Frases enigmáticas, escritas provavelmente por algum
anarquista, de fugida, numa noite muito escura. Frases que nos desafiam de
propósito, e, portanto, frases que gostamos de desafiar.
Eis uma das frases:
“O futuro é passado no presente”
Este “passado” é importante pois pode referir-se ao decorrer,
e nesse caso a frase diz-nos que o futuro decorre no presente. Ou pode
referir-se tão só ao que já ocorreu, ao tempo antes do presente. E aqui
surge um paradoxo: como é que o futuro se pode considerar tempo antes do
presente? A frase presta-se a diferentes interpretações e conduz-nos ao paradoxo.
Na verdade, o presente é o futuro do passado. Esta
ideia está expressa no excelente livro de Ivan Krastev (2020), O Futuro por Contar, Objectiva, na página 18. Diz ele:
A diferença entre o passado e o
presente é que nunca podemos conhecer o futuro do presente, mas já vivemos o
futuro do passado.
Eis outra frase que lemos nas paredes, provavelmente escritas
pela mesma pessoa, pois a letra era a mesma:
“O dinheiro que salva também mata”
Por que não o contrário? Ou seja: o dinheiro que mata
também salva.
O “também” é de extrema importância
na frase, assim como a palavra que surge no fim. Na frase inscrita na
parede, o dinheiro é um malvado, pois no fim acaba por matar. Na frase que
proponho o dinheiro no fim também salva. Acaba por ser uma visão mais positiva
de um meio que é o dinheiro. O dinheiro não tem culpa. O uso que dele se faz é
que pode ser questionável. Atirar no dinheiro
é atirar ao lado.
Mas ainda assim, as referidas frases
inscritas na parede são frases-pontapé. Frases que nos fazem pensar, nos
interpelam e desafiam.
Mas como dizia Nanni Moretti: le parole sono importanti!
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