nordhaus Economia, 14ª Edição. MacGraw-Hill, pág. 447.

Há muito que os economistas e filósofos se tinham apercebido das crises cíclicas do capitalismo, desde Juglar, passando por Kondratief a Schumpeter, para não mencionar Marx. E se o capitalismo se renovou com Keynes, tal só aconteceu, porque o mesmo reescreveu as regras do jogo. Com Keynes, o capitalismo deixa de ser puro e passa a ser misto, e porquê? Porque advoga a intervenção do Estado para corrigir, exactamente, as desregulações em que ciclicamente o mercado cai e as ineficiências de que o mesmo padece, em particular, no que concerne à redistribuição da riqueza. Por outras palavras, se o mercado for deixado a funcionar por si próprio, não haverá nenhuma mão invisível que a prazo o coloque nos eixos. Com Keynes, é o Estado que toma o lugar dessa inexistente mão invisível. Assim, após 1929 até final da década de 70, tivemos com efeito, um “capitalismo misto” que elevava os salários reais sendo cada vez menos as horas de trabalho.

Após o início da década de 80, com os governos de Tatcher e de Reagan, desencadeia-se o monetarismo de Milton Friedman e as políticas económicas keynesianas passam a ser consideradas obsoletas: o capitalismo puro instalou-se outra vez lentamente e, defendem os novos arautos do capitalismo, o papel do Estado enquanto regulador da economia e do mercado deve ser mínimo.

Se assim é, porque nos admiramos com o regresso das crises cíclicas, e das exigências para se trabalhar mais horas por semana e mais tempo na vida? Porque nos admiramos com a quebra dos salários reais, com o crescente número de desempregados e com o medo generalizado de se perder o emprego? Na verdade, é com esse medo que hoje joga o opressor. E parece ser uma grande verdade, aquela que li nas paredes das ruas suburbanas: a melhor arma do opressor é a cabeça do oprimido.

Alan Greenspan diz que está optimista, que a tempestade há-de passar. Mas já percebemos que é só para nos dar alguma confiança. E Jean-Claude Trichet, esse, já não sabe o que fazer com as taxas de juro. O que se sente na verdade, é a incerteza e a insegurança, pois quando se está verdadeiramente confiante, não é necessário afirmá-lo.

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