George Steiner, mais do que uma
vez, questiona-se e questiona-nos: como foi possível que as universidades, os
museus, os teatros, as bibliotecas, os centros de investigação, as ciências e
as humanidades, tenham prosperado na proximidade dos campos de concentração?
Como foi possível que tal grau de civilização tenha convivido, lado a lado, com
tal grau de barbárie?
Pois bem, quem se passeia pelo
Palatino, pelos Fora Imperiais e pelo Coliseu, esse colosso inaugurado em 80
d.C. com pompa e circunstância - 100 dias de circo ininterrupto, com a chacina
espectacular de todo o tipo de bichos e depois cristãos – não deixa de se
colocar a mesma questão. Como foi possível que a mesma civilização que produziu
um Virgílio, um Séneca, um Cícero, entre muito outros gigantes, tenha produzido
aquilo? O Coliseu não era um campo de concentração, não era uma fábrica de morte, é
certo, mas não deixava de ser um circo de morte, onde a chacina se convertia em
espectáculo. De lembrar ainda que o Coliseu não era único - era o maior de
muitos circos espalhados pelas cidades do Império.
Por baixo da fina película de
civilização daquela época escondia-se uma civilização esclavagista e
sanguinária que não permitia quaisquer veleidades aos escravos e muito menos
aos escravos revoltosos – 6 000, comandados pelo revoltoso Spartacus, foram crucificados
ao longo da via Ápia, só para dar o exemplo.
Analisando as histórias do mundo,
assim como o mundo no presente, não nos deixamos de questionar: que estranha
correlação é essa entre a civilização e a barbárie? Será que um elevado grau de
civilização tem sempre de conviver com um elevado grau de barbárie? Tem de ser
mesmo assim?