quarta-feira, julho 10, 2013

A ditadura dos mercados

O Presidente na sua comunicação de hoje ao País, brandiu vários argumentos, um dos quais a necessidade de mobilizar em 2014, 14 mil milhões de euros para pagar aos credores por dívidas contraídas no passado. Precisamos de empréstimos para pagar dívidas, ou seja, precisamos de continuar a endividar-nos.

Não se suspendem portanto as transferências das "parcelas dos empréstimos que nos foram concedidos", suspende-se a possibilidade de eleições antecipadas a breve trecho.

Ainda que a realização de eleições não equivalha necessariamente a democracia (no Estado Novo, por exemplo, haviam eleições), podemos concluir que a democracia não está a ser respeitada nesta história pois os nossos credores não são favoráveis a que os eleitores se pronunciem. E os credores falam mais alto do que os eleitores aos ouvidos do Presidente.

O Presidente deseja a minimização dos antagonismos* inerentes à própria dinâmica democrática, para evitar a ira dos mercados, que, segundo afirma, colocaria os portugueses perante a iminência de mais “duros sacrifícios”. Para ele o ideal será trazer o maior partido da oposição para a esfera da governação, juntando-o em acordo de "salvação nacional" ao CDS e ao PSD. Para ele o ideal será limitar as vozes incómodas aos dois partidos minoritários da oposição.

Como é evidente, neste momento estamos sob uma nova forma de ditadura: a ditadura dos mercados.

Quem nos garante que uma semana antes das eleições, ou da saída da troika de Portugal, os juros da dívida portuguesa a dez anos não dispararão novamente para taxas superiores a 7,5% e a bolsa não se afundará? Suspenderemos então a realização das eleições?

Manda a situação que prevaleça o bom senso.

Mas não será uma insensatez prosseguir neste rumo? Onde queremos chegar?

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(*) Nota: antagonismo (luta entre inimigos); agonismo (luta entre adversários).

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