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«Entre a Trafaria e a Lagoa de Albufeira ocorre uma arriba que chega a
estar cerca de 1 km afastada da linha de costa actual, expondo sedimentos
depositados nos últimos 20 milhões de anos. A arriba estabelece o limite entre
a planície litoral actual e uma plataforma litoral antiga, presentemente mais
de 80 m acima do nível do mar. Apesar do conteúdo fossilífero dos sedimentos que a constituem, a arriba é denominada como “fóssil” por ter estado no passado em
contacto directo com a erosão marinha que a formou. Esta arriba é a única em
Portugal devido à sua extensão, boa exposição e grau de conservação, motivos
que estiveram na base da criação da área protegida com o mesmo nome, em 1984.»
Paulo Pereira,
Universidade do Minho
in José Brilha e Paulo Pereira (coord.), Património Geológico, Geossítios a Visitar em Portugal, Porto
Editora, 2012, p.77.
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Junto à Arriba Fóssil da Costa da
Caparica, esse monumento geológico, passeámos na praia, qual “costa de cinco
estrelas transformada em desaguadouro de terceiro mundo” nas preconceituosas
palavras da nossa mui estimada Clara Ferreira Alves*. E tudo porque no Verão a
turba suburbana invade o areal, que não merece (sentirá ela), que isso de
praias de cinco estrelas não é para qualquer um. Só para VIP como ela.
Quem a lê atentamente (e nós gostamos de a ler) não deixa de reparar nesses tiques quase imperceptíveis de sobranceria intelectual, tão comuns entre a suposta intelectualidade urbana, ante as populares massas turbulentas, terceiro-mundistas, dizem eles, dos subúrbios. Não repararam contudo, que já a urbe se mudou para suburbia e que a suburbia se mudou para a urbe, sendo hoje os suburbanos tão ou mais urbanos que os próprios urbanos. Na verdade, hoje, essa distinção entre o urbano e o suburbano esbate-se e perde sentido. A cidade estende-se cada vez mais e engole o subúrbio (ou será que é o subúrbio que engole a cidade?). Vivemos já na era da cidade-região e a Margem Sul, não é mais do que Lisboa a Sul do Tejo, estendendo-se até às faldas da Arrábida, e as pontes sobre o Tejo não são mais do que uma espécie de avenidas de Lisboa, sem margens. O Cristo-Rei está já no meio de Lisboa.
Quem a lê atentamente (e nós gostamos de a ler) não deixa de reparar nesses tiques quase imperceptíveis de sobranceria intelectual, tão comuns entre a suposta intelectualidade urbana, ante as populares massas turbulentas, terceiro-mundistas, dizem eles, dos subúrbios. Não repararam contudo, que já a urbe se mudou para suburbia e que a suburbia se mudou para a urbe, sendo hoje os suburbanos tão ou mais urbanos que os próprios urbanos. Na verdade, hoje, essa distinção entre o urbano e o suburbano esbate-se e perde sentido. A cidade estende-se cada vez mais e engole o subúrbio (ou será que é o subúrbio que engole a cidade?). Vivemos já na era da cidade-região e a Margem Sul, não é mais do que Lisboa a Sul do Tejo, estendendo-se até às faldas da Arrábida, e as pontes sobre o Tejo não são mais do que uma espécie de avenidas de Lisboa, sem margens. O Cristo-Rei está já no meio de Lisboa.
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(*) Clara Ferreira Alves (2005), "O Grunho Lusitano" in Clara Ferreira Alves, Estado de Guerra, Clube do Autor, 2012, p. 35.