«O verdadeiro problema não é que o dinheiro possa levar as mulheres “de
honra” e homens “de palavra” a fraquejar, como se diz. O escândalo começa, sim, quando, para funcionar, o dinheiro enquanto
capital pressupõe sistematicamente a fraqueza de homens e mulheres que têm de
se colocar no mercado. Eis o fundamento funcional-imoralista da economia
industrial de mercado. Esta inclui sempre no seu cálculo o estado de
necessidade dos mais fracos. Funda a circulação contínua do lucro na existência
de grandes grupos que não têm praticamente outra opção senão “comer ou morrer”.
A ordem económica capitalista assenta na
possibilidade de espremer os que vivem constantemente em situações de excepção
actuais ou virtuais, isto é, de espremer os seres humanos que terão fome amanhã
se não trabalharem hoje, e que amanhã não terão trabalho, se não aquiescerem
hoje ao que impudentemente se exige deles.»
Peter Sloterdijk (1983),
Crítica da Razão Cínica, Relógio
D’Água, 2011, p. 401
A Cáritas disse, ontem, mais ou menos isto (claro, com outra linguagem), o que é um avanço inesperado relativamente ao que Dom Policarpo tinha dito ("a sociedade aguenta tudo")...
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