Ao nível mais importante, somos um mamífero razoavelmente cruel, feito
para avançar, ultrapassar e destruir obstáculos. Na realidade, o obstáculo
atrai-nos magneticamente. Há algo de central em nós que prefere a dificuldade,
que procura os problemas enredados. Em última instância, isso deve-se ao facto
de os mais dotados e enérgicos entre nós saberem há muito – sem, talvez,
enunciarem este conhecimento – que a
verdade é mais complexa do que as necessidades humanas, podendo até ser
completamente alheia, ou mesmo oposta a essas necessidades.
(…)
Tenho uma certa imagem mental da verdade emboscada ao virar da esquina,
à espera de que o homem se aproxime – e a preparar-se para lhe dar uma cacetada
na cabeça.
George Steiner, Nostalgia do Absoluto, Relógio D’Água,
2003. Pág. 80 e 81
***
Habitamos num “universo, de forma alguma feito para o nosso
conforto e sobrevivência, e muito menos para o nosso progresso económico e
social nesta minúscula Terra.”(Steiner) E, segundo Steiner, essa é uma imagem assustadora.
A verdade, que tanto procuramos movidos pela curiosidade científica, pode revelar-se adversa aos interesses
humanos. A verdade pode ser um asteróide enorme, indetectado, imparável, em
rota de colisão com a Terra. A verdade pode ser outra. A sua revelação pode no
entanto, ser-nos desconfortável.
Se assim for, o que iremos fazer
quanto a isso? Deveremos negá-la?