Enquanto faiscam relâmpagos, ribombam trovões e o
vento vergasta as figueiras. Enquanto a chuva ataca violentamente os telhados
da velha aldeia que me alberga aqui na serra algarvia, recordo com agrado o
"passeio dos tristes" do domingo passado. Venham outros assim.
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Naquele banco, ali à direita na fotografia, li
na Errata Steiner arrasar essa velha
ideia de que somos todos condicionados ora pela genética, ora pelo ambiente, como
se fossem coisas distintas. A passagem é esta:
“Os genes, a
hereditariedade ou os acidentes físico-psicológicos são o ambiente. Uma criança cega de nascença não será uma grande pintora.
Uma criança que seja fruto de gerações de subnutrição ou que nasça num albergue
de malária, está «condenada» por um ambiente herdado, por «bioconstrangimentos»
ambientais. A verdade é que a interacção é indissociável. A biologia é
ambiente: o ambiente é biologia. É de uma confrangedora hipocrisia pensar
doutro modo.”
George Steiner (1997)
Errata: revisões de uma vida. Relógio D’Água,
2009, p. 138.
Lembrei-me de Ortega y Gasset, do seu “eu” e da
sua “circunstância”. Não quereria dizer ele o mesmo?
«Yo soy yo
y mi circunstancia, y si no la salvo a ella no me salvo yo.»
Ortega Y Gasset (1914),
Meditaciones
del Quijote, Publicaciones de la Residencia de Estudiantes, Madrid, 1914,
p.43-44.
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