A diferença entre o espaço controlado e o espaço incontrolado é a diferença entra a civilidade e a barbárie.»
(…)
«Em primeiro lugar, ao longo da história da modernidade, a fronteira entre a civilidade e a barbárie nunca coincidiu com as fronteiras do Estado-nação e, menos ainda, com a circunferência partilhada da “parte civilizada do mundo” no seu conjunto. Hiroshima varreu os bárbaros “lá fora”, mas Auschwitz e o Gulag, os bárbaros “cá dentro”. (…) Em nenhum momento da história moderna foi permitido aos bárbaros ficarem em paz “ficando à porta”: eram objecto de desprezo, espiados e desenraizados de uma maneira razoavelmente caprichosa que não deixava de evocar o carácter caprichoso que lhes era, a eles, atribuído por definição.»
(…)
«Bem vistas as coisas, e talvez originariamente, houve sempre um selvagem aprisionado no íntimo de cada ser humano civilizado.»
(…)
«Em segundo lugar, também não é rigorosamente verdade que “a fronteira entre civilidade e violência já não pode ser encontrada no limite do espaço territorial soberano”. As guerras ortodoxas e passadas de moda “entre nós e eles” são travadas e continuarão a ser travadas durante algum tempo mais sob as bandeiras da santa cruzada da civilização contra a barbárie, da paz contra a violência.»
Zygmunt Bauman (1995). A Vida Fragmentada, Ensaios sobre a Moral Pós-Moderna. Relógio de Água, 2007. Páginas 150-153.
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