Não é a consciência dos homens que determina a sua existência, pelo
contrário é a sua existência social que determina a sua consciência.
Karl Marx (1859)
Não! Não existem por aqui palas
ideológicas para ler e interpretar a realidade. A realidade é demasiado
travessa para se conformar às ideologias inventadas pelos homens. Mas que nisto
e em muitas outras coisas Marx tinha razão, lá isso tinha.
Noutro lugar* lemos uma
referência à sua famosa máxima de que “as
pessoas fazem a sua própria história, mas não sob as condições que elas mesmas
escolhem” (Marx, 1852, citado por Herod, 2011).
Não somos nós que escolhemos a circunstância
que nos acolhe quando chegamos a este mundo e no entanto, nós também somos a
nossa circunstância, como diria Ortega y Gasset. Uma circunstância que está
para além da nossa capacidade de escolha. E a circunstância, ou o contexto
envolvente, não se limita a condicionar a história que construímos; compreende
também a geografia que construímos. Então os geógrafos fizeram um acrescento à
famosa máxima de Marx: as pessoas fazem também a sua própria geografia, embora,
da mesma forma, não sob as condições que elas
mesmas escolhem.
E tudo isto é trágico, quando pensamos
para além das classes sociais e consideramos, por exemplo, a discriminação do
género. Quando abrimos um livro da história do pensamento filosófico, ou
sociológico, ou etc., da civilização “x” ou “y”, rapidamente verificamos que
não existe uma mulher à cabeça de uma das grandes escolas do pensamento (para
dizer a verdade, nem à cabeça, nem aos pés); as mulheres foram tratadas como
seres acéfalos, incapazes de dar origem a uma qualquer escola de pensamento até
ao final do século XIX. E será isto verdade, que elas não pensavam? Claro que
não! Foram apenas vítimas de circunstâncias que não escolheram, e essas circunstâncias adversas,
históricas e sociológicas, remetiam-nas ao silêncio.
Os homens foram os grandes donos
da história e da geografia, do espaço e do tempo. Diz-se que por detrás de um grande homem, havia
sempre uma grande mulher. Por detrás!
Mal delas se se colocassem à frente. E é aqui que reside uma das grandes
tragédias da humanidade. Quantos grandes pensamentos e aptidões foram silenciados, ou simplesmente ignorados, impedidos de florescer na história do pensamento, e
não só, na arte e na cultura, enfim em todos os domínios da vida humana e
social? Quão diferente seria o mundo actualmente, se a par do pensamento dos
grandes pensadores, tivesse ecoado o pensamento das grandes pensadoras? E o
mesmo se poderia dizer, relativamente aos artistas, militares, cientistas,
viajantes, navegadores, etc.
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Referências
Aron, Raymond, As
Etapas do Pensamento Sociológico, Publicações Dom Quixote, 9ª edição, 2010,
p. 155.
Herod, Andrew (2011), “Class – Part I” in John
Agnew and James Duncan (ed.), The
Wiley-Blackwell Companion to Human Geography, Blackwell Publishing, 2011,
pp. 415 – 426.
É isso mesmo que Meu Contrário diz a Minha Alma, nem sabia que o citava... Acho que sou um marxista empírico!
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