Desde a revolução industrial nascida das minas de ferro britânicas, a
metalização da sociedade adquiriu ainda uma nova dimensão. Simultaneamente, a
exploração do interior da terra dá um salto. Nascem então minas gigantescas que
descem até às profundidades mais negras das entranhas da terra. Os mineiros
tornam-se o exército-fantasma da civilização industrial – exploradores explorados;
os operários da siderurgia tornam-se a tropa de elite do ataque capitalista
contra a crosta «avara» da terra. Finalmente, a economia moderna capitaliza
todas as riquezas naturais do subsolo e, por milhões de penetrações, de perfurações
e de extracções, faz avançar a guerra mineralógica contra a crosta da terra
para queimar as riquezas extraídas ou para as transformar em utensílios e em
sistemas de armamento. Quotidianamente, as civilizações industriais condenam à
morte milhões e milhões de seres vivos e milhões de toneladas de substâncias. Nelas se consuma a relação mantida com a terra pelos senhores saqueadores das
civilizações ocidentais.
Peter Sloterdijk, Crítica da Razão Cínica, Relógio D’Água,
2011, p. 444.
A difusão planetária da industrialização
generalizou a guerra contra a Terra. Já não é apenas uma questão entre as
civilizações ocidentais e a Terra. Os saqueadores estão por todo o lado e o
saque realiza-se já em todos os espaços civilizacionais, incluindo os das
civilizações não ocidentais, emuladoras do Ocidente. Com a Revolução Industrial, o saque, que já antes se iniciara, agudizou-se, tornou-se virulento e
pandémico.