Bruegel, o Velho, O Triunfo da Morte, c. 1562, Museu do Prado
Duas obras, em particular, viriam a possuí-lo [a Elias Canetti], embora com efeitos contrários. O Triunfo
da Morte, de Bruegel, parecia confirmar a
mensagem de Gilgamesh. A energia da
resistência à morte que pulsa nas numerosas figuras da composição invadiu a
consciência de Canetti. Embora a morte triunfe, a luta representada dos que a
combatem mantém uma dignidade eminente, e é ela que liga todos os homens uns
aos outros.
George Steiner
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Fonte: George
Steiner, in Robert Boyers (org.) George
Steiner em The New Yorker, Gradiva, 2010, pág. 338.
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E pensávamos nós que esta
história dos zombies era uma invenção pós-moderna e hollywoodesca para entreter
gente boçal. Pois bem, há nestas histórias de ecrã um cheiro a Idade Média. O
pós-modernismo parece estar a redundar num neo-medievalismo.
Na Guerra dos Tronos, por exemplo, para além dos vivos lutarem contra
os vivos, também os mortos lutam contra os vivos, como no quadro de Bruegel. Face a tal adversidade, os
vivos estão perdidos. É uma velha história medieval.
Nestas lutas, em particular nas da
vida contra a morte, simbolizada pelos exércitos dos mortos, a vida parece
condenada ao fracasso. Mas o grande triunfo da vida foi ter surgido em
pleno território da morte, pois de acordo com a actual biologia evolutiva, a
vida surgiu onde antes não tinha lugar, num universo em expansão, cheio de estrelas
e planetas estéreis. A partir desse momento, do aparecimento da vida (que
estranhamente parece ter caído de pára-quedas num território hostil), começou
uma batalha, pelo menos neste planeta, que ainda não terminou.
Mas eis-nos mais uma vez, e sempre, presos a dualismos de raciocínio e pensamento: vida, morte... O raciocínio por dualismos é muito prático, mas a sua conformidade à realidade é questionável.
Mas será a morte prévia à vida? Terá mesmo a vida caído no território da morte? Ou não será que ambas caíram em terra de ninguém e começaram logo aí lutando entre si?
Talvez só exista morte porque existe vida e vice versa. Afinal em Marte nada morre porque nada vive. Que se saiba. Talvez uma não possa existir sem a outra.
Poderemos falar em morte na ausência de vida? Não era Heraclito que dizia que a vida se alimenta de morte e a morte se alimenta de vida? Viver de morte, morrer de vida?
Poderemos falar em morte na ausência de vida? Não era Heraclito que dizia que a vida se alimenta de morte e a morte se alimenta de vida? Viver de morte, morrer de vida?
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