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terça-feira, fevereiro 04, 2020

Até sempre, George Steiner






George Steiner (1929-2020)

Esvaziamos da sua humanidade aqueles a quem negamos a palavra. Tornamo-los nus e absurdos. O “silêncio de pedra” pode ser uma imagem literal e terrível do murmúrio confuso, ou na ausência de discurso, do “petrificado”. Quando o diálogo com os outros se quebra a Medusa domina o interior do nosso ser.

George Steiner (1971), No Castelo do Barba Ruiva, Relógio D’Água, 1992, Pág. 118.

Até sempre, George Steiner.

sábado, junho 10, 2017

Da literatura e da arte que perverte, degrada e brutaliza

«Se é verdade que a literatura e a arte de qualidade podem educar a sensibilidade, engrandecer as nossas percepções, refinar o nosso discernimento moral, pelo mesmo raciocínio poderão também perverter, degradar e brutalizar a nossa imaginação e os nossos impulsos miméticos.»

George Steiner, “Homem Gato” in George Steiner em The New Yorker, Gradiva, 2010, pág. 265.

George Steiner

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As palavras são importantes, para o bem e para o mal. A literatura e a arte também podem ser uma droga potente. Assim se explicam alguns dos seus efeitos nefastos sobre a nossa “imaginação e os nossos impulsos miméticos”. A citação de George Steiner enquadra-se num breve texto que escreveu sobre a obra de um escritor considerado maldito: Céline. Mas quanta literatura e arte (e a literatura é uma das artes) não existem por aí com esse efeito, embora se possa questionar a sua qualidade e até a sua categoria enquanto obra artística. (É isto literatura?) Livros que incendeiam as almas e o mundo, e que sem eles o mundo decerto seria um lugar bem melhor, sem ideologias e religiões incendiárias, e, consequentemente, sem tanto sofrimento. Mas para “educar a sensibilidade” e “engrandecer as nossas percepções” há um preço a pagar.

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Também poderíamos dizer em nota de rodapé que não existem religiões nem ideologias incendiárias, o que existem são incendiários inspirados por religiões e ideologias.

segunda-feira, dezembro 26, 2016

O fim de toda a educação

Sabemos já por Pascal e Montaigne que o fim de toda a educação consiste em tornar-nos capazes de estarmos sentados num quarto em silêncio. Ora, noventa por cento dos jovens, segundo as estatísticas já não são capazes de ler sem ouvir música ou espreitar de relance a televisão.

George Steiner, Quatro Entrevistas com George Steiner (por Ramin Jahanbegloo),  Fenda, 2006, pág. 90. (destaques nossos)

sábado, maio 28, 2016

O Triunfo da Morte


Bruegel, o Velho, O Triunfo da Morte, c. 1562, Museu do Prado

Duas obras, em particular, viriam a possuí-lo [a Elias Canetti], embora com efeitos contrários. O Triunfo da Morte, de Bruegel, parecia confirmar a mensagem de Gilgamesh. A energia da resistência à morte que pulsa nas numerosas figuras da composição invadiu a consciência de Canetti. Embora a morte triunfe, a luta representada dos que a combatem mantém uma dignidade eminente, e é ela que liga todos os homens uns aos outros.
George Steiner
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Fonte: George Steiner, in Robert Boyers (org.) George Steiner em The New Yorker, Gradiva, 2010, pág. 338.   

quarta-feira, janeiro 14, 2015

A Verdade

Ao nível mais importante, somos um mamífero razoavelmente cruel, feito para avançar, ultrapassar e destruir obstáculos. Na realidade, o obstáculo atrai-nos magneticamente. Há algo de central em nós que prefere a dificuldade, que procura os problemas enredados. Em última instância, isso deve-se ao facto de os mais dotados e enérgicos entre nós saberem há muito – sem, talvez, enunciarem este conhecimento – que a verdade é mais complexa do que as necessidades humanas, podendo até ser completamente alheia, ou mesmo oposta a essas necessidades.
(…)
Tenho uma certa imagem mental da verdade emboscada ao virar da esquina, à espera de que o homem se aproxime – e a preparar-se para lhe dar uma cacetada na cabeça.

George Steiner, Nostalgia do Absoluto, Relógio D’Água, 2003. Pág. 80 e 81

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Habitamos num “universo, de forma alguma feito para o nosso conforto e sobrevivência, e muito menos para o nosso progresso económico e social nesta minúscula Terra.”(Steiner) E, segundo Steiner, essa é uma imagem assustadora.

A verdade, que tanto procuramos movidos pela curiosidade científica, pode revelar-se adversa aos interesses humanos. A verdade pode ser um asteróide enorme, indetectado, imparável, em rota de colisão com a Terra. A verdade pode ser outra. A sua revelação pode no entanto, ser-nos desconfortável.

Se assim for, o que iremos fazer quanto a isso? Deveremos negá-la?

quinta-feira, agosto 21, 2014

Notícias da queda

De George Steiner, sobre o pensamento de Claude Levy-Strauss:

A queda do homem não apagou de uma penada todos os vestígios do Jardim do Éden. Os viajantes do século XVIII sucumbiram a uma espécie de ilusão premeditada quando pensaram ter encontrado raças humanas inocentes no paraíso dos Mares do Sul ou nas florestas do Novo Mundo. Mas as suas idealizações tinham uma certa validade. Os homens primitivos, que existiam, por assim dizer, fora da história, seguindo usos sociais e mentais dos primórdios e possuindo uma certa intimidade com as plantas e os animais, encarnavam efectivamente uma condição mais natural. O seu divórcio cultural com a natureza ocorrera evidentemente centenas, milhares de anos atrás, mas fora menos drástico que o do homem branco: em termos mais precisos, os seus usos culturais, os seus rituais, mitos, tabus, técnicas de recolha de alimentos eram calculados para aplacar a natureza, para confortá-la, para viver com ela, para tornar a divisão entre natureza e cultura em algo menos violento, menos dominante.

Ao encontrar estas sombras de vestígio do Éden, o homem ocidental dispôs-se a destruí-las. Massacrou inúmeros povos inocentes. Derrubou as florestas e queimou as savanas. Então, a sua fúria de destruição virou-se para as espécies animais. Uma após outra, foram perseguidas até à extinção ou à sobrevivência factícia dos jardins zoológicos. Esta devastação foi muitas vezes deliberada: era o resultado directo da conquista militar, da exploração económica, da imposição de tecnologias uniformes aos modos de vida autóctones. Milhões pereceram ou perderam a sua identidade e património étnicos. Alguns observadores calculam que, só no Congo, tenham morrido vinte milhões de vítimas desde o início da colonização belga. Linguagens, cada uma das quais codificava uma única visão do mundo, foram cilindradas e lançadas no esquecimento. A garça-real e a baleia foram caçadas quase até à extinção. Muitas vezes, a destruição era acidental ou mesmo devido a benevolência. As dádivas trazidas pelo homem branco – dádivas médicas, materiais, institucionais – mostraram-se fatais para os seus receptores. Como conquistador, explorador ou médico, o homem ocidental trazia sempre a destruição. Aparentemente possuídos por alguma ira arquetípica pela nossa exclusão do Jardim do Paraíso, por alguma recordação torturante dessa desgraça, revirámos a Terra em busca de vestígios do Éden e arrasámo-los sempre que os encontrámos.

George Steiner, Nostalgia do Absoluto, Relógio D’Água, 2003, pp 45-47

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Post scriptum:

O texto supracitado, da autoria de George Steiner, faz parte de um conjunto de palestras que ele proferiu na rádio em 1974. Então não se falava de países emergentes. Hoje, o homem ocidental, o branco de que ele fala, está longe de ser o único a causar a devastação planetária (*). Chineses, hindus, malaios, africanos, enfim, brancos, pretos, amarelos, homens de todas as cores, muito para além do homem branco, caucasiano, devastam alegremente os últimos vestígios edénicos do planeta.

Deixemo-nos de lirismos.

Virámo-nos contra esses vestígios do Éden primordial e contra nós mesmos. No fim, não irá restar pedra sobre pedra.

Nesta visão apocalíptica compreendemos Heidegger que disse um dia numa entrevista que só um deus poderia salvar-nos. O ser humano entregue a si mesmo está perdido, é a ilação que se tira de tudo isto. Trata-se de um voto de desconfiança cruel no ser humano.

Não subscrevemos essa ideia porque não a queremos subscrever. Só a Ciência pode salvar-nos, só o Homem pode salvar-se. É preciso acreditar ainda na Ciência e no Homem. Contra todas as evidências.

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(*) Hoje, o homem ocidental já não é apenas o homem branco caucasiano. Entre as sociedades dos países ocidentais convivem homens de todas as cores.

domingo, novembro 10, 2013

A comercialização da estética e a prostituição publicitária

A comercialização da estética, a sua redução a kitsh, contam-se entre os traços marcantes das culturas capitalistas. Shakespeare e Kant servem para vender sabonetes. Um tema de Haydn é convertido em refrão que acompanha o lançamento de um novo modelo de peúgas. Os textos, a música em causa, prestar-se-iam, em certo sentido, a uma tal prostituição? As ironias aqui são profundas.

George Steiner, Gramáticas da Criação


Muito antes desta constatação de Steiner, Fernando Pessoa tinha sido alertado por um amigo para o possível destino que a sua obra – Mensagem – teria, caso lhe desse o nome inicialmente pensado, “Portugal”. É que nem “Portugal”, nem a sua maior Dinastia, escapavam já à prostituição publicitária da cultura capitalista da época e ao kitsh (curiosamente, tal como Steiner, também Pessoa relaciona esse uso publicitário, por ser mais do que abusivo e empobrecedor, à prostituição).





Fernando Pessoa, AQUI

Em suma, a relação entre o capitalismo e a cultura equipara-se à relação entre o proxeneta e a prostituta, “em certo sentido”. A cultura só ao capitalismo interessa na medida em que ele pode ganhar dinheiro com a sua comercialização. Fernando Pessoa não queria que a sua “Mensagem” se prestasse a tal tratamento.

quinta-feira, novembro 29, 2012

Vacas e paixões


A minha convicção de que as vacas têm campos mas que as paixões em movimento são o privilégio da mente humana voltou-se desde sempre contra mim.”
George Steiner
 Errata: Revisões de uma Vida, Relógio D’Água, 2009, p. 185

Acabei hoje de ler a Errata. Grande Errata, grande Steiner, grande vida. 

sexta-feira, novembro 16, 2012

No domingo passado

Enquanto faiscam relâmpagos, ribombam trovões e o vento vergasta as figueiras. Enquanto a chuva ataca violentamente os telhados da velha aldeia que me alberga aqui na serra algarvia, recordo com agrado o "passeio dos tristes" do domingo passado. Venham outros assim.

       © AMCD

Naquele banco, ali à direita na fotografia, li na Errata Steiner arrasar essa velha ideia de que somos todos condicionados ora pela genética, ora pelo ambiente, como se fossem coisas distintas. A passagem é esta:

“Os genes, a hereditariedade ou os acidentes físico-psicológicos são o ambiente. Uma criança cega de nascença não será uma grande pintora. Uma criança que seja fruto de gerações de subnutrição ou que nasça num albergue de malária, está «condenada» por um ambiente herdado, por «bioconstrangimentos» ambientais. A verdade é que a interacção é indissociável. A biologia é ambiente: o ambiente é biologia. É de uma confrangedora hipocrisia pensar doutro modo.”

George Steiner (1997)
 Errata: revisões de uma vida. Relógio D’Água, 2009, p. 138.


Lembrei-me de Ortega y Gasset, do seu “eu” e da sua “circunstância”. Não quereria dizer ele o mesmo?

«Yo soy yo y mi circunstancia, y si no la salvo a ella no me salvo yo.»

Ortega Y Gasset (1914),
Meditaciones del Quijote, Publicaciones de la Residencia de Estudiantes, Madrid, 1914, p.43-44.

       © AMCD

sexta-feira, outubro 05, 2012

O maravilhoso mundo plano*


Nas palavras de George Steiner, esse maravilhoso mundo do capitalismo benfazejo, hoje globalizado, no qual “o progresso irradiaria necessariamente a partir dos seus centros privilegiados acabando por tocar todos os homens” e que tanto deslumbra Thomas Friedman, não passa de um sarcasmo. Já em 1971 quando Steiner escreveu o que escreveu, não passava de um sarcasmo. Mas Friedman, que anunciou ao mundo em 2005, que o mundo era plano devido à globalização capitalista, facto que proporcionaria a todos um progresso nivelador, não deve ter lido Steiner. Pelo menos não consta da bibliografia.

Disse Steiner:

«Sabemos hoje, enquanto Adam Smith e Macaulay o não sabiam, que o progresso material participa numa dialéctica de destruição concomitante e que devasta irreparavelmente os equilíbrios entre a sociedade e a natureza. Os progressos técnicos, soberbos em si próprios, têm contribuído activamente para a ruína dos sistemas vivos elementares e das condições ecológicas do mundo. O nosso sentido do movimento da história já não é linear, mas o de uma espiral. Somos hoje capazes de conceber uma utopia tecnocrática e higiénica funcionando num vazio de possibilidades humanas.
O segundo aspecto do sarcasmo refere-se a um contraste. Já não admitimos a projecção, implícita no modelo clássico do capitalismo benfazejo, segundo a qual o progresso irradiaria necessariamente a partir dos seus centros privilegiados acabando por tocar todos os homens. As obscenidades supérfluas das sociedades desenvolvidas coexistem com o que parece ser um estado de fome endémico em grande parte da Terra. Com efeito, o progresso quanto às esperanças de vida individual e à duração desta, proporcionado pela tecnologia médica, alimentou o ciclo do excesso populacional e da fome. Muitas vezes, os bens e circuitos de distribuição necessários para a eliminação da fome, da miséria, encontram-se a postos, mas a inércia da cupidez ou da política não permitem a sua utilização. Em demasiados casos a nova tecnocracia não é só destruidora dos valores anteriores e alternativos como cruelmente incapaz de tudo o que não seja exercer-se em vista do lucro no seu horizonte limitado. Assim ficamos numa posição ambivalente, irónica, frente ao dogma do progresso e ao prodigioso bem-estar do qual somos tantos a fruir, hoje em dia, no Ocidente tecnológico.»

George Steiner, No Castelo do Barba Azul – Algumas Notas para a Redefinição da Cultura, Relógio D’Água, 1992. P.77-78.

(*) Referência à obra de Thomas Friedman (2005),  O Mundo é Plano: uma Breve História do século XXI. Actual Editora.

domingo, setembro 02, 2012

Civilização e barbárie


George Steiner, mais do que uma vez, questiona-se e questiona-nos: como foi possível que as universidades, os museus, os teatros, as bibliotecas, os centros de investigação, as ciências e as humanidades, tenham prosperado na proximidade dos campos de concentração? Como foi possível que tal grau de civilização tenha convivido, lado a lado, com tal grau de barbárie?

Pois bem, quem se passeia pelo Palatino, pelos Fora Imperiais e pelo Coliseu, esse colosso inaugurado em 80 d.C. com pompa e circunstância - 100 dias de circo ininterrupto, com a chacina espectacular de todo o tipo de bichos e depois cristãos – não deixa de se colocar a mesma questão. Como foi possível que a mesma civilização que produziu um Virgílio, um Séneca, um Cícero, entre muito outros gigantes, tenha produzido aquilo? O Coliseu não era um campo de concentração, não era uma fábrica de morte, é certo, mas não deixava de ser um circo de morte, onde a chacina se convertia em espectáculo. De lembrar ainda que o Coliseu não era único - era o maior de muitos circos espalhados pelas cidades do Império.

Por baixo da fina película de civilização daquela época escondia-se uma civilização esclavagista e sanguinária que não permitia quaisquer veleidades aos escravos e muito menos aos escravos revoltosos – 6 000, comandados pelo revoltoso Spartacus, foram crucificados ao longo da via Ápia, só para dar o exemplo.

Analisando as histórias do mundo, assim como o mundo no presente, não nos deixamos de questionar: que estranha correlação é essa entre a civilização e a barbárie? Será que um elevado grau de civilização tem sempre de conviver com um elevado grau de barbárie? Tem de ser mesmo assim?

terça-feira, julho 24, 2012

Steiner, sobre o actual empobrecimento da educação


«É aqui que eu quero chegar. O que é importante é orientar a atenção de um aluno para aquilo que, de início, excede a sua compreensão, mas cuja estatura e fascínio irresistíveis o atraem. A simplificação, o nivelamento, a redução da fasquia, que dominam agora toda a educação, salvo a mais privilegiada, são criminosos. Descuram fatalmente capacidades que permanecem ocultas. Os ataques ao chamado elitismo escamoteiam uma condescendência vulgar para com todos aqueles que julgamos a priori serem incapazes de fazer melhor. Tanto o pensamento (o conhecimento, Wissenschaft, a imaginação a que se dá forma) como o amor exigem demasiado de nós. Tornam-nos humildes. Mas a humilhação e até o desespero face à dificuldade – depois de suarmos durante toda a noite, a equação ainda por resolver, a frase grega por compreender – podem irradiar com a luz do Sol.»

George Steiner, Errata: Revisões de uma Vida, Relógio d’Água, 2009, pp. 60

segunda-feira, março 07, 2011

As línguas em vias de extinção


Pieter Bruegel "O Velho", Torre de Babel, 1563

Steiner lamenta o desaparecimento das línguas, que considera um dano irreparável, tão ou mais irreparável do que a extinção das espécies. E a quem atribui ele a potenciação deste facto? Ao “mercado de massa” e à “tecnologia da informação”. Outros chamam-lhe capitalismo e globalização.
Na verdade vai tudo dar ao mesmo.

***

«Sustentei em After Babel (1975) que a multiplicidade de milhares de línguas mutuamente ininteligíveis outrora faladas nesta Terra – e das quais muitas desapareceram hoje, ou se encontram em vias de extinção – não é, como as mitologias e alegorias do desastre entendem, uma maldição. São, pelo contrário, uma bênção e um motivo de regozijo. Cada uma, entre todas as línguas, é uma janela que abre sobre o ser, sobre a criação. Uma janela como nenhuma outra. Não há línguas “menores” por reduzido que seja o seu quadro demográfico ou o seu meio. Certas línguas faladas no deserto do Calahari traçam ramificações do conjuntivo mais numerosas e mais subtis do que as que encontramos em Aristóteles.»

George Steiner (2008); Os Livros que Não Escrevi, Gradiva, pág. 97
(…)

«A verdadeira catástrofe de Babel não é a divisão das línguas: é a redução do discurso humano a meias dúzia de línguas “multinacionais” planetárias. Esta redução, formidavelmente potenciada pelo mercado de massa e pela tecnologia da informação, está hoje a remodelar o globo. A megalomania tecnocrático-militar, os imperativos da avidez mercantil, estão a tornar o vocabulário e a gramática de um anglo-americano estandardizado num novo esperanto. Devido às suas dificuldades, o chinês não poderá usurpar esta triste soberania. E quando a Índia o fizer, a sua língua será já uma variante do anglo-americano. Por isso houve um simulacro tão inquietante como infame do mistério de Babel na queda das torres gémeas do World Trade Center no 11 de Setembro.»

George Steiner (2008); Os Livros que Não Escrevi, Gradiva, pág. 100

sexta-feira, agosto 04, 2006

O carrasco e a vítima

O carrasco tortura a sua vítima e condena-se desse modo a ser uma eterna vítima.

George Steiner, Quatro Entrevistas com George Steiner (por Ramin Jahanbegloo)

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