terça-feira, julho 09, 2013

Dilemas

«Cícero (106 a.C. – 43 a.C.) viveu um dos períodos mais gloriosos e perigosos da história. Por todo o mundo romano, os homens tiveram de enfrentar o maior dos problemas políticos, nomeadamente, como viver simultaneamente em paz e liberdade. À maioria dos romanos parecia, durante o transcendental meio século que precedeu à queda da República e ao triunfo de Augusto, que se tinha de escolher entre esses dois bens políticos, ambos da maior importância.

Pode-se ter liberdade, mas para isso há que sacrificar a paz. Inevitavelmente surgiriam conflitos, assim parecia, entre homens que eram livres para perseguir os seus objectivos próprios e divergentes. Também se podia ter paz, mas havia que sacrificar a liberdade, doutra forma, como poderia sobreviver a paz se não se impusesse desde cima um poder supremo que seria o único verdadeiramente livre, enquanto todos os demais sofriam o jugo da tirania?»

Charles Van Doren, Breve Historia del Saber, Editorial Planeta, 2011*
Traduzido do espanhol por AMCD

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O actual dilema português (um falso dilema) parece colocar-se entre a riqueza e a liberdade. Ou escolhemos a liberdade, abdicando de uma riqueza emprestada, porque não é a nossa, ou escolhemos a riqueza emprestada e abdicamos da nossa liberdade, porque teremos para todo o sempre de responder às exigências dos nossos credores e de lhes prestar contas. E querendo ter as duas, a riqueza e a liberdade, corremos o risco de perder as duas. O melhor será sempre libertar-nos desse lastro que é a riqueza emprestada.

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PS - A Breve Historia del Saber de Charles Van Doren está a ser uma agradável leitura. Desconhecia, até escrever este post que existia uma edição em português. Descobri ainda um interessante post de Carlos Fiolhais  sobre o livro e o seu autor, no blogue De Rerum Natura. A leitura prossegue.

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*Edição em português: Charles Van Doren, Breve Historia do Saber, Caderno, 2008

1 comentário:

  1. O dilema português não é exactamente entre a riqueza e a liberdade, julgo. Porque não é de riqueza que falamos mas da subsistência básica que será fortemente abalada e de forma muito dura para inúmeros portugueses caso escolhamos precipitadamente, num golpe imediato, o corte radical com a Europa. Mas sem dúvida, que nos tolhe a liberdade e sobretudo não nos garante a segurança que ocupava Cícero porque não há garantias incondicionais numa relação que assenta em pressupostos de rendimentos e dinheiros.

    Tenho gostado de ler o seu blog.

    Cumprimentos,

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