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quinta-feira, outubro 18, 2007

Sócrates revisitado

Se não sabemos alguma coisa, não saberíamos que é insuficiente, que é incompleto, que nos faltam outros algos pedidos por aquele que já temos. Isto é consciência do problema. É saber que não sabemos bastante, é saber que ignoramos. E tal foi, em rigor, o sentido profundo do «saber o não saber» que Sócrates atribuía a si próprio como único orgulho. Claro!, como que é o começo da ciência: a consciência dos problemas.

Ortega Y Gasset, O que é a filosofia?, Biblioteca Editores Independentes, pág. 103

Ouvi uma vez dizer alguém, supostamente citando Espinoza, que a humildade é a impotência dos fracos. Fiquei a pensar naquilo (e com muitas comichões). Então essa suposta virtude é afinal um defeito? Então a humildade não consiste no reconhecimento do quanto se é pequeno ou ignorante, ante a grandiosidade e os mistérios do universo e da existência?

Não foi Sócrates humilde, quando declarou que só sabia que nada sabia? E na verdade ao assumir essa sua ignorância, não demonstrou ele grande saber, e por isso, grandiosidade, força e magnificência? Talvez seja que a humildade nos fracos derive da impotência, e nos fortes, do saber. Mas o que é isso de ser fraco ou ser forte? Não é isso ser humano?

Um dia Karl Popper disse que “Seria desejável que por vezes nos lembrássemos que é precisamente no pouco que sabemos que somos diferentes, já que somos todos iguais na nossa ilimitada ignorância.” (*)
(*) – Karl Popper, Em Busca de um Mundo Melhor, Editorial Fragmentos, 1989, pág. 59

Portanto, ó intelectuais sapientíssimos! Ficai lá com a vossa altiva sapiência, que eu cá me fico com a minha ilimitada ignorância.

E boa noite!

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