As condições burguesas tornaram-se demasiado estreitas para conterem a riqueza por elas produzidas. – E como vence a burguesia estas crises? Por um lado, aniquilando pela violência [hoje, leia-se, pelo desemprego] as massas de forças produtivas; por outro, conquistando novos mercados e explorando a fundo os antigos.
Karl Marx (1818-1883), «Kommunistiches Manifest», in Patrick Gardiner, Teorias da História. FCG. 4ª ed. Pág. 164.
Karl Marx (1818-1883), «Kommunistiches Manifest», in Patrick Gardiner, Teorias da História. FCG. 4ª ed. Pág. 164.
Eis a abertura dos mercados orientais, da China e da Índia e de outras chinas e índias, lá, onde a vida humana, assim como o trabalho, de tão numerosa que é se desvaloriza, como se uma lei económica caprichosamente se aplicasse também às vidas humanas, tal como ao trabalho. É nestes países, onde todos os dias os direitos humanos são pisados, que agora se instalam as empresas geradoras de riqueza no mundo – uma riqueza desigualmente distribuída, entenda-se.
É que já no século XIX, Marx havia notado:
Quanto menos habilidade e demonstração de força o trabalho manual exige, isto é, quanto mais a indústria moderna se desenvolve, mais o trabalho dos homens é substituído pelo das mulheres e das crianças.
Karl Marx, «Kommunistiches Manifest», in Patrick Gardiner, Teorias da História, FCG. 4ª ed. pág. 165
E David Landes, um historiador actual, crítico de Marx, também o nota:
A história dos primórdios da industrialização é invariavelmente uma crónica de trabalho árduo por baixo salário, para não falar de exploração. Uso esta última palavra, não no sentido marxista de pagar ao trabalho menos do que o seu produto (que outro modo haveria de o capital receber a sua recompensa?), mas no sentido significativo de obter mão-de-obra compulsória de pessoas que não podem dizer «não» - de mulheres e crianças, escravos e semiescravos (os involuntários servos da gleba).
David Landes, A Riqueza e a Pobreza das Nações, Gradiva, 6ª edição. Pág. 427.
É claro, que actualmente tal só ocorre nalguns lugares do mundo.
Numa versão mais actual desta evidência, os que realmente pagam a factura da globalização económica e financeira (leia-se, do desenvolvimento da "indústria" moderna), os mais fracos, já não são as mulheres nem as crianças das sociedades ocidentais, mas sim os ingénuos e oprimidos trabalhadores do outro mundo – esse a que convencionaram chamar de Terceiro, como se não tivéssemos nada com aquilo.
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