quarta-feira, dezembro 31, 2008

O Dever de Ser Feliz

«O que se desenha no horizonte? – Um século das horas extraordinárias, da dúvida, da fuga massiva. Mas não vale a pena lamentar-se e é indecoroso baixar a cabeça. O dever de ser feliz é mais válido do que nunca em tempos como os nossos. O verdadeiro realismo da espécie consiste em não esperar menos da inteligência do que se exige dela.»

Peter Sloterdijk (1993), O Estranhamento do Mundo, Relógio D’Água, pág. 220.

Seria fácil demais virar o olhar para o lado sombrio dos nossos tempos e relembrar todas as desgraças. Seria fácil demais embrenharmo-nos na noite escura e questionar a ousadia da nossa festa. Festejemos! Iluminemos a noite com os nossos fogos, fátuos ou não. Lancemos alguma luz no céu sombrio e dancemos até ao raiar da aurora.

sábado, dezembro 27, 2008

O porto ou a morte

O Mar de Gelo, c. 1824 (Friedrich, Caspar David)
Nenhum grupo de ascetas sobre os mares pôde, porém, sentir com mais acuidade a lei do mar, «o porto ou a morte», do que os que procuravam os pontos de travessia mais difíceis da Terra, a via nordeste entre o Mar do Norte europeu e a Sibéria Oriental e a via noroeste entre a Gronelândia e o Alasca.

Peter Sloterdijk, Palácio de Cristal, Relógio D'Água, pág. 86

terça-feira, dezembro 23, 2008

El Niño Dios ha nacido en Belén

A Sagrada Família com Santa Ana, c 1600 - El Greco

A imagem do Menino Jesus a levar nalgadas da Virgem Abençoada, ainda por cima, perante três testemunhas (como o pintou Max Ernst), não é digna desta quadra natalícia. Por isso, deixamos um quadro mais cordato do Menino Jesus a ser amamentado pela Virgem. Agora, perante duas testemunhas (São José e Santa Ana).

Feliz Natal para todos os que acidentalmente ou incidentalmente encalharam neste blogue e para todos os que o visitaram intencionalmente. Espero que se tenham divertido de algum modo.

Boas Festas.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Max Ernst em Málaga

A Virgem Abençoada Castigando o Menino Jesus Perante Três Testemunhas, 1926 - Max Ernst

No Museu Picasso em Málaga, descobrimos outro vulto da arte do século XX. Max Ernst (1891-1976). Em exposição até 01/03/2009, a sua obra integrada na colecção Würth pode ser apreciada nas galerias do museu. Pelas galerias acompanhou-nos a estranheza e o espanto da descoberta. Um louco pintando, não o mundo exterior, mas as paisagens do espírito interior. Pinturas, colagens, esculturas. Uma cabeça monumental dominando uma grande sala, omnipresente: o Big Brother. Gravuras representando figuras semi-humanas, semi-animais. O Espírito da Bastilha: um pequeno homenzinho erigido no cimo de um totem de pedra. A Horda – uma colagem de figuras antropomórficas ameaçadoras. Mas o quadro que mais nos chamou a atenção foi o Século XX ou Versatilidade, pintado em 1961. Há quem veja optimismo no quadro!? Optimismo!? Pintado em 1961, no auge da Guerra Fria e do equilíbrio do terror nuclear por um homem que sofrera na pele duas guerras mundiais (lutou na Primeira tendo recuperado de uma morte clínica e foi enviado para campos de concentração na Segunda), o quadro é a imagem da desolação ou da versatilidade das formas de destruir o mundo: uma descrença total no Homem, o destruidor de mundos. Trata-se na verdade de uma paisagem de escombros fumegantes, sobre o vermelho vivo de sangue, e um azul frio de morte. Um apocalipse. Não foi o século XX, um século de campos de batalha sem fim, de cidades arrasadas e cogumelos atómicos? Que futuro se pressentia para o século XX, em 1961?

O Século XX ou Versatilidade não o encontrámos na Internet. Fica a imagem da Virgem Abençoada Castigando o Menino Jesus Perante Três Testemunhas (que se encontra em exibição no The Metropolitan Museum of Art).

domingo, dezembro 21, 2008

Málaga em Dezembro

Na margem do Mediterrâneo, Málaga é uma cidade digna de ser visitada em Dezembro, pelas suas gentes, pela sua alegria e pelo seu calor. Málaga é uma cidade viva. À noite o seu centro anima-se de jovens e famílias que se passeiam pelas calles iluminadas e enfeitadas (as ruas nunca são abandonadas ao frio e ao silêncio). As jovens espanholas embelezam-se e perfumam-se. Caminham animadamente em direcção a uma qualquer fiesta. No centro da cidade destaca-se a avenida Marqués de Larios (uma espécie de Rua Augusta, mas ao contrário desta, a multidão invade-a quando a noite se instala). O centro histórico é também constituído por numerosas pequenas praças e ruas estreitas, polvilhadas de bodegas, onde se comem tapas, bebe-se cerveja e convive-se animadamente. Os mais devotos formam filas à entrada das igrejas e da catedral, para assistirem a rituais nocturnos. A cidade respira o ar cálido do Mediterrâneo por todos os poros.

Mas com o aprofundar da noite, resistem nas ruas hordas ruidosas de adolescentes que, organizadamente, se foram embriagando. A vozearia e a gritaria é intensa na Plaza da Marina, fronteira ao porto, e dura até ao raiar da alba.

sábado, dezembro 20, 2008

O Cabo das Tormentas

A criatura resiste. Recorre neste momento de aflição, a todos os seus esbirros colocados em altos cargos governamentais e outros de grande alcance social. Move todas as suas influências. Tenta escapar ao naufrágio no mar tormentoso do mundo. Mar tenebroso, o que agora atravessamos. Os governos não nacionalizam, não propõem o fim de paraísos fiscais e zonas francas, e continuam a apostar na concessão de crédito para financiar o investimento, mas na sociedade de consumo já não é a poupança que suporta o crédito, mas antes a produção monetária nas rotativas. Usam agora os contribuintes endividados como fiadores e financiadores de bancos falidos e de empresas mal geridas. E ainda nos querem fazer crer que estão realmente indignados porque os bancos não fazem chegar os financiamentos às empresas. Será que somos assim tão ingénuos?

Canalizam-se os recursos dos contribuintes para o benefício de alguns accionistas, num processo de concentração sem precedentes, de poder e riqueza. Mas o contexto não deixa de ser agónico. Algumas ruas gregas já perceberam e gritam contra a plutocracia. É só o começo da bernarda.

Virão dias de bonança, quando menos esperarmos. Restará saber se o navio neoliberal ainda navegará ou se terá sido tragado para as profundezas do oceano. O capitalismo assumirá então novas formas.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Sem futuro não há presente.

Para muitos, não há presente sem passado. Mas é mera ilusão.

O presente constrói-se de futuro.

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