segunda-feira, julho 22, 2013

Cavaco, a imagem e o que se esconde por detrás dela

Há muito que o Presidente Cavaco Silva denota uma extrema preocupação com a imagem (efectivamente, estamos no século da imagem e uma imagem vale por mil palavras, mas as imagens também iludem, na medida em que, como escreveu Magritte ante a imagem de um cachimbo que ele mesmo pintou: “Ceci n'est pas une pipe. Pois não, a imagem de um cachimbo não é um cachimbo, ou por outras palavras, as imagens podem ser uma representação da realidade, mas não são a própria realidade). Pois bem, a preocupação com a imagem está omnipresente nas mensagens e nos discursos do Presidente, que parece sofrer da síndroma “o-que-irão-os-outros-pensar-de-nós-se-dermos-esta-imagem” quando deveria ser, “o-que-irá-ser-de-nós-se-persistirmos-neste-rumo”. A preocupação deveria incidir no “ser” e não no “parecer”, na realidade e não nas aparências.

Se atentarmos na sua comunicação ao país no dia 10 de Julho de 2013, lá está ela, a imagem, logo na segunda frase: “Os efeitos fizeram-se sentir de imediato no aumento das taxas de juro e na deterioração da imagem externa de Portugal”.

Já na comunicação do dia 21 de Julho, a preocupação com a imagem não aparece no discurso de forma explícita, mas sim de forma implícita, na frase: “Aos agentes económicos e aos parceiros sociais, aos investidores nacionais e estrangeiros, às instituições internacionais e aos nossos parceiros da União Europeia, daríamos a perspetiva, num horizonte temporal alargado, de que somos um País dotado de estabilidade política, que segue uma estratégia coerente de desenvolvimento sustentável.” Cá está: é preciso dar a perspectiva - ou seja, dar a imagem -, é preciso causar boa impressão, é preciso transmitir uma imagem credível de que “somos um País dotado de estabilidade política”, ainda que a realidade o desminta.

Outra frase do mesmo discurso que denota o mesmo tipo de preocupação é a seguinte: “Dispondo o Executivo do apoio de uma maioria parlamentar inequívoca, como recentemente se verificou, deve ficar claro, aos olhos dos Portugueses e dos nossos parceiros europeus, que Portugal é um país governável. Mais uma vez, a imagem, pois que outra coisa poderia apresentar-se clara aos olhos, que não uma imagem?

É preciso manter as aparências.

O problema é a realidade.

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