No século XVI os escravos negros
eram desembarcados em Lisboa em condições desumanas. Depois de serem capturados nas selvas e traficados
nos portos de África eram forçados a embarcar como animais selvagens. Chegavam “em condições terríveis «empilhados nos
porões dos navios, vinte e cinco, trinta ou quarenta de cada vez, mal
alimentados, acorrentados uns em cima dos outros». Modas luxuosas e loucas
contaminavam a cidade: tornou-se comum ter um escravo negro em casa.” (Crowley,
2016, pág. 318). Nessa Era em que se dava início ao que viria a chamar-se
comércio triangular, através do Atlântico, – armas por escravos e escravos por
algodão, café ou açúcar – o Ocidente arrancava os negros do continente africano,
com a colaboração de outros africanos, e arrastava-os para Europa e depois,
mais tarde, directamente para as fazendas e plantações das Américas.
Hoje, volvidos cerca de 500 anos,
ironia da História, são os negros que partem, expelidos pelo continente
infernal, enfrentando todos os perigos da travessia dos desertos africanos e do
Mar Mediterrâneo, também em condições desumanas, colocando em risco a própria
vida e entregam-se nos braços do Ocidente, de livre vontade, prontos a abraçar
qualquer trabalho mal pago, qualquer trabalho escravo, qualquer trabalho nas
quintas da Europa, algumas exploradas por gente mafiosa e sem escrúpulos, quase
como noutros tempos.
***
Fogem de outras guerras. O
inferno é algures em África e o Diabo só pode morar ali. Só assim se explica a
debandada dos africanos. Não são escravos, dirão, são homens. Contudo, o que
dizer sobre o que se passa na Líbia em relação aos que chegam das terras a sul
do Sara?
Vede Aqui!
Se não é escravatura, então o que
é?
***
Referência:
Crowley, Roger; Conquistadores,
Como Portugal Criou o Primeiro Império Global, Editorial Presença, 2016,
pág. 318.
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