sábado, janeiro 17, 2015

A Sexta Extinção, de Elizabeth Kolbert

O livro A Sexta Extinção, de Elizabeth Kolbert, foi considerado pelo New York Times um dos dez livros do ano de 2014. Editado pela Vogais, li-o em tempo record e com grande prazer, mas a edição portuguesa - 1ª edição, Junho de 2014 -  está cheia de gralhas. Gralhas de palmatória. Um tão bom livro de divulgação científica não merecia gralhas assim. Ou tratou-se de uma tradução apressada, ou de uma revisão descuidada. Por exemplo, optou-se pela expressão abrasileirada “Antropoceno” em vez do aportuguesado “Antropocénico”. Mas não é por aí que o gato vai às filhoses, até porque neste caso, o livro revela uma certa coerência, tratando por exemplo, o Cretácico por Cretáceo e por aí fora.

Segue-se uma breve lista de gralhas detectadas na primeira edição de 2014:

Na página 38, há uma referência à História Natural de Pliny (?), quando o autor dessa obra, na verdade, é Plínio. Aqui o nome não foi traduzido, coisa que já acontece na página 114, embora nessa página o nome da obra de Plínio, o Velho (23 d.C – 79-d.C.), apareça em inglês.

Na página 51, onde se lê “continuou isso mesmo” deve ler-se “não passou disso mesmo”.

Na página 81, onde se lê “uma análise genérica”, deve ler-se “uma análise genética”.

Na página 97, onde se lê “consistem de tiras”, deve ler-se, “consistem em tiras”.

Na página 101, onde se lê “tendem a estarem” deve ler-se “tendem a estar”.

Até aqui, pequenas gralhas, mas na página 118, surge uma de fazer saltar a peruca - diz-se lá, relativamente ao asteróide que terá colidido com a Terra e posto fim à era dos dinossauros, que, “Ao bater contra a península do Iucatão, movia-se a qualquer coisa como 73 quilómetros por hora…” (?). Setenta e três quilómetros por hora? Só?! Na verdade, a velocidade calculada é cerca de 73 000 km por hora.

Na página 121, onde se lê “densamente populado” deverá ler-se “densamente povoado”.

Na página 142, onde se lê “o interesse de Zalasiewicz por ratos gigantes representa uma extinção lógica”, deverá ler-se “o interesse de Zalasiewicz por ratos gigantes representa uma extensão lógica”. (Aqui trata-se claramente de um erro de simpatia).

Na página 145 refere-se que Charles Lyell, nos anos de 1930 (?), “cunhou as palavras Eoceno, Mioceno e Plioceno”. Ora acontece que o homem faleceu em 1875.

Na página 147, onde se lê “Geology of Making”, deve ler-se “Geology of Mankind”.

Na página 151, falta a expressão “que é” a seguir a “fecho de correr”.

Na página 160, onde se lê “Ulf Riebsell é um oceanógrafo e biológico”, deve ler-se “Ulf Riebsell é um oceanógrafo e biólogo”.

Na página 202, onde se lê “afídeos”, deve ler-se “afídios”.

Na página 235, onde se lê “biomos”, deve ler-se “biomas”.

Na página 257, diz-se que “a temperatura corporal de um morcego em hibernação baixa 50 ou 60 graus, muitas vezes até quase congelarem” (!). Suspeito que são graus fahrenheit e não graus celsius.

E agora o erro que considero mais crasso:

Na página 280 lê-se que “data de há 12 mil anos ou perto disso, quando os humanos modernos primeiramente migraram de África”. Deveria ler-se “120 mil anos”. É uma gralha recorrente no livro, e até flagrante.

Na página 328 lê-se “Esta teoria [“Fora de África”] defende que todos os humanos são descendentes de uma pequena população que vivia em África há sensivelmente 20 mil anos [?]. Há cerca de 120 mil anos [?], um subgrupo dessa população migrou para o Médio Oriente…”. Ora, onde se lê “20 mil anos”, deveria ler-se “200 mil anos”. Só assim tem sentido a consideração de que foi há cerca de 120 mil anos que se registou uma migração para Médio Oriente.

Afinal no próprio livro se lê, logo na segunda frase do prólogo que “esta história começa com a emergência de uma nova espécie, talvez há 200 mil anos.”

Concluindo, não devolvi o livro. O prazer que a sua leitura me deu superou a quantidade de gralhas encontradas. No entanto o leitor mais incauto pode acabar por ficar desinformado se não atentar nos erros que a tradução/revisão deixou passar.

Curiosamente, já tinha acontecido o mesmo com outro excelente livro desta editora – Breve História da Humidade, 1ª edição, Novembro de 2013, de Yuval Harari. Também nesse livro foram várias as gralhas detectadas, nomeadamente em quadros e esquemas.

No entanto descanse o leitor, pois a editora, nas páginas do copyright das obras referidas, dá-lhe uma garantia incondicional de satisfação e qualidade, referindo que o reembolsará, se não ficar satisfeito com a qualidade destes livros.

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