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quinta-feira, julho 05, 2018

Ironias da História II


É triste e revoltante constatar, que cerca de seis séculos depois de os filhos de África terem sido levados em condições degradantes nos navios negreiros para as Américas onde, na condição de escravos, contribuíram para o florescimento de grandes economias, hoje a saga se repete, embora numa conjuntura diferente.”

Presidente de Angola, João Lourenço, Discurso no Parlamento Europeu (04/07/2018)

A escravatura continua a existir, embora numa conjuntura diferente. Já o tínhamos referido aqui.

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O Presidente João Lourenço sabe do que a África precisa para superar a crise estrutural e crónica de que padece: investimento directo estrangeiro gerador de emprego, um plano Marshall. Numa palavra: desenvolvimento. No entanto está consciente de que tal desígnio só se atinge a médio ou a longo prazo, facto que não se compadece com a necessidade de atacar no curto prazo os problemas humanitários que grassam no continente e que se assomam às nossas portas.

domingo, outubro 06, 2013

Tangerinas de Tânger, laranjas de Portugal

Quanta história se cruza nas ruas de Tânger – até a fruta que recebeu nome da cidade fala de séculos de intercâmbios comerciais e choques culturais. E por causa das frutas, e da geografia cultural que representam, vem-me à memória uma conversa uma vez num mercado do Irão. Eu que explicava que era de Portugal. O vendedor de fruta mostrou-me uma laranja e sorriu: “Ah, portugália”. O nome para “laranja” em persa era “portugália”.


Tangerinas de Tânger, laranjas de Portugal – e pelo meio um estreito de mar com a largura de um milénio de desconfianças, preconceitos, ódios e guerras. Que estúpidos que são os homens e as coisas em que acreditam.

Gonçalo Cadilhe, África Acima, Oficina do Livro, 2007, pp. 197-198

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O livro de Gonçalo Cadilhe é para ler com o auxílio de um bom atlas ou mapa e de uma lupa, para podermos acompanhá-lo no seu percurso e localizarmos as cidades que atravessa. Li-o num ápice. Consegue transportar-nos para África, é divertido e faz pensar. Agradeço ao autor.

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Curiosamente acabei de ler o livro numa semana marcada pela tragédia (mais uma) que se abateu sobre centenas de africanos que tentavam alcançar a ilha de Lampedusa num barco que ardeu e se afundou. Morreram centenas de imigrantes, incluindo mulheres grávidas. Prenhes de África, esperançosas de Europa. Que problema este. Que tragédia.


Estamos pois, muito longe desse tão apregoado mundo plano, aplanado pela globalização, onde supostamente existiria igualdade de oportunidades para todos. A globalização capitalista não é solução porque gera enormes desigualdades socio-económico-espaciais – polarizações, chamam-lhe os sociólogos - e são estes diferenciais que estão na origem de todos fluxos, no caso, fluxos de desesperados que pagam muitas vezes com a vida, a ousadia de sonharem com outra existência, mais promissora do que a que lhes é oferecida nos poeirentos campos de África.

sábado, setembro 28, 2013

África abaixo

Os países são feitos de pessoas, e eu acredito que a maioria das pessoas é feita bem. É feita de valores universais, que permitem a qualquer viajante sentir-se em casa quando se sente rodeado desses valores. O sorriso, a solidariedade, o bom-senso, a alegria, a música e a amizade valem mais que a corrupção, a desonestidade, o ódio, os preconceitos raciais, os estereótipos sociais. Viajarei com o primeiro grupo de valores na bagagem, para trocá-los por outros iguais ao longo da viagem. E como não os quero só para mim, depois de trocá-los, irei partilhar tudo.”

Gonçalo Cadilhe, África Acima, Oficina do Livro, 2007, p. 19


Conforta-me saber que existem viajantes experimentados que, depois de terem visto o mundo, ainda assim guardam uma confiança incondicional no ser humano, esse perigoso animal mais imprevisível do que um tubarão.

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Não é que Gonçalo acredite viver no melhor dos mundos, como o doutor Pangloss, na história de outro grande optimista. Gonçalo não é ingénuo. Mas sabe que pode aventurar-se pelo mundo com relativa segurança, uma vez que sempre existem ilhas com bons ancoradouros onde poderá abrigar-se das tempestades.


Depois de ter lido as desventuras de Serpa Pinto pelas terras da África Austral no final do século XIX, e a história da travessia de Paul Theroux no século XX, do Cairo ao Cabo, sinto curiosidade em saber como se sairá Gonçalo Cadilhe nesse continente que é encanto e desencanto, que é sonho e pesadelo, que é tudo e o seu contrário.

Vou ler.

domingo, outubro 02, 2011

A Virgem Negra da Fome


(Pascal Maitre/Cosmos)

Esta jovem mulher chama-se Howa Ali e faz parte de um grupo de uma centena de famílias somalis recentemente chegadas a Mogadíscio após uma marcha de vinte dias que custou a vida a trinta dos seus filhos. Olhando para cima, ela claramente não espera nada dos homens, nem mesmo aqueles que vêm a este abrigo improvisado para distribuir alguns alimentos ou para dar testemunho da imensidão das suas angústias. Instalados nas ruínas da catedral - destruída por militantes islâmicos em 1990 após o assassinato do bispo - os refugiados dormem sobre os escombros, sem instalações sanitárias ou tecto, e muitos deles sofrem de sarampo.
Le Figaro (tradução minha)
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Tanto sofrimento estampado nos rostos. Onde está o brilho irradiante, como nas aparições salvíficas? Ali, vislumbramos apenas a sombra da morte.
Pobres mulheres, pobres crianças.

segunda-feira, março 15, 2010

África, um lugar longe da esperança.

(MLADEN ANTONOV/AFP/Getty Images)

A África hoje, é um lugar muito longe da esperança.

Aqui, excelentemente retratada, sem o romantismo dos tempos, cada vez mais distantes, da "África minha".

Agora subsiste apenas uma ténue recordação das rubras montanhas de fogo, quando as queimadas perpétuas abrasavam as florestas na noite. Todas as noites.

quinta-feira, dezembro 31, 2009

Quem nunca pecou, que atire a primeira pedra.

Somália, 2009, Lapidação de um adúltero

quarta-feira, setembro 30, 2009

Os pigmeus Mbuti e o saque do mundo


Raparigas, cobertas de barro, preparadas para a cerimónia de circuncisão dos rapazes.

Os Mbuti são uma tribo ancestral de caçadores recolectores em pleno século XXI. O seu habitat - as florestas da República Democrática do Congo - encontra-se cada vez mais ameaçado pela desflorestação.

Se a maior parte de nós deixou, há milhares de anos, de ser caçador-recolector, os poucos que restam nos seus secretos redutos, serão forçados a deixar de sê-lo, este século. É o resultado da transformação da floresta equatorial em capital por empresários do ramo madeireiro e por governantes corruptos.

A África continua a saque, já não por colonos e exploradores ávidos de marfim, ouro e escravos, mas pelas elites dirigentes aliadas às multinacionais, ávidas de lucro e recursos naturais.

É assim que a globalização vai alimentando, desde o século XV, o saque do mundo.

segunda-feira, julho 20, 2009

Ainda o marfim...

Loxodonta africana

Vinte anos após a proibição de comércio de marfim, eis que voltam a tocar a rebate os sinos de alarme.

Afinal neste ínterim prosseguiu a caça, porque o comércio de marfim foi permitido em determinados períodos excepcionais. O suficiente para galvanizar caçadores, furtivos e autorizados, e comerciantes de marfim.

Mas, qual é a surpresa? Não relatam os viajantes a existência de lojas em Adis Abeba e em Harar, na Etiópia e no Quénia?

«O comércio de marfim era ilegal, de maneira que eu insisti no assunto. Tinha ouvido dizer que circulavam grandes quantidades de marfim de elefantes caçados furtivamente. Mas embora tivesse visto bocados dele à venda em lojas, nunca tinha visto dentes inteiros, e não sabia qual era o seu preço no mercado; na verdade embora me tivessem dito que o seu comércio florescia, em Harar e noutros pontos, não fazia ideia de que podia, muito simplesmente, entrar numa pequena loja de Adis Abeba e dizer: “Queria comprar uns dentes de elefante, por favor.”»

Paul Theroux (2002), Viagem por África, Círculo de Leitores, página 155.

Continua o saque, no coração das trevas.

quarta-feira, julho 08, 2009

Ao correr do marfim...


A devastação iniciada em África no século XIX continua, agora com a conivência e até a participação de governos corruptos, opressores do seu próprio povo. O fim do colonialismo não foi o início da liberdade, antes pelo contrário... Em África ainda não se respira liberdade e todos de lá querem sair.
E assim continua a correr o marfim... a madeira, o petróleo, o ouro, os diamantes, os animais...Tudo é consumido à velocidade da luz.
Prossegue a devastação no coração das trevas.

terça-feira, julho 07, 2009

A Nossa Força...


«Não eram colonizadores; desconfio que o seu governo se limitava a extorquir e nada mais. Eram conquistadores, e para isso bastava a força bruta - nada que seja motivo de vanglória, quando a temos, porque a nossa força não passa de um acaso decorrente da fraqueza dos outros. Apoderavam-se do que podiam só pelo prazer de se apoderarem. Tratava-se apenas de roubo com violência, assassínio agravado em grande escala e homens que se entregavam a isso às cegas, como aliás é próprio daqueles que enfrentam as trevas. A conquista da terra, que significa, sobretudo, tirá-la àqueles que têm uma cor da pele diferente ou o nariz ligeiramente mais achatado que o nosso, não é coisa bonita de se ver, se repararmos bem.»

Joseph Conrad, O Coração das Trevas

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