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sábado, fevereiro 25, 2023

Roma

 

Ferdinand Addis, Roma, História da Cidade Eterna, Crítica, 2022.

⭐⭐⭐⭐

Eis-nos lançados nas ruas de uma cidade antiga. Tão antiga que se diz eterna. Ali nos cruzamos com personagens de todas as eras. Assistimos às assembleias entre a plebe, frente ao templo de Júpiter, no topo do monte Capitolino. Vimos passar César na sua biga triunfal e o escravo que, atrás dele, de vez em quando se lhe assoma ao ouvido para lhe murmurar que é apenas um homem, à passagem entre a multidão que o aclama como se fosse um deus.

 

Ali nos cruzámos com Marco Aurélio, Séneca, Ovídio e Nero e muitos mais. Mas não ficámos apenas naquele tempo romano. Acabamos por atravessar os tempos, naquela cidade. Chegámos a combater entre os camaradas de Garibaldi. Também ali deparámos com Mussolini, já no século XX, uma besta sexual com o QI de um sapo. Ele e a sua última amante, executados e dependurados. E Fellini e a sua Dolce Vita.

 

A história de Roma é também a história da civilização Ocidental. Está embrenhada nela. Vindos da recém-descoberta América, os marinheiros de Colombo inauguram a propagação da sífilis pela cidade das prostitutas. Isto para dizer que também as longínquas descobertas ecoaram nas ruas e nas vidas dos cidadãos de Roma.

 

Muito haveria para contar dos ilustres personagens que desfilaram na história da cidade.

 

Ferdinand Addis consegue colocar-nos lá, no espaço e no tempo. Viajamos por Roma desde a sua origem até ao século XX e com os romanos. Somos espectadores, somos participantes.

 

Um livro excelente, repleto de acção e movimento, dinâmico, que se lê como um romance.

 

*****

Uma passagem:

«Enquanto os godos recuavam, as balistas nas muralhas entraram em acção. Estas eram uma espécie de bestas gigantescas: máquinas de arremesso de flechas com dois braços equipados com molas de torsão, capazes de disparar virotes curtos e grossos a distâncias além do que a vista alcançava. Estas máquinas aterrorizavam os godos. Na Porta Salária, por onde a velha estrada do sal saía da cidade, um nobre godo que se afastou demasiado das suas linhas foi atingido por um virote disparado por uma equipa de balista com a pontaria afinada. O virote trespassou-lhe a couraça e pregou-o a uma árvore, deixando-o a baloiçar-se e a contorcer-se, enquanto os godos mais próximos, demasiado assustados para o ajudarem, tropeçaram uns nos outros com a pressa de ficarem fora do alcance.»

 

Ferdinand Addis, Roma, História da Cidade Eterna, Crítica, 2022, pp. 244-245

domingo, junho 07, 2020

Do grande Horácio, que viveu há mais de dois milénios

A fome por mais e a inquietude acompanham
a fortuna que cresce.
Horácio, Odes, Livro III, XVI

sábado, janeiro 07, 2017

O que amanhã sucederá, foge de sabê-lo

O que amanhã sucederá, foge de sabê-lo, e o dia
que o Acaso conceder, averba-o nos lucros.
E não desprezes a doçura do amor, nem as danças,
enquanto és jovem,

enquanto as cãs morosas estão longe
dos teus verdes anos. Por agora, procura o Campo de Marte
bem como os espaços onde à noitinha há doces sussurros,
à hora aprazada.

É então que, de um canto recôndito,
o amado riso denuncia a donzela escondida,
por lhe arrancares a ofertada jóia dos braços
ou o dedo que finge resistir.

                                             Horácio, Odes (I.9)


in Rocha Pereira (org. e trad.), Romana, Antologia da Cultura Latina, 6ª ed. Guimarães, 2010, pág.  197

terça-feira, julho 09, 2013

Dilemas

«Cícero (106 a.C. – 43 a.C.) viveu um dos períodos mais gloriosos e perigosos da história. Por todo o mundo romano, os homens tiveram de enfrentar o maior dos problemas políticos, nomeadamente, como viver simultaneamente em paz e liberdade. À maioria dos romanos parecia, durante o transcendental meio século que precedeu à queda da República e ao triunfo de Augusto, que se tinha de escolher entre esses dois bens políticos, ambos da maior importância.

Pode-se ter liberdade, mas para isso há que sacrificar a paz. Inevitavelmente surgiriam conflitos, assim parecia, entre homens que eram livres para perseguir os seus objectivos próprios e divergentes. Também se podia ter paz, mas havia que sacrificar a liberdade, doutra forma, como poderia sobreviver a paz se não se impusesse desde cima um poder supremo que seria o único verdadeiramente livre, enquanto todos os demais sofriam o jugo da tirania?»

Charles Van Doren, Breve Historia del Saber, Editorial Planeta, 2011*
Traduzido do espanhol por AMCD

***

O actual dilema português (um falso dilema) parece colocar-se entre a riqueza e a liberdade. Ou escolhemos a liberdade, abdicando de uma riqueza emprestada, porque não é a nossa, ou escolhemos a riqueza emprestada e abdicamos da nossa liberdade, porque teremos para todo o sempre de responder às exigências dos nossos credores e de lhes prestar contas. E querendo ter as duas, a riqueza e a liberdade, corremos o risco de perder as duas. O melhor será sempre libertar-nos desse lastro que é a riqueza emprestada.

***

PS - A Breve Historia del Saber de Charles Van Doren está a ser uma agradável leitura. Desconhecia, até escrever este post que existia uma edição em português. Descobri ainda um interessante post de Carlos Fiolhais  sobre o livro e o seu autor, no blogue De Rerum Natura. A leitura prossegue.

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*Edição em português: Charles Van Doren, Breve Historia do Saber, Caderno, 2008

segunda-feira, dezembro 03, 2012

Nem Roma, nem Império, nem Israel.

                       © AMCD

                      © AMCD


O Arco de Tito, construído em 81 d.C., em Roma, celebra o triunfo sobre a Judeia e a destruição do Templo de Jerusalém, em 70 d.C., pelos romanos. Num pormenor, pode observar-se um grupo de soldados transportando a Menorah (candelabro de sete braços) entre outros despojos do saque.


Hoje, na verdade, “os romanos” são outros e Israel vive com a anuência do Império que a consente e apoia. As questões são por isso agora outras: até quando sobreviverá este Império? E sobreviverá Israel à queda do Império que agora a suporta?

Ouvi um dia, pela primeira vez, estas palavras da boca do falecido Arafat (e garanto que foi pela primeira vez e por isso as retive): “Não há força que sempre dure”. Nem Roma, nem Império, nem Israel.

domingo, setembro 02, 2012

Civilização e barbárie


George Steiner, mais do que uma vez, questiona-se e questiona-nos: como foi possível que as universidades, os museus, os teatros, as bibliotecas, os centros de investigação, as ciências e as humanidades, tenham prosperado na proximidade dos campos de concentração? Como foi possível que tal grau de civilização tenha convivido, lado a lado, com tal grau de barbárie?

Pois bem, quem se passeia pelo Palatino, pelos Fora Imperiais e pelo Coliseu, esse colosso inaugurado em 80 d.C. com pompa e circunstância - 100 dias de circo ininterrupto, com a chacina espectacular de todo o tipo de bichos e depois cristãos – não deixa de se colocar a mesma questão. Como foi possível que a mesma civilização que produziu um Virgílio, um Séneca, um Cícero, entre muito outros gigantes, tenha produzido aquilo? O Coliseu não era um campo de concentração, não era uma fábrica de morte, é certo, mas não deixava de ser um circo de morte, onde a chacina se convertia em espectáculo. De lembrar ainda que o Coliseu não era único - era o maior de muitos circos espalhados pelas cidades do Império.

Por baixo da fina película de civilização daquela época escondia-se uma civilização esclavagista e sanguinária que não permitia quaisquer veleidades aos escravos e muito menos aos escravos revoltosos – 6 000, comandados pelo revoltoso Spartacus, foram crucificados ao longo da via Ápia, só para dar o exemplo.

Analisando as histórias do mundo, assim como o mundo no presente, não nos deixamos de questionar: que estranha correlação é essa entre a civilização e a barbárie? Será que um elevado grau de civilização tem sempre de conviver com um elevado grau de barbárie? Tem de ser mesmo assim?

sábado, outubro 29, 2011

Epitáfio de Cláudia (Roma, Séc. II a.C.)

Estrangeiro, pouco tenho para dizer; pára e lê.

Este é o sepulcro não pulcro de uma pulcra mulher.

Cláudia foi o nome que lhe puseram seus pais.

Ao marido amou de todo o seu coração.

Filhos, criou dois. Destes, a um,

Deixou sobre a terra, o outro sob ela.

Aprazível a sua fala, gracioso era o seu andar.

Cuidou da sua casa, fiou lã. Disse. Podes ir-te.

Roma, Séc. II a.C.

Traduzido do original por Maria Helena da Rocha Pereira, Romana – Antologia da Cultura Latina, 6.ª ed, Guimarães, pág. 23

quarta-feira, abril 13, 2011

Once In A Lifetime*

«Tu não podes apontar-me alguém que saiba de que modo começou a querer aquilo que quer. E porquê? Porque o comum das pessoas não é levada pela reflexão, mas arrastada por impulsos. A fortuna cai sobre nós não menos vezes do que nós caímos sobre ela. A indignidade não está em "irmos", mas em "sermos levados", em perguntarmos de súbito, surpreendidos, no meio de um turbilhão de acontecimentos: "Mas como é que eu vim parar aqui?"»

Séneca, Cartas a Lucílio, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007. Pág. 133
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(*) - Título de música de 1981, da banda Talking Heads, cujos primeiros versos rezam assim:

You may find yourself living in a shotgun shack
And you may find yourself in another part of the world
And you may find yourself behind the wheel of a large automobile
You may find yourself in a beautiful house, with a beautiful wife
You may ask yourself, "Well, how did I get here?"

domingo, abril 04, 2010

Porto, navegação e ventos

As nossas deliberações serão vãs desde que não tenham um alvo preciso a atingir; quem não conhece o porto que demanda nunca encontrará ventos propícios!

Lúcio Aneu Séneca, Cartas a Lucílio, Livro VIII, Carta 71, 3ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007, pág. 272.

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