segunda-feira, abril 25, 2022

 Ditadura nunca mais!


25 de Abril, sempre!


Mas o desenvolvimento e a democracia* ainda estão por cumprir.


O elevador social? 

A maioria, levou-os do rés-do-chão ao 1º andar, enquanto os ricos do costume subiam do 10º ao 50º.

Qual elevador social?

Prossegue ainda a reprodução social.

O filho do pobre, pobre será e o filho do rico, rico será.

Pesa uma dívida enorme sobre a cabeça dos nossos filhos,

Criada pelos que nos desgovernaram.

Ditosa pátria.

Equipar as Forças Armadas. Pois.

Quem pensam que somos nós?

O país com uma das maiores dívidas do mundo

tem de se defender. Não serão os outros a defendê-lo.

O país com uma das maiores dívidas do mundo

não é um Estado vassalo.

Mas o cobertor é demasiado pequeno: tapamos o peito, destapamos os pés.

Vamos equipar as Forças Armadas, pois.

Ou serão carreiras e salários o que mais importa?

O ordenado dos generais e dos marechais?

(Quantos generais e almirantes, meu Deus.)

Ou serão os canhões e os porta-aviões?

E o que vamos nós destapar, rica pátria?

A Educação, a Saúde, a Segurança Social?

Deixem-me rir.

O país com uma das maiores dívidas do mundo.

E se começassem por pagá-la?


É o que me apraz dizer no dia de hoje.

Lamento.


Que cantem, pois.

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(*) "No seu sentido mais forte, democracia significa um poder que não tem representação, que é exercido diretamente. O sistema representativo, tal como funciona na Europa desde o século XIX, foi criado por medo da democracia. A ideia subjacente é a de que o poder das massas, ou da maioria, é perigoso. E o sistema representativo surge para impedir o que seria uma democracia efetiva. É qualquer coisa como um ‘assunto de família’: um pequeno número de eleitores que escolhem um ainda menor número de representantes. No século XIX, com a extensão do sufrágio, criou-se uma situação que é totalmente ilegítima: o casamento entre representação e democracia. Assim surge este sistema misto que não é democrático e que também não é verdadeiramente representativo. Criou-se algo que ia contra a democracia, a saber, uma classe de políticos profissionais, de gente que é especialista no poder. Ora, isto é contrário à democracia, assim como à própria lógica do sistema representativo que supõe uma proximidade entre o representante e o representado. Este sistema ilegítimo dá, por sua vez, um enorme poder aos governos."


Jacques Rancière, Expresso, Revista E, 22 de Abril de 2022, p.46.

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