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sábado, janeiro 02, 2016

O "pragmatismo"

No Conselho da Diáspora Portuguesa, Cavaco Silva sublinhou que o pragmatismo tem dominado as decisões dos governos da União Europeia face a uma realidade que se impõe às governações ideológicas. Na verdade trata-se de uma realidade que se impõe à própria democracia. O “pragmatismo” de que fala o presidente faz lembrar o do presidente Benes que, em 1938, para poupar o seu povo à guerra e ao sofrimento, foi forçado a ser pragmático ao ter de abrir as fronteiras da Checoslováquia à invasão dos nazis.

O “pragmatismo” de que fala Cavaco Silva é a única escolha que resta aos governos da União Europeia face ao poder avassalador dos mercados. E ai do governo que rejeite esse “pragmatismo”. Será forçado a ser "pragmático". Até os mais rebeldes, como o governo grego liderado por Tsipras, tiveram de atalhar caminho, aprendendo rapidamente a serem “pragmáticos”. Hoje a democracia na Europa está ferida. Às democracias europeias e aos povos da Europa resta apenas o “pragmatismo” da ideologia do mercado, o único caminho, a única via, a única alternativa. Outros poderes se erguem já, na determinação do destino dos povos, que não obedecem à sua livre escolha democrática. Poderes que alguns divinizam, mas que estão longe de ser divinos.

quarta-feira, janeiro 01, 2014

A Mensagem do Presidente

Gostei de ouvir a Mensagem de Ano Novo do Presidente da República, mas, perdoem que pergunte: não é a assumpção da necessidade de um “programa cautelar” a prova evidente do falhanço das políticas tomadas até aqui por este Governo, que tem sido tão bem respaldado pelo Presidente?

Julgo que não vale a pena dourar a pílula: a necessidade de um “programa cautelar” é uma prova mais do que evidente do falhanço das políticas governamentais, para não falar do resto – dos elevados níveis de desemprego, da pobreza, das desigualdades sociais, da emigração, do défice orçamental, etc., etc. etc. Faz por isso todo o sentido clamar por mais justiça social e por desenvolvimento (na Mensagem de Ano Novo, o Presidente não se esqueceu de referir estes desígnios). Na verdade, o crescimento económico de nada nos servirá se não for acompanhado por desenvolvimento, ou seja, para ser mais exacto, pela criação de emprego, pela redução da pobreza e pela diminuição das injustas desigualdades sociais.

Além disso, por muito virtuoso que possa ser o “programa cautelar” – parece que é assim que querem que pensemos dele, que é uma coisa virtuosa - a verdade é que a Irlanda o rechaçou.

Serão os irlandeses parvos?


Se vier o “programa cautelar”, o que quer que isso seja, em caso de necessidade, dizem, e se for accionado, adivinhe quem vai pagar?

segunda-feira, julho 22, 2013

Cavaco, a imagem e o que se esconde por detrás dela

Há muito que o Presidente Cavaco Silva denota uma extrema preocupação com a imagem (efectivamente, estamos no século da imagem e uma imagem vale por mil palavras, mas as imagens também iludem, na medida em que, como escreveu Magritte ante a imagem de um cachimbo que ele mesmo pintou: “Ceci n'est pas une pipe. Pois não, a imagem de um cachimbo não é um cachimbo, ou por outras palavras, as imagens podem ser uma representação da realidade, mas não são a própria realidade). Pois bem, a preocupação com a imagem está omnipresente nas mensagens e nos discursos do Presidente, que parece sofrer da síndroma “o-que-irão-os-outros-pensar-de-nós-se-dermos-esta-imagem” quando deveria ser, “o-que-irá-ser-de-nós-se-persistirmos-neste-rumo”. A preocupação deveria incidir no “ser” e não no “parecer”, na realidade e não nas aparências.

Se atentarmos na sua comunicação ao país no dia 10 de Julho de 2013, lá está ela, a imagem, logo na segunda frase: “Os efeitos fizeram-se sentir de imediato no aumento das taxas de juro e na deterioração da imagem externa de Portugal”.

Já na comunicação do dia 21 de Julho, a preocupação com a imagem não aparece no discurso de forma explícita, mas sim de forma implícita, na frase: “Aos agentes económicos e aos parceiros sociais, aos investidores nacionais e estrangeiros, às instituições internacionais e aos nossos parceiros da União Europeia, daríamos a perspetiva, num horizonte temporal alargado, de que somos um País dotado de estabilidade política, que segue uma estratégia coerente de desenvolvimento sustentável.” Cá está: é preciso dar a perspectiva - ou seja, dar a imagem -, é preciso causar boa impressão, é preciso transmitir uma imagem credível de que “somos um País dotado de estabilidade política”, ainda que a realidade o desminta.

Outra frase do mesmo discurso que denota o mesmo tipo de preocupação é a seguinte: “Dispondo o Executivo do apoio de uma maioria parlamentar inequívoca, como recentemente se verificou, deve ficar claro, aos olhos dos Portugueses e dos nossos parceiros europeus, que Portugal é um país governável. Mais uma vez, a imagem, pois que outra coisa poderia apresentar-se clara aos olhos, que não uma imagem?

É preciso manter as aparências.

O problema é a realidade.

quarta-feira, julho 10, 2013

A ditadura dos mercados

O Presidente na sua comunicação de hoje ao País, brandiu vários argumentos, um dos quais a necessidade de mobilizar em 2014, 14 mil milhões de euros para pagar aos credores por dívidas contraídas no passado. Precisamos de empréstimos para pagar dívidas, ou seja, precisamos de continuar a endividar-nos.

Não se suspendem portanto as transferências das "parcelas dos empréstimos que nos foram concedidos", suspende-se a possibilidade de eleições antecipadas a breve trecho.

Ainda que a realização de eleições não equivalha necessariamente a democracia (no Estado Novo, por exemplo, haviam eleições), podemos concluir que a democracia não está a ser respeitada nesta história pois os nossos credores não são favoráveis a que os eleitores se pronunciem. E os credores falam mais alto do que os eleitores aos ouvidos do Presidente.

O Presidente deseja a minimização dos antagonismos* inerentes à própria dinâmica democrática, para evitar a ira dos mercados, que, segundo afirma, colocaria os portugueses perante a iminência de mais “duros sacrifícios”. Para ele o ideal será trazer o maior partido da oposição para a esfera da governação, juntando-o em acordo de "salvação nacional" ao CDS e ao PSD. Para ele o ideal será limitar as vozes incómodas aos dois partidos minoritários da oposição.

Como é evidente, neste momento estamos sob uma nova forma de ditadura: a ditadura dos mercados.

Quem nos garante que uma semana antes das eleições, ou da saída da troika de Portugal, os juros da dívida portuguesa a dez anos não dispararão novamente para taxas superiores a 7,5% e a bolsa não se afundará? Suspenderemos então a realização das eleições?

Manda a situação que prevaleça o bom senso.

Mas não será uma insensatez prosseguir neste rumo? Onde queremos chegar?

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(*) Nota: antagonismo (luta entre inimigos); agonismo (luta entre adversários).

sexta-feira, setembro 21, 2012

É isto um país? É isto um Presidente? É isto um Governo?





Que somos dependentes sabemos nós. Mas caramba! Para que precisamos de um Presidente que nos está sempre a lembrar a nossa impotência e a nossa dependência em relação ao financiamento externo e aos mercados financeiros? Que já não somos independentes sabemos nós. E vamos agora contentar-nos com isso? Temos de conformar-nos? É isso?! Ora é isso uma ova! O que estão o Governo e o Presidente a fazer para que voltemos novamente a ser independentes e livres? Lembra-nos o Presidente que o Estado não funciona sem a ajuda financeira do exterior. Pois! É um facto! Mas as palavras, senhores, as palavras... "Portugal, país que depende enormemente, todos os dias, do financiamento das instituições internacionais..."Wrong words!", "Le parole sono importante!" Portugal tem de voltar a ser independente. Deveria ser nisso que o Governo e o Presidente e toda a classe política e ainda, todos os portugueses, deveriam estar a empenhar todas as suas energias. Mas todo o discurso do Presidente e dos que nos governam aponta no sentido do conformismo e da impotência. E é isso que é revoltante. Fracos líderes fazem fraca a forte gente.

É preciso mudar este estado de coisas a começar por estes políticos sem desígnio que nos lideram. Mas que raio de país é Portugal, que não consegue autofinanciar-se, que não consegue erguer-se por si só, que não consegue ser livre? É isto um país? Porque haveríamos de contentar-nos com esta situação de dependência? Porque haveríamos de contentar-nos em regressar aos mercados, só para continuar a alimentar uma vida a crédito, sem qualquer liberdade e sem uma autodeterminação plena?

Ao fim de tantos anos, D. Afonso Henriques dá voltas na tumba.


[1] Cavaco Silva convoca-nos para que façamos um exercício de imaginação, como querendo mostrar-nos um cenário que nos paralise de medo. E depois? Viria o Apocalipse? Viriam aí as instituições internacionais com os seus exércitos invadir-nos? Portugal porventura desapareceria, submergido nas areias do tempo? Morreríamos todos de fome? Bardamerda! 


segunda-feira, setembro 17, 2012

A mensagem

«Passos Coelho já perdeu esta luta porque já perdeu todas. A própria "chamada" de Cavaco Silva a Vítor Gaspar ao Conselho de Estado, tornada pública, é um atestado de menoridade e um insulto ao primeiro-ministro. Cavaco chamou "quem sabe" e quem sabe é Gaspar. É esta a mensagem.» (Pedro Santos Guerreiro, Jornal de Negócios).

Aqui.

sábado, julho 14, 2012

Agora encontramo-nos no campo da crença.

Portugal  suspenso pela crença na benevolência dos credores.

Oremos.


Na revista do mesmo jornal, Clara Ferreira Alves na sua excelente "pluma caprichosa" aborda a questão de forma mais realista, racional e correcta: "Quando se pede dinheiro emprestado e se vive de dinheiro emprestado não se espera complacência nem benevolência dos credores."


sábado, maio 05, 2012

Cavaco, o “prestígio”, a “imagem”, a "reputação" e o “investimento directo estrangeiro”


Já não é a primeira vez que Cavaco Silva enfatiza a importância da “imagem” e do “prestígio” de Portugal enquanto factores de crescimento económico do país. A “imagem” e o “prestígio” fazem parte da sua vulgata e ele profere-as até à exaustão e ao aborrecimento (o nosso), reiteradamente. Da mesma forma, salienta a importância do “investimento directo estrangeiro”, para a ultrapassagem da crise económica e social que atravessamos. Ora este discurso, vindo de quem vem e de forma reiterada, aborrece, desmoraliza, não galvaniza e preocupa.

Pois ainda que a “imagem” e o “prestígio” sejam importantes, não se constroem no ar. Têm de assentar numa realidade ou essência que os sustente. E a actual realidade portuguesa, cada vez mais próxima do Terceiro Mundo, não é lá muito prestigiante. O senhor Presidente quer basear o nosso prestígio em quê? No empobrecimento? Nas desigualdades sociais? No crescimento do desemprego? No endividamento do Estado e das famílias? Na submissão do País aos poderes económicos e financeiros externos, ou, na submissão aos “mercados”? Na perda de liberdade? No enfraquecimento da democracia? Não é verdade que a capacidade de os portugueses determinarem o seu destino e o seu futuro se encontra seriamente comprometida? Ora, esta tónica continuada no “prestígio”, que na realidade está na lama, na “imagem”, e também no “investimento directo estrangeiro”, lembra-nos, de cada vez que é proferida pelo senhor Presidente, que a nossa liberdade, a nossa independência e o nosso desenvolvimento dependem mais dos outros do que de nós próprios, ou seja, dependem de elementos que não controlamos na medida em que se encontram fora do País. Será isto verdade?

Dependemos então da forma como os outros nos vêem e do investimento que decidem realizar no nosso território. É isso? Acredita o senhor Presidente que dependemos mais dos outros do que de nós mesmos para sairmos da situação em que nos encontramos?

Ficaríamos positivamente admirados com o Presidente se ele dissesse que, embora a “imagem” do país no exterior seja importante, não deixa de ser secundária em relação às condições de vida reais e ao trabalho que os portugueses poderão desenvolver no seu próprio país. Que a imagem,o prestígio e a reputação, virão depois de obra feita, por acréscimo, e em função da realidade (ou qualidade) criada.

Ficaríamos positivamente admirados com o Presidente se ele dissesse que, embora o investimento directo estrangeiro seja importante para combater o desemprego e desenvolver o País, não deixa de ser secundário em relação ao investimento que os portugueses poderão e deverão realizar no seu próprio país e também no estrangeiro. Que somos nós quem tem de fazer pela vida e que não podemos ficar à espera que venham os estrangeiros safar-nos desta situação.

Ficaríamos positivamente admirados com o Presidente se ele dissesse que o nosso futuro e a nossa liberdade dependem, acima de tudo, de nós, que estão nas nossas mãos e que somos capazes.

terça-feira, janeiro 03, 2012

Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar.


No país socialmente mais polarizado da Europa Ocidental, onde “todos somos responsáveis” pela situação a que isto chegou (diz Cavaco Silva), parece que afinal se exige mais esforço pelas medidas de austeridade aos mais pobres do que aos mais ricos. Com certeza, devem ser os mais pobres os verdadeiros responsáveis. [Clicar para ver a notícia na Agência Financeira. Aqui.]

Um dia depois do Presidente ter apelado a todos os portugueses para que combatessem pelo futuro de Portugal, não estando nenhum Português dispensado desse combate, parece que existem alguns empresários e empresas que julgam combater melhor pelo futuro do País, mudando a sede social da empresa para a Holanda. Eia patriotas! E já lá vão 19 empresas das que estão cotadas no PSI 20!  [Clicar para ver a notícia na Agência Financeira. Aqui.]

Mas porque nos admiramos? Não sabíamos já que o capital não tem pátria e os negócios não têm ética?

segunda-feira, janeiro 02, 2012

Somos todos responsáveis?!


«A crise que Portugal atravessa é uma oportunidade para nos repensarmos como País. Orgulhamo-nos da nossa história e queremos continuar a viver de cabeça erguida. Durante muito tempo vivemos a ilusão do consumo fácil, o Estado gastou e desperdiçou demasiados recursos, endividámo-nos muito para lá do que era razoável e chegámos a uma “situação explosiva”, como lhe chamei há precisamente dois anos, quando adverti os Portugueses para os riscos que estávamos a correr. Agora temos de seguir um rumo diferente, temos de mudar de vida e construir uma economia saudável. Somos todos responsáveis. Esta é a hora em que todos os portugueses são chamados a dar o seu melhor para ajudar Portugal a vencer as dificuldades. Trabalhando mais e apostando na qualidade, combatendo os desperdícios, preferindo os produtos nacionais. Deixando de lado os egoísmos, a ideia do lucro fácil e o desrespeito pelos outros. Nenhum Português está dispensado deste combate pelo futuro do seu País.»



O Presidente convoca-nos para o combate pelo futuro do País, dizendo-nos que “somos todos responsáveis”. Somos todos responsáveis?! Nem somos todos responsáveis e entre os responsáveis, alguns são mais responsáveis do que outros. Esta atribuição da responsabilidade a todos os cidadãos é uma forma de diluir a responsabilidade, desresponsabilizando, dessa forma, os verdadeiros responsáveis: os timoneiros que, ao longo dos anos, nos conduziram até aqui.[1]

Uma auditoria à dívida serviria para apurar as responsabilidades da situação a que chegámos e por isso alguns cidadãos defendem-na. Mas, à parte do apuramento das responsabilidades, a verdade é que Portugal se encontra em apuros, pelo que o empenho de todos os portugueses no combate pela salvação do País, se sobrepõe à questão do apuramento das responsabilidades. Por outras palavras: se um navio está a meter água, é melhor que os tripulantes se concentrem no escoamento da água, em vez de perseguirem pelo convés os responsáveis pelo rombo.

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Nota: [1] acerca dos responsáveis pelo “rombo”, este gráfico do blogue Douta Ignorância é muito interessante.

sábado, novembro 05, 2011

Também tu, Obama?!


Obama e Cameron, ao recusarem a aplicação da Taxa Tobin – a tributação dos movimentos de capitais -, mostram, mais uma vez, a sua verdadeira face: a de servidores e testas de ferro de obscuros interesses financeiros antidemocráticos. Afinal a quem servem eles, na verdade? Não deveria ser a democracia? Contudo, parecem defender mais as organizações financeiras multinacionais e os patrões da alta finança do que os povos que os elegeram. Mais uma traição à democracia.

***

Já em 2002, Ignacio Ramonet alertava (os destaques são nossos):

"Podem as sociedades democráticas, durante muito tempo, tolerar o intolerável? É urgente deitar grãos de areia nestes movimentos devastadores dos capitais. De três formas: supressão dos “paraísos fiscais”; aumento da fiscalidade sobre os rendimentos do capital; tributação das transacções financeiras.

(…)

A tributação dos lucros financeiros é uma exigência democrática mínima. Esses lucros deveriam ser tributados da mesma forma que os rendimentos do trabalho. Tal não acontece em nenhum lado, nomeadamente no seio da União Europeia.

A liberdade total de circulação de capitais desestabiliza a democracia. É por isso que importa implementar mecanismos dissuasivos. Um dele é a Taxa Tobin, assim chamado pelo nome do Prémio Nobel da Economia, o americano James Tobin que a propôs em 1972. Trata-se de tributar, de forma módica, todas as transacções no mercado de capitais para os estabilizar e, simultaneamente, para encontrar receitas para a comunidade internacional. À taxa de 0,1%, a Taxa Tobin conseguiria, num ano, qualquer coisa como 166 mil milhões de euros, duas vezes mais do que o total anual necessário para erradicar a extrema pobreza em cinco anos."

Ignacio Ramonet, Guerras do Século XXI, Campo das Letras. 2ª ed. 2003. pág. 106-107.

***

Parece que o Presidente Cavaco Silva vai aos EUA encontrar-se com Obama: porque não tenta convencê-lo a abraçar a Taxa Tobin? (Eu sei, eu sei…é uma piada.)

Cavaco Silva clama por unidade social. Mas como, se os lucros não são tributados da mesma forma que os rendimentos do trabalho? Como pode haver unidade social quando não há justiça na distribuição dos sacrifícios?

domingo, julho 03, 2011

A justa distribuição dos sacrifícios

Todos os rendimentos, superiores ou iguais ao salário mínimo nacional, serão alvo do imposto extraordinário, excepto os rendimentos de capitais. Cá está a justa repartição dos sacrifícios de que falava o nosso Presidente! É justo!

Argumento de um comentador na SIC Notícias: assim é, pois caso contrário, os investidores poderiam fugir com o dinheiro para o estrangeiro, o que prejudicaria a economia nacional. Brilhante!

O trabalho, infelizmente, não tem o mesmo grau de mobilidade do capital financeiro. Não pode circular com a mesma celeridade. Consequência: taxa-se o trabalho, ficando livre o capital financeiro.

Isto está mesmo a pedir uma bernarda.

Ah plácido povo que a tudo te submetes!

***

Outra:

Um dia depois de ser anunciado o imposto extraordinário que permitirá ao Estado arrecadar 800 milhões de Euros, publica-se um despacho em Diário da República que determina um empréstimo ao BPN no valor de 1 000 milhões. Os fiadores somos nós, contribuintes.

Tudo isto é revoltante.

terça-feira, junho 28, 2011

A justa distribuição dos sacrifícios e blá, blá, blá.

«Cavaco Silva remete para a AR a avaliação do Programa do Governo, mas afirma que “é preciso cuidado na distribuição dos sacrifícios".»

É uma hipocrisia falar-se da justa distribuição dos sacrifícios sem que se defenda uma auditoria à dívida portuguesa. Sem se saber quem são os responsáveis pela dívida, quem viveu acima das suas possibilidades, quem contraiu dívida e quais os valores contraídos, não se pode falar em distribuição justa dos sacrifícios. Enquanto Cavaco Silva não vier defender uma auditoria à dívida portuguesa, não nos convencerão as suas palavras de que é preciso ter muito cuidado na distribuição justa desses sacrifícios". Soarão a hipocrisia.

Fazer pagar a todos a dívida contraída por alguns é uma injustiça. Tornar a todos devedores quando apenas alguns se endividaram é uma injustiça. Mesmo que uma parte dessa dívida seja atribuível à gestão danosa do Estado.

Por isso, Sr. Presidente, defenda lá a auditoria à dívida portuguesa e deixe-se de tretas.

sexta-feira, junho 10, 2011

O crepúsculo do dever

As nossas sociedades liquidaram todos os valores sacrificiais, quer sejam determinados pela outra vida ou por finalidades profanas, a cultura quotidiana deixou de ser irrigada pelos imperativos hiperbólicos do dever e passou a sê-lo pelo bem-estar e pela dinâmica dos direitos subjectivos, deixámos de reconhecer a obrigação de nos ligarmos a qualquer coisa para além de nós próprios.

(…)

Sociedade pós-moralista: entenda-se uma sociedade que repudia a retórica do dever austero, integral, maniqueísta, e que, paralelamente, exalta os direitos individuais à autonomia, ao desejo, à felicidade.

Gilles Lipovetsky, O Crepúsculo do Dever: A Ética Indolor dos Novos Tempos Democráticos, Publicações Dom Quixote, 2004.

“Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do País com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar.”

Cavaco Silva, Discurso do Presidente da República na Cerimónia de Homenagem aos Combatentes, por ocasião do 50º Aniversário do início da Guerra em África

Forte do Bom Sucesso, Lisboa, 15 de Março de 2011

***

Quantos de nós estaremos hoje dispostos a sacrificar a vida pela pátria, pela liberdade, pelos nossos concidadãos, pelo nosso bairro e pelos nossos vizinhos? No passado não se hesitava: os homens sacrificavam-se quando um rei, um presidente, um primeiro-ministro (ou um presidente do conselho) os convocava em nome da pátria. Partiam, sem contestar, para a guerra, para o Ultramar, para os campos de batalha longínquos, para a morte. Muitas vezes partiam às ordens dum líder lunático, sem sequer questionarem os seus ditames. A defesa do solo pátrio, por exemplo, sobrepunha-se ao bem-estar pessoal e à “dinâmica dos direitos subjectivos”. No passado (não muito distante) as mentalidades e a escala de valores eram outras.

Numa sociedade “pós-moralista”, como a actual, que “repudia a retórica do dever austero, integral, maniqueísta”, os incitamentos à acção pela pátria são recebidos com desagrado, repulsa ou desprezo. “Os direitos individuais à autonomia, ao desejo, à felicidade” sobrepõem-se aos deveres para com o colectivo, sempre que estes ponham em causa o bem-estar individual.

Talvez por isso, quando o Presidente Cavaco Silva, no dia 15 de Março deste ano, incitou os jovens de hoje a empenharem-se com a mesma coragem, desprendimento e determinação dos jovens de ontem, no cumprimento de missões e causas essenciais ao futuro do País, muitos tenham ficado chocados com o apelo.

Vivemos em sociedades capitalistas e liberais, onde prevalece a mentalidade do “primeiro eu, depois o mundo” e “depois de mim, o dilúvio”, por isso o que esperávamos?

Vivemos no crepúsculo do dever.

sábado, maio 07, 2011

A comunicação do Presidente

Algumas frases que ficaram do Presidente Cavaco Silva na sua comunicação ao País:

"Trabalhar melhor!"
"Poupar mais!"
"Não podemos gastar acima das nossas possibilidades!"

***

No mesmo momento em que furtam a cada trabalhador português uma percentagem do seu vencimento através de uma taxa de remuneração extraordinária (na verdade, um roubo extraordinário), dizem-lhe, com uma palmadinha nas costas: "Vá lá Zé, tens de trabalhar melhor." E se pagassem melhor? E se as horas extraordinárias deixassem de ser taxadas? Não iríamos, dessa forma, trabalhar melhor? Não se motiva ninguém para o trabalho, roubando-lhe parte do salário.

"Poupar mais!" Quem? Os endividados? Os desempregados? Os pensionistas? Os depauperados? Os roubados? Por amor de Deus Sr. Presidente!

"Não podemos gastar acima das nossas possibilidades!" Quem? Deve estar a referir-se aos endividados e ao Estado, também ele endividado. Ou será que se refere à maior parte dos portugueses ou aos idosos, que mal têm dinheiro para os medicamentos ou para se deslocar pelos seus próprios meios ao hospital mais próximo, que por vezes está a milhas?

***

Quem se endividou indevidamente, por má gestão do rendimento familiar, ou da coisa pública, ou da governação, ou do que quer que seja, que pague a dívida que contraiu. Neste momento, não é isso que está a acontecer. Neste momento, está a pagar o justo pelo pecador, ou melhor, está a pagar o que poupou pelo devedor, o que se sacrificou pelo que não se importou.

Mas o pior de tudo isto, é que terão de ser as gerações futuras a pagar também pela actual corja que se endividou e governou como se não houvesse amanhã, como se o dinheiro nascesse numa cornucópia inesgotável. Foi um fartar vilanagem...Na verdade, governar assim até é fácil: "É preciso de dinheiro? Não faz mal. Vai-se ao Totta."

Enfim...é uma injustiça e é insuportável.

quarta-feira, setembro 09, 2009

terça-feira, agosto 04, 2009

As férias de Cavaco

O nosso Presidente foi de férias. Foi de férias, alto lá! Leva trabalho que daria para encher um jipe. No seu pedagógico anúncio à nação (como parece pretender que sejam todos os seus professorais anúncios) parece sentir relutância ou pudor em afirmar que não vai fazer a ponta de um corno. Não. Leva trabalho e que trabalho! Pois eu gostaria de ter um presidente que afirmasse sem vergonha que vai aproveitar as suas férias para descansar, para reflectir sobre o mundo, para pôr a sua leitura em dia (caso goste de ler algo mais do que técnicos cartapácios legais) ou para recitar poesia. Será que está imbuído da ética protestante e do espírito do capitalismo? É verdade que visitou a Áustria recentemente, berço de neoliberais, terra de Schumpeters e Hayeks. É também verdade que o trabalho dignifica (quando não escraviza). Mas nas férias? Mais vale reconhecer que não vai de férias. É que nós portugueses quando nos preparamos alegremente para ir de férias, lá vêm os anúncios da imprensa lembrar-nos de que somos o povo (ou um dos povos) que menos trabalha na Europa, que temos mais feriados do que os outros, que a nossa produtividade é baixa, etc. Em suma, somos todos uns mandriões que, se calhar, nem merecíamos ir de férias. Querem que trabalhemos como um alemão, um austríaco ou um japonês? Pois que trabalhem eles, que nós somos latinos. Nisto estou com Agostinho da Silva: ainda que o trabalho liberte (como diziam os outros maldosamente– arbeit macht frei), prefiro libertar-me do trabalho.

Boas férias Sr. Presidente.

sexta-feira, abril 24, 2009

25 de Abril, Sempre!


Aqui usamos cravos na lapela, Senhor...Presidente.

E os que não,

Que vão

P'ra Santa Comba Dão!



VIVA O 25 DE ABRIL!


terça-feira, setembro 23, 2008

A Propósito das Palavras do Presidente sobre a Derrocada dos Mercados Financeiros

Disse o Presidente Cavaco Silva que a economia de mercado é o pior dos sistemas económicos, à excepção de todos os outros; tal como a democracia relativamente aos outros sistemas políticos. Acontece que neste momento de crise financeira, não é a economia de mercado que está em causa. O que está em causa é uma certa concepção fundamentalista de que o mercado se basta a si mesmo, com o mínimo de regulação na prossecução do bem-estar social; a ideia de que o mercado tende para o equilíbrio se for deixado a si mesmo, funcionando livremente.

O que está em causa é a ideia de “menos Estado, mais mercado”, escondida sob o chavão de “Menos Estado, melhor Estado”.

O que está em causa é a agenda política neoliberal levada a cabo, quer por governos conservadores, quer por governos que se dizem socialistas, mas que há muito colocaram o socialismo na gaveta.

O que está em causa é o neoliberalismo: essa teoria político-económica que defende que o bem-estar social pode ser melhor alcançado através da livre empresa e do empreendedorismo individual, dentro de um quadro institucional caracterizado por fortes direitos de propriedade privada, mercados livres de regulação e comércio livre e desregrado.

Não é portanto a economia de mercado que está em causa. São as políticas assumidas desde o início dos anos 80 até hoje, baseadas na privatização dos lucros e na socialização dos prejuízos, que estão em causa.

Querer fazer-nos crer que o que está a ser posto em causa é a economia de mercado e não as políticas neoliberais, é querer iludir a questão e iludir-nos a todos.

domingo, agosto 03, 2008

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