«Pedro Passos Coelho
garantiu esta segunda-feira [junto a Merkel] que o caminho que está a ser seguido por Portugal, no que respeita ao
processo de ajustamento, é “o único possível”.» AQUI
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E Passos Coelho insiste, insiste
e insiste… desde que chegou ao Governo que nos confronta, sempre, com o
discurso tatcheriano da suposta ausência de alternativas (Sócrates já o tinha feito,
como referimos aqui). Muitos comentadores neoliberais alimentam este discurso
do “não há alternativa”, e até Cavaco Silva aponta nessa direcção quando
defende que Portugal só tem um caminho, muito estreito, para a saída da crise.
Ou seja, encontramo-nos perante qualquer coisa inevitável como a morte.
Face a esta constatação brutal, alguns
comentadores, na sua análise, aplicam agora com agrado e fé, o modelo de Kübler-Ross à sociedade portuguesa.
Face à inevitabilidade dos sacrifícios e ao empobrecimento forçado, a sociedade
portuguesa encontrar-se-á numa das cinco fases sequenciais do referido modelo
que se aplica às pessoas, quando confrontadas com doenças terminais. São elas:
negação, fúria, negociação, depressão e aceitação. Ou seja, de acordo com este
modelo, a sociedade portuguesa acabaria, como se de uma pessoa em estado terminal
se tratasse, por, mais tarde ou mais cedo, aceitar os sacrifícios que lhe são
impostos, deixando por fim de lutar. As reacções violentas e as manifestações de
repúdio às medidas orçamentais corresponderão, segundo alguns comentadores, já
à fase da manifestação da fúria, outros referem ainda que estamos na fase de
negação, uma vez que a peleja ainda não assumiu uma maior virulência. Mas, mais
tarde, pensam esperançosamente alguns, a sociedade amansará, depois de um longo
período de depressão e por fim, como dissemos, submeter-se-á.
Ora a psicologia parece que está
na moda. Merkel na sua breve visita lembrou que “a política económica é 50 por cento psicologia”, e o jornalista Perez Metelo pegou na deixa e concluiu, por sua vez, que a visita de Merkel a Portugal foi, na verdade, 100% psicologia. A
questão é então a seguinte: como poderemos escapar a esta ditadura da psicologia
e também à outra, a que dita que não há alternativa?
Ao relermos um capítulo da obra
de Bento de Jesus Caraça, Conceitos Fundamentais
da Matemática, deparámos, por acaso, com uma resposta, na seguinte passagem
a propósito da necessidade de criar um novo campo numérico – o campo racional
-, visando a resolução de problemas até então insolúveis:
“Uma generalização passa sempre, por consequência, pelo ponto fraco de uma construção, e o modo de passagem é a
negação da negação; tudo está em determinar
e isolar, com cuidado, esse ponto fraco. O
campo desta operação não se limita às ciências matemáticas; ele abrange não só
as denominadas ciências da natureza como as ciências sociológicas; duma maneira
geral, pode dizer-se que – onde há
evolução para um estado superior, é realizada a negação duma negação.”
Bento de Jesus Caraça,
Conceitos Básicos da Matemática, Gradiva, 1998. Pág. 37
Conceitos Básicos da Matemática, Gradiva, 1998. Pág. 37
Percebemos bem? A sociedade
portuguesa está em negação? Pois é preciso passar a um estado superior, nem que
seja criando uma coisa nova, como fizeram os matemáticos com o campo racional,
e romper de vez com essa generalização da “alternativa única”, que nos querem impor
irracionalmente. Como? Negando a negação e encarando a realidade de frente. Não
dar sequência a esse modelo funesto da cientista Kübler-Ross. Que coisa nova seria essa? Por exemplo, uma saída do
Euro, ou, uma resposta educada à Sr.ª Merkel para que ficasse ela com a tranche
que nos garantiu que viria, e que a guardasse onde bem entendesse, que nós por
cá nos governaríamos, para bem ou para mal, como fizemos sempre ao longo de
quase 900 anos. Isso sim, seria corajoso! Seria trágico? Talvez. O céu
cair-nos-ia em cima da cabeça? Talvez. Mas sempre ouvimos dizer e acreditamos
que mais vale morrer de pé do que viver de joelhos. E assim, também essa última
fase do modelo da senhora Kübler-Ross ficaria
comprometida na sua realização. Em vez de aceitação, luta! Luta sempre, até ao
fim!