Há muito que o Presidente Cavaco
Silva denota uma extrema preocupação com a imagem (efectivamente, estamos no
século da imagem e uma imagem vale por mil palavras, mas as imagens também
iludem, na medida em que, como escreveu Magritte ante a imagem de um cachimbo
que ele mesmo pintou: “Ceci n'est pas une
pipe”. Pois não, a imagem de um
cachimbo não é um cachimbo, ou por
outras palavras, as imagens podem ser uma representação da realidade, mas não
são a própria realidade). Pois bem, a preocupação com a imagem está
omnipresente nas mensagens e nos discursos do Presidente, que parece sofrer da
síndroma “o-que-irão-os-outros-pensar-de-nós-se-dermos-esta-imagem” quando
deveria ser, “o-que-irá-ser-de-nós-se-persistirmos-neste-rumo”. A preocupação
deveria incidir no “ser” e não no “parecer”, na realidade e não nas aparências.
Se atentarmos na sua comunicação
ao país no dia 10 de Julho de 2013, lá está ela, a imagem, logo na segunda
frase: “Os efeitos fizeram-se sentir de
imediato no aumento das taxas de juro e na deterioração
da imagem externa de Portugal”.
Já na comunicação do dia 21 de
Julho, a preocupação com a imagem não aparece no discurso de forma explícita,
mas sim de forma implícita, na frase: “Aos
agentes económicos e aos parceiros sociais, aos investidores nacionais e
estrangeiros, às instituições internacionais e aos nossos parceiros da União
Europeia, daríamos a perspetiva, num
horizonte temporal alargado, de que somos um País dotado de estabilidade
política, que segue uma estratégia coerente de desenvolvimento sustentável.”
Cá está: é preciso dar a perspectiva - ou seja, dar a imagem -, é preciso causar boa impressão, é preciso
transmitir uma imagem credível de que “somos
um País dotado de estabilidade política”, ainda que a realidade o desminta.
Outra frase do mesmo discurso que
denota o mesmo tipo de preocupação é a seguinte: “Dispondo o Executivo do apoio de uma maioria parlamentar inequívoca,
como recentemente se verificou, deve
ficar claro, aos olhos dos Portugueses e
dos nossos parceiros europeus, que Portugal é um país governável.” Mais uma vez, a imagem, pois que outra
coisa poderia apresentar-se clara aos olhos, que não uma imagem?
É preciso manter as aparências.
Sem comentários:
Enviar um comentário