Ferdinand Addis, Roma, História da Cidade Eterna, Crítica, 2022.
⭐⭐⭐⭐⭐
Eis-nos
lançados nas ruas de uma cidade antiga. Tão antiga que se diz eterna. Ali nos
cruzamos com personagens de todas as eras. Assistimos às assembleias entre a
plebe, frente ao templo de Júpiter, no topo do monte Capitolino. Vimos passar César
na sua biga triunfal e o escravo que, atrás dele, de vez em quando se lhe assoma ao ouvido para lhe murmurar que é apenas um homem, à passagem entre a multidão que o aclama como se fosse um deus.
Ali
nos cruzámos com Marco Aurélio, Séneca, Ovídio e Nero e muitos mais. Mas não
ficámos apenas naquele tempo romano. Acabamos por atravessar os tempos,
naquela cidade. Chegámos a combater entre os camaradas de Garibaldi. Também ali deparámos
com Mussolini, já no século XX, uma besta sexual com o QI de um sapo. Ele e a
sua última amante, executados e dependurados. E Fellini e a sua Dolce Vita.
A
história de Roma é também a história da civilização Ocidental. Está embrenhada
nela. Vindos da recém-descoberta América, os marinheiros de Colombo inauguram a
propagação da sífilis pela cidade das prostitutas. Isto para dizer que também
as longínquas descobertas ecoaram nas ruas e nas vidas dos cidadãos de Roma.
Muito
haveria para contar dos ilustres personagens que desfilaram na história da
cidade.
Ferdinand
Addis consegue colocar-nos lá, no espaço e no tempo. Viajamos por Roma desde a sua origem até ao século XX e com os romanos. Somos espectadores, somos participantes.
Um
livro excelente, repleto de acção e movimento, dinâmico, que se lê como um
romance.
*****
Uma
passagem:
«Enquanto
os godos recuavam, as balistas nas muralhas entraram em acção. Estas eram uma
espécie de bestas gigantescas: máquinas de arremesso de flechas com dois braços
equipados com molas de torsão, capazes de disparar virotes curtos e grossos a
distâncias além do que a vista alcançava. Estas máquinas aterrorizavam os godos.
Na Porta Salária, por onde a velha estrada do sal saía da cidade, um nobre godo
que se afastou demasiado das suas linhas foi atingido por um virote disparado
por uma equipa de balista com a pontaria afinada. O virote trespassou-lhe a
couraça e pregou-o a uma árvore, deixando-o a baloiçar-se e a contorcer-se,
enquanto os godos mais próximos, demasiado assustados para o ajudarem,
tropeçaram uns nos outros com a pressa de ficarem fora do alcance.»
Ferdinand Addis, Roma, História da Cidade Eterna, Crítica, 2022, pp. 244-245
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