quarta-feira, janeiro 14, 2015

A Verdade

Ao nível mais importante, somos um mamífero razoavelmente cruel, feito para avançar, ultrapassar e destruir obstáculos. Na realidade, o obstáculo atrai-nos magneticamente. Há algo de central em nós que prefere a dificuldade, que procura os problemas enredados. Em última instância, isso deve-se ao facto de os mais dotados e enérgicos entre nós saberem há muito – sem, talvez, enunciarem este conhecimento – que a verdade é mais complexa do que as necessidades humanas, podendo até ser completamente alheia, ou mesmo oposta a essas necessidades.
(…)
Tenho uma certa imagem mental da verdade emboscada ao virar da esquina, à espera de que o homem se aproxime – e a preparar-se para lhe dar uma cacetada na cabeça.

George Steiner, Nostalgia do Absoluto, Relógio D’Água, 2003. Pág. 80 e 81

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Habitamos num “universo, de forma alguma feito para o nosso conforto e sobrevivência, e muito menos para o nosso progresso económico e social nesta minúscula Terra.”(Steiner) E, segundo Steiner, essa é uma imagem assustadora.

A verdade, que tanto procuramos movidos pela curiosidade científica, pode revelar-se adversa aos interesses humanos. A verdade pode ser um asteróide enorme, indetectado, imparável, em rota de colisão com a Terra. A verdade pode ser outra. A sua revelação pode no entanto, ser-nos desconfortável.

Se assim for, o que iremos fazer quanto a isso? Deveremos negá-la?

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